Preciso lhe contar, meu caro amigo. Eu... Alice Andrade
Preciso lhe contar, meu caro amigo. Eu desisto. Desisto de ser refugio, desisto de ser abrigo. Dentre canções, dentre emoções, dentre, dentro... Não saia, por favor. E para cantar não precisarei de voz. Para dançar, não necessitarei das pernas. Apenas de você... Dentre, dentro. Não sou flor de plástico, desgastar-me então, perdendo pétalas, talos, deixando espinhos. O sol, o sorriso, só risos, o só rir, entristeceu. E não tenho mais tempo, meu trem, meu bonde, meu coração, está para partir às dez. E me perco entre os bancos acolchoados, a nitidez do vidro, as folhas das árvores que sapateiam. A melodia é valsa, mas elas não respeitam. Passa-me na cabeça o corte dos tocos, a fumaça desgastando os olhos, a rouquidão da canção. O sapateado vira medo, absorve-se, se calam. E me fazem chegar a conclusão de que nenhum final é feliz. Nem o nosso.