O CIGARRO Escondo no cigarro as palavras... Jorge Gaspar

O CIGARRO

Escondo no cigarro as palavras
palavras que deposito no caderno
Que companhia tão eterna
os 5 minutos de um cigarro
A companhia de quando quero estar só.
Só, mas acompanhado
Das palavras
Do pensar
Do cigarro.

Como é possível me sentir tão inculto
Tão pouco eu
Tão iníquo e contrario a mim
Sou tudo menos eu quando penso
Pensando só, sem o cigarro.

No cigarro escondo a identidade
A minha, e a de todos
De todos os que tenho em mim
Os meus.

São meus os pensamentos
São meus os sonhos
Estes ultimos que cada vez menos são
E eu menos são.

Caminho e vagueio
Olhando o nada
E o Nada olhando para mim
Talvez pensando que sou tanto como ele
Sem o cigarro na minha mão

Penso que sem pensar
não sou nada para além de um corpo
Mas só sem pensar sou um corpo imune á dor
imune ao sentimento

Ao mesmo tempo que o cigarro me faz pensar
Acalma a dor
Acalma-me
Deixa de pesar
A cabeça deixa de pesar
tanto, pelo menos
E eu penso em mim e no que sou
Concluo, porém, sempre
que sou nada.

E os outros?
Que acharão eles de mim.
Esses monstros
que julgam
que olham
que riem
que me acham diferente por eu sorrir
sem querer sorrir
e so por fora sorrir.

Era bom morrer.
Era bom sonhar de novo.
Mas um sonho eterno
Um sonho para viver.

E viverei, sem dúvida
com o cigarro na mão.
com o cigarro na boca.
E a caneta no papel.