Então ele foi até a varanda, sentou-se... Ana Mendes
Então ele foi até a varanda, sentou-se na sua cadeira de balanço e lentamente embalou. Estava com o cabelo cada vez mais branco, ajeitou o óculos e percebeu quantas rugas já haviam nas suas mãos. E por alguns segundos resolveu dar sentido a cada uma delas, ao final viu que havia muitas rugas, mas pouco sentido para elas. E pensou... se soubesse que iam ficar assim, teria feito cada uma delas valer realmente a pena.
Havia aquela noite que ele não aproveitou direito, aquela viagem que ele sonhava em fazer e não fez, o curso que ele não terminou, aquele amor que ele desprezou, o emprego que o decepcionou, a família que ele não se despediu direito e o filho que ele não teve. Houve tempo para fazer todas essas coisas, havia vida nele o suficiente para ter feito, mas não fez. Agora os olhos com lágrimas fixaram a rua deserta, por alguns instantes com o olhar acompanha os cachorros que ali passavam velhos e sozinhos como ele, ele nem sabia, mas para ele o tempo parou. Com muita força resolve se levantar pra ver o grilo que pousou na sacada, e conversar com ele.
-Sabe... talvez eu pudesse fazer algumas coisas diferentes mesmo, mas agora acho que não ia conseguir, as minhas penas doem e já não me sinto bem o suficiente. Meu amigo Grilo acho que vai chover, escureceu tão depressa que não percebi, mas tanto faz agora, com chuva ou com sol os meus dias são sempre os mesmos. Se tu pudesses pelo menos cantar um pouco, não me sentiria tão sozinho.
O grilo pulou na grama e ele voltou a sentar-se, ficou esperando mais um dia terminar. Recordando do tempo que passou sem sentido e como de costume mais uma vez chorou.
Ana=) Mendes