Nunca me importei com suas idas e vindas ou com seu jeito...

Nunca me importei com suas idas e vindas ou com seu jeito desinteressado. Na verdade me encantava com a ausência de preocupação que você tanto aparentava, tudo estava bem, tudo ia ficar bem. Eu sempre fui muito preocupada, sempre fazendo planos e correndo atrás de objetivos. Viver a vida sem se preocupar com o amanhã só acontecia quando eu estava ao seu lado. Você me trazia aquela sensação ardente de que tudo era possível, e eu gostava disso.

Não me importava de ser sua melhor amiga ou de conhecer todas aquelas namoradas que já nem me lembro mais os nomes. Victoria, Laura, Fernanda, Beatriz, Julia, Maria, ahh, várias Marias. Quantas vezes me peguei imaginando "Por que não eu?", mas logo afastava esse pensamento tão sombrio. Eu era amiga, só. Aquelas faíscas que saíam em nossos olhares eram apenas.. Faíscas. É, faíscas de amigos. Amigos também sentem admiração um pelo outro né? É, acho que sim.

Você mudava tanto quando estava no centro das atenções; queria se mostrar confiante, feliz, realizado consigo mesmo. Não estou dizendo que isso era algo errado a se fazer, mas sabia que viver de aparências não dura pra sempre? Acho que hoje você sabe disso. É, você sabe. Suas namoradas passageiras foram o reflexo dessas suas atitudes, passavam rápido como uma estação no ano. Sem deixar marca alguma, apenas histórias. Sem significar nada, apenas aparências. Comigo você era diferente, você era.. Você. Era sensível, frágil e às vezes chorava como uma criança carente. Acho que ninguém nunca viu o quão incrível você era por dentro.

Eu gostava de te desvendar, de conhecer cada sorriso e cada olhar. Sabia que às vezes você era um idiota? Você era meu idiota preferido. Arrogante, egoísta e idiota.

Te amei desde o primeiro dia em que te vi. Naquela tarde de verão acho que jamais imaginaríamos que estaríamos juntos pelos próximos 8 anos. E eu sempre estive aqui, com você. Tá certo que tentei mudar o rumo da minha vida por muitas vezes, tive alguns namorados os quais tentava amar, tentava mesmo. Mas eles não eram suficientes, eles não eram você. Me odiava por comparar meus namorados com meu melhor amigo, qual era o meu problema? Depois de anos de negação acho que tenho a resposta. Nunca quis ser só sua amiga.

Mas você sim, sempre fez questão de me colocar no meu lugar. Fazia questão de me apresentar todas suas namoradas e de ressaltar que eu seria madrinha dos seus casamentos que só ficavam em promessas. Nunca me importei, eu sabia que o carinho que você tinha por mim era maior do que tudo aquilo. Ligações de madrugada, cartas enormes e mensagens reveladoras. Sempre fomos mais do que qualquer casal comum.

Assistir comédias românticas se perguntando que dia sua vida seria assim. Resposta? Nunca. Se eu estivesse num filme você também me amaria de volta, nós seríamos felizes e teríamos cinco filhos. Mas não, qual a graça nisso certo? Muito melhor dispensar namorados atrás de namorados e ver a pessoa que você ama flertando com a garçonete em um jantar.

Mas e aquelas faíscas, hein? Nosso abraços não eram simples abraços, eram palavras querendo sair de nossas bocas silenciosas. Suas mãos adoravam se encontrar com as minhas e seus lábios cada vez estavam mais perto dos meus. Meu estomâgo se infestava de borboletas, passáros, insetos e de todos animais a cada toque. Ai que mulherzinha! Agradeço aos meus anos de teatro pois eu conseguia disfarçar isso muito bem, bem até demais.


"Eles falavam muito pouco do que sentiam um pelo outro: não havia necessidade de frases bonitas e pequenas atrações entre amigos tão experientes.''


Você nunca percebeu o que eu sentia e eu fazia questão de parecer o mais indiferente possível. Elogiava mulheres na sua frente e dizia que não acreditava no amor. Você sempre tão inocente, nunca passou pela sua cabeça que eu podia te ver como um homem? Nunca passou pela sua cabeça que o motivo de nunca termos dado certo com ninguém era que nós estávamos destinados a ficar juntos?