Ditadura da Felicidade Foi esse o tema... Sílvia Tibo
Ditadura da Felicidade
Foi esse o tema de uma da exibições do programa “Na Moral”, comandado por Pedro Bial, na Rede Globo. Atraída pelo assunto, fiz questão de ficar acordada até tarde para acompanhar e saborear a discussão.
Além de instigante, o título escolhido foi bastante pertinente. De fato, embora muitas vezes não tenhamos consciência disso, vivemos, sim, submetidos à ditadura da felicidade. Basta olhar ao redor. É ela (a felicidade) quem nos governa, quem dita as regras a serem seguidas. É ela, enfim, quem está no comando.
Dia desses, em meio a uma conversa descontraída com um amigo, fui surpreendida com a seguinte pergunta: “Qual é, pra você, o sentido da vida?”.
Ingenuamente, respondi que aqui estamos, todos nós, em busca de amadurecimento, na esperança e com o objetivo de crescermos e evoluirmos, tornando-nos seres humanos melhores.
Percebi que o amigo me olhou torto e a impressão que tive foi de que, lá no fundo, ele se sentira injuriado com a minha resposta. Penso mesmo que ele se segurou para não dizer que eu estava completamente enganada, que não era nada daquilo, que o sentido e a razão da vida eram a busca da felicidade. E foi assim que, quando lhe devolvi a pergunta, ele respondeu, com entusiasmo: “Estamos aqui para sermos felizes. Estamos todos em busca da felicidade”.
E aquele bate-papo me fez refletir sobre o quanto somos reféns dessa tal felicidade. Sim, porque tudo o que fazemos é em prol dela. Parece ser ela a finalidade de todos os nossos projetos, de todas as nossas atitudes, de todo o nosso esforço e até das nossas economias.
E onde estará ela, afinal? Alguém aí, por acaso, já a encontrou?
Na sociedade em que vivemos, é comum que a felicidade esteja associada à aquisição de algum bem de consumo. Fica-se feliz com a compra de um carro novo, com a troca do apartamento, com a tão sonhada viagem à Europa. Ou mesmo ao se ganhar um sapato novo, aquele vestido que vinha sendo paparicado na vitrine ou o CD da banda favorita.
Mas a felicidade vai bem além disso. É algo imaterial, que não pode ser tocado. É um estado de espírito, que precisa ser diariamente exercitado para ser mantido. Deveria ser encarada como consequência natural de nossas atitudes, e não como resultado necessário delas.
Em outras palavras, não se trata de correr atrás de um determinado sonho “para ser feliz” ou “com o objetivo de ser feliz”. Melhor é persegui-lo, com unhas e dentes, por crer que aquele é o melhor caminho a ser seguido. A felicidade é que venha, espontaneamente, se e quando puder, e não a qualquer preço, porque ela, na verdade, não tem preço.
Enquanto estivermos nessa busca incessante e desvairada pela felicidade, ela continuará nos dominando, controlando nossos passos e cerceando nossa liberdade. Continuaremos, sim, sob seu comando.
Encaremos a vida como uma excelente oportunidade de crescimento. Pratiquemos o bem, cultivemos o amor ao próximo. Sejamos honestos e humildes. Tomemos o caminho que nos pareça mais adequado. E deixemos que a felicidade venha naturalmente ao nosso encontro, sem cobranças, sem exigências, mas apenas como resultado das escolhas certas que fizemos.