Hoje eu escolhi ser a mocinha do filme,... Ana Paula Rocha
Hoje eu escolhi ser a mocinha do filme, a queridinha do público, literalmente uma bonequinha de luxo.
Quero dizer, se eu puder ser alguma das categorias... no final das contas, eu me dou esse direito. Vou encenar o meu espetáculo agora, sem me importar com os críticos que me vigiam o tempo todo.
Vou me render as viagens de mim mesma: quero começar tomando meu chá, e assistindo aquele filme antigo que me faz sentir uma esperança, de ser igual a protagonista, incluso com todos os seus luxos. Ser criança, entrar nos livros e tentar encenar a menininha espivitada que se desperta com um beijo de amor. Vou me atrever a seguir contagiante como alguém capaz de percorrer todas as ruas da cidade luz, e pronunciar Je t'aime para vida!
Passei o canal. Assisto, ainda com meu chá, um musical. Sou voz e violão, corpo e dança. Começo a dançar a cada toque suave ao qual meu parceiro me submete, canto, me expresso e se necessário rasgo a roupa para ganhar aplausos do meu público. Broadway, Hollywood, começo a percorrer a calçada da fama. Sou estrela do meu teatro.
Arquitetei o meu figurino: Ora sou princesa, ora sou vilã; Vesti vestidos antigos, roupas de freiras e fantasias de heroínas. Quero me maquiar com todas as cores da minha maleta de maquiagens, mostrar que sou capaz de interpretar vários papeis, se eu quiser.
O cenário tão bonito: Escolhi o mundo para atuar. Quis passar por Europa, ter overdose de todos os mimos, guloseimas roupas e afins que me encantavam por lá. Me rendi aos continentes, vivi em alto mar! Conheci todos os lugares, fui todos os personagens.
Me entreguei ao ato de encenar, a amar, desfrutar, ou qualquer outra palavra que por um instante me transportasse ao meu mundo de sonhos um tanto quanto fúteis para quem não sabe o valor deles; Fui criança, cresci, morri, e compreendi através da minha televisão o quanto pude alcançar todo o repertório que mora dentro de mim. Todas as imagens, todos os roteiros, ainda quero dirigir; Quando desligo a tv, não ignoro meus novos papéis. Vou viver a vida lá fora que está chamando uma realidade distante, mas que não me faz desistir de encenar em um novo dia as infinitas pessoas que posso me tornar, baseadas em fantasias tão puras ardentes e quem sabe imprudentes; mas acima de tudo, totalmente minhas.