É possível se apaixonar por letras? Eu... Nani Nascimento
É possível se apaixonar por letras? Eu me apaixonei.
Ele foi extremamente sedutor, falou-me de Fucaut, Russeau, Aristóteles, Drummond de Andre e até latim usou, expos ideias e contou-me sobre a esfera dessas; por ele fui apresentada a criminosos e a heróis, passei pela história, antropologia, filosofia e sociologia; vi atrozes sofrimentos e a sutileza com que a justiça deve ser tratada por conta da sua manifesta fragilidade; ao seu lado perdi inúmeras noites, adentrei nas madrugadas; tive afáveis emoções e revoltas truculentas, assim compreendi com um pouco mais de luz o círculo em que subsisto e o que se arvora em meu íntimo; conheci ilustres nomes e revisitei outros tantos; ergui com ele ideologias, construi sonhos e, mesmo que silenciosamente, defendi causas.
Cada vez mais queria estar próxima, conhecê-lo melhor; diariamente me olvidava, por certo período, de tudo o quanto circunscrevia minha volta para fortalecer nossos laços, para que pudéssemos discutir nossas idéias, conversar sobre o mundo, sobre o homem e sobre as leis. Ah! E como isso me fazia bem! Ele saciava minha fome, e cada vez que a saciava ela renascia maior; eram novas perguntas, que exigiam novas repostas, novas inquietações, que precisavam ser apaziguadas.
Porém, como nenhum amor vive apenas de abstração, surgiu em mim a necessidade humana; a que clama por olhares, sorrisos, cheiro, mãos, lábios, braços, faces, todavia, mais do que tudo palavras, afetuosas palavras, palavras só minhas, que fluem diretamente de seus lábios para meus ouvidos ou de seus dedos para meus olhos, de você para mim.
Sim! Sigo movida por palavras, por suas palavras, apenas por palavras...