Segredos e lendas do coveiro Chico Moura... André Júnior

Segredos e lendas do coveiro Chico Moura

Recordo com muita facilidade de todos os dias de finados da minha infância e juventude ! Dois ou três dias antes do dia 2 de novembro , começavam os preparativos ! Os Cemitérios ganhavam vida , isso mesmo , vida ! Ficavam floridos , jazigos eram lavados , pintados outros reformados , tudo ficava belo ! Eu morava no interior e na minha cidade há dois cemitérios , um no centro da cidade , e outro , um pouco mais afastado ! Eu visitava os dois ! Aproveitava pra vender velas e flores ! Por lá encontrava os amigos e familiares visitando os entes queridos , cada túmulo , um papo com alguém que por ali estava levando flores ou cuidando dos jazigos ! O clima era diferente , atmosfera leve , as conversas com tom sublime , o respeito era notável , nos olhos das pessoas havia um brilho diferente , as vezes eu queria perguntar o porquê da intensidade do brilho em seus olhos , mas não tinha coragem de perguntar ficava tímido , pois podia ser segredo delas ! As recordações acabam por vir , lembranças de historias , lendas e causos , alguns tristes outros engraçados , é recordado também a importância e a falta que a pessoa falecida nos faz ! Eu notava que a palavra que eu mais ouvia era “ Saudade “ acho que é por isso que há tempos acho essa , a palavra mais linda da língua portuguesa , foneticamente é maravilhosa ! Então eu aprendia muito nessas visitas aos cemitérios no dia de Finados ! Aprendi que devemos valorizar e muito nossos amigos , parentes , filhos , pai , mãe, avós , tios , enfim , todos do nosso convívio ! Pois um dia estaremos com uma rosa na mão e sentindo uma imensa Saudade ! Lamúrias , choro , em alguns momentos arrependimentos e claro saudade , era o que eu notava por lá ! O dia de finados serve também pra entendermos nossa história , pra sabermos que a morte é algo natural , e que começamos a morrer no momento em que nascemos ! Hoje sei o quanto é bom viver com intensidade , sem queixas , sem lamentos , mas sim , com muita vida , e que não devemos colocar idade na vida da gente e sim colocarmos vida em nossa idade ! Nesse dia de finados quero visitar os cemitérios , visitar meus entes queridos e também um jazigo de um homem que se chamava Chico Moura ! Não poderia deixar de citar um texto que li quando eu era Coroinha na Igreja , nessa época eu havia completado 12 anos de idade ! Quero compartilhar com vocês ! Autor : Padre Juca !
Há quem morra todos os dias.
Morre no orgulho, na ignorância, na fraqueza.
Morre um dia, mas nasce outro.
Morre a semente, mas nasce a flor.
Morre o homem para o mundo, mas nasce para Deus.
Assim, em toda morte, deve haver uma nova vida.
Esta é a esperança do ser humano que crê em Deus.
Triste é ver gente morrendo por antecipação...
De desgosto, de tristeza, de solidão.
Pessoas fumando, bebendo, acabando com a vida.
Essa gente empurrando a vida.
Gritando, perdendo-se.
Gente que vai morrendo um pouco, a cada dia que passa.
E a lembrança de nossos mortos, despertando, em nós, o desejo de abraçá-los outra vez.
Essa vontade de rasgar o infinito para descobri-los.
De retroceder no tempo e segurar a vida.
Ausência: - porque não há formas para se tocar.
Presença: - porque se pode sentir.
Essa lágrima cristalizada, distante e intocável.
Essa saudade machucando o coração.
Esse infinito rolando sobre a nossa pequenez.
Esse céu azul e misterioso.

Ah! Aqueles que já partiram!
Aqueles que viveram entre nós.
Que encheram de sorrisos e de paz a nossa vida.
Foram para o além deixando este vazio inconsolável.
Que a gente, às vezes, disfarça para esquecer.
Deles guardamos até os mais simples gestos.
Sentimos, quando mergulhados em oração, o ruído de seus passos e o som de suas vozes.
A lembrança dos dias alegres.
Daquela mão nos amparando.
Daquela lágrima que vimos correr.
Da vontade de ficar quando era hora de partir.
Essa vontade de rever aquele rosto.
Esse arrependimento de não ter dado maiores alegrias.
Essa prece que diz tudo.
Esse soluço que morre na garganta...
E...
Há tanta gente morrendo a cada dia, sem partir.
Esta saudade do tamanho do infinito caindo sobre nós.
Esta lembrança dos que já foram para a eternidade.
Meu Deus!
Que ausência tão cheia de presença!
Que morte tão cheia de esperança e de vida!

Bom , depois de recordar o texto do Padre Juca , vou contar um segredo aqui , segredo que guardo há muitos anos : Eu visitava os cemitérios , mas sabia que antes das dez horas da manhã as almas dos mortos não estavam por lá ! Então quem visita o cemitério antes das dez da manhã na verdade não visita ninguém , pois todas ás almas daquele cemitério estão na missa em homenagem á elas , nenhuma alma falta , todas participam , a missa sempre começa ás nove horas da manhã , do dia dois de Novembro , na Capela Nossa Senhor Aparecida ! Portanto eu só chegava ás dez e trinta , antes disso , não colocava os pés dentro daquele cemitério , sabia que não havia uma alma se quer por lá ! Lenda ? Talvez sim , mas , pelo sim pelo não , prefiro não arriscar ! Quem me contou essa história foi o coveiro que por mais de 30 anos trabalhou e morou naquele cemitério , ele morava com a esposa , não tinha filhos , sua casa ficava bem no encontro dos muros do cemitério , ao lado de um pé de manga Sabina , mangueira que até hoje ainda está por lá ! Ele me disse certa vez , que no dia de finados , ás 8 horas da manhã em ponto , na última das 8 badaladas do sino da igreja , tudo fica quieto , o silencio predomina , os pássaros param de cantar , os cachorros se escondem e um vento chega , esse vento começa brando quase imperceptível , aos poucos vai ganhando força , faz um redemoinho gigantesco e vai embora , isso tudo bem rápido , em minutos ! Esse redemoinho , são as almas se juntando para irem a missa , dizia ele ! Ele também me disse , que todos os túmulos que não era visitados por parentes ou que não recebia flores , ele pegava flores nos túmulos que recebiam muitos vasos , e colocava nos túmulos onde não tinha , fazendo isso , acabava com a desigualdade que infelizmente existe até após a morte ! Hoje , quando visito o cemitério visito o tumulo do seu Chico Moura , claro , levo flores , e coloco em cima do seu jazigo , ele morreu há dez anos , não há noticias de sua esposa , mas , o pé de manga ainda está por lá testemunhando muitas lendas e guardando todos os segredos daquele cemitério ! Se essa Historia é verdadeira ou não , o coveiro Chico Moura , levou esse segredo para o túmulo ...!

A cultura de dedicar um dia para homenagear os mortos varia muito de localização ou religião, mas segue os princípios do catolicismo, pois a partir do século XI, os Papas Silvestre II , João XVII e Leão IX passaram a exigir tal celebração !


André Junior - Escritor Literário
Membro - União Brasileira De Escritores - UBE - Goiás