Minha mãe. Um texto não precisa... Marinho Guzman
Minha mãe.
Um texto não precisa exaurir uma ideia, assim como uma iguaria não precisa matar a fome.
A morte é o fim e pode ser também o começo, a religião não foi feita para ser entendida, devemos aprender a ler os sinais do Criador para acreditar que não estamos aqui por acaso.
Depois disso, dá para escrever essas linhas sem a preocupação de que mais de noventa anos de vida possam ser resumidos em algumas palavras.
Minha mãe partiu!
Apesar do o triste e doloroso último ano ela não tinha nenhuma doença e não queria morrer. O brilho nos olhos durou até o último suspiro e espero que ela já tenha encontrado aqueles a quem amou e de quem teve as melhores lembranças.
Muitos vivem, alguns deixam um legado e a saudade é personalíssima, podendo ser dolorosa para uns e gostosa para outros.
O legado deixado pela minha mãe vive dentro de mim como sempre viveu. Sou capaz de lembrar-me dela desde os meus cinco anos de idade, me acompanhando nas lições do colégio, com muito rigor e com doçura.
Lembro-me dela por toda a vida deixando de lado a sua para acompanhar a minha. Lembro-me do seu desespero quando na rebeldia dos meus vinte anos, ameacei deixar a escola e ela me convenceu a continuar.
Lembro-me da mãe guerreira que cuidou da casa sozinha e ainda trabalhou, dando aulas particulares de piano na casa dos alunos, poupando-os do trajeto que ela fazia sem reclamar.
Lembro-me da sua alegria de encontrar um novo companheiro, com quem viajou todo o mundo por várias vezes e de quem falava sempre com muito carinho em vida e depois que ele partiu.
Lembro agora e sempre lembrarei, que a parte boa de quem sou veio dela.
Não estou triste. Com a convicção que ela tinha que ao partir reencontraria seus queridos, breve estaremos juntos novamente.