Fico pasma com a fugacidade que as... Edna Goetten
Fico pasma com a fugacidade que as pessoas deram ao amor. É impressionante como que com poucas semanas de relacionamento, os amantes já se declaram apaixonados, fazem juras de amor eterno, declarações pra quem quiser ver e ouvir. Ainda mais nos meios digitais, flogs e orkuts. Efêmeros “eu te amo”…
Tudo bem que quando se tem 15, 16, 17 anos, você realmente acha que é completamente apaixonada por aquele garoto e que nunca, jamais, em hipótese nenhuma vai deixar de ser. Mas quando você ultrapassa duas décadas, as coisas mudam de perspectiva. Falar “eu te amo” toma uma dimensão muito maior. Quando você diz que ama alguém, quer dizer que admira absolutamente tudo naquela pessoa. Você ama as qualidades positivas, mas, principalmente, conhece as negativas e mesmo assim continua apaixonado. Sabe aquelas coisinhas irritantes em qualquer pessoa do mundo? Pois é, na pessoa amada elas são coisinhas irritantemente lindas.
Amar não é ser cego, mas é saber que ninguém é perfeito pra ninguém, que todo mundo é passível (e como!) de erros, e que mesmo amando de verdade alguém você não está livre de magoá-lo. E acho que no fundo, tudo se baseia nisso: magoar e ser perdoado. Porque perdoar alguém que te machucou de verdade, ah, isso sim é amor.
Eu sempre fui uma pessoa muito romântica, dessas à moda antiga, que sonham com serenatas na janela, buquês de rosa em dias comum, declarações ao pé do ouvido, luz de velas e tudo o mais que os filmes românticos propagam. Mas eu não acredito no amor à primeira vista. Paixão sim, mas amor é muito maior.
Amor não aparece do nada, e nem vai embora do nada. Amor é aquele estágio pós-paixão, quando você começa a conhecer todos os defeitos da pessoa e mesmo assim quer continuar junto. É quando você começa a pensar no plural, o singular não existe mais. É quando você pára de sonhar e começa a realizar. Amor se conquista. Amor se aprende, é um exercício constante.
Porque dizer que ama é fácil; difícil mesmo é provar. E eu não falo de declarações explícitas, presentes caros e beijos apaixonados. Tudo isso tem de ser conseqüência. Amar é cuidar quando a pessoa fica doente, assistir aquele filme chato com cara de feliz, é trazer aquele doce gostoso na tpm, é olhar nos olhos e já saber o que a outra pessoa está sentindo, é sorrir só de vê-lo sorrindo, é abraçar e dar o ombro pra chorar sem perguntar absolutamente nada, é brigar feio e mesmo assim ainda querer ficar com ela, é se sentir preenchido.
E acho que você nunca deixa de amar uma pessoa. Quando um relacionamento termina, não é porque você nunca a amou (entenda aqui que estou me referindo a relacionamentos e amor de verdade). Mas é porque o amor se tranformou em algo diferente, como amizade. Amor de verdade não desaparece. E não apenas o amor romântico, mas todos os tipos de amor, especialmente a amizade.
Vamos lutar contra a banalização do “eu te amo”. Porque “eu te amo” não é “bom dia”!