Como parar aquele trem desgovernado que... Giovannak

Como parar aquele trem desgovernado que decidiu que não precisava de freios? Como controlar aquele monstro que acordou com aquele passo em falso que a gente deu sem querer, aquele esbarrão que provocou um ruído, provocando o acordar da besta? E se eu tentasse arrancar isso de mim com todas as forças que me restam para tentar construir com os restos algo real e mais bonito? Seria falso. Porque todas as vezes que eu fugi, e tornei a fugir, só foram fugas mal-planejadas de mim mesma, e não importa quantas vezes eu corra e tente sair daqui, eu simplesmente não vou conseguir. E sabe por qual motivo? Porque está dentro de mim. Esse mal, essa solidão, esse sentimento indesejado está gravado em mim, faz parte do meu eu. E seria terrível dispensar, de tal forma, ou diminuir, rebaixar, desprezar algo que é meu. É autodestrutivo demais, cansativo e degradante. Não que eu preze a auto-estima, o ame a si mesmo em todos os momentos. Eu sei que devo. E, de certa forma, amo. Mas amo do meu jeito, aquele jeito quebrado, errado e até mesmo confuso, que muitas vezes faz minha cabeça dar voltas pelo mundo tentando entender onde está o problema. É raro dizer que compreendo. Sempre digo, aliás, mas é para poupar outros de um esforço sem caminho algum. E quando vago solitária por entre pensamentos mortos, sinto que chego quase a entender. Um fio de esperança, do pode ser que, passa devagar pela minha pele, subindo para a mente, percorrendo cada ponto até repuxar o canto dos meus lábios em um meio sorriso. E por isso valorizo o quase, porque o quase é melhor que nada. Então vou me definir como quase. Tentar me amoldar com quase possíveis personalidades, quase acertos, quase amor, quase breve-entendimento, quase alguém. Mesmo que esse alguém seja quase ruim. De certa forma, sugiro, que eu comece a esclarecer minhas dúvidas do quase. Porque a certeza ás vezes é dura demais e destrói em um segundo qualquer dúvida que a gente tinha, aquele pedacinho de esperança que restava, aquele sonho que foi pisado, chutado, arranhado, mas que continuou ali, apenas para ter a chance de brilhar um pouco quando a dúvida aparecesse. E a certeza estraga tudo isso. A certeza de que não vamos conseguir, a certeza do fim de algo, a certeza da morte, da perda, da saudade, a certeza de que o mundo é um poço de mistérios sem fim que percorre mentes perdidas. E eu sou um quase. Porque o quase é mais belo que todas as certezas do mundo.