A maravilha da cozinha! Não sabia que a... Sandro Sansão da Silva...
A maravilha da cozinha!
Não sabia que a cozinha representasse tanto assim em nossas vidas. Muitos menos que fosse um elo tão importante entre a união estável de um casal. Lembro-me das noites às escondidas nas pontas dos pés, saltava a geladeira.
Meu alvo preferido era as latas de leite condensado, onde sempre ficava um furinho discreto no canto, e o resultado era a lata vazia. Pela manhã amanhecia com dor de barriga, e a famosa desculpa que não sabia de nada, talvez fossem meus irmãos; que tiveram tomado, “eu” de maneira alguma. Para não cometer o erro de bater na pessoa errada; todos nos apanhávamos de minha mãe que ficava sem fazer o pudim, mas que surra gostosa que era, e por sinal muito saborosa.
Lembro também daquela velha desculpa que minha mãe dava, na segunda feira começo o meu regime. Mas nunca especificou qual segunda seria essa, e muito menos em que ano se tratava. O fato que sempre a geladeira ela atacava. Ainda fica na memória a fera indomável de meu pai, ao chegar do serviço e a famosa frase a comida esta pronta?
Se a resposta fosse que sim. Em dez minutos saciava-se sua fome como poucos fazem, e um olhar de satisfação por casar com uma mulher tão prendada na cozinha assim como minha mãe.
A cozinha não era somente lugar de matar a fome, mas também de prosear. Lembro que sempre que a comida estava com um cheiro ótimo, assim como o bolo de fubá que exalava pela vizinhança, tinha uma vizinha que logo tratava de fazer sua visitinha. Com o papo mais manjado que nota de um real. Oi vizinha como anda as coisas por ai?
- Estão bem, graças a Deus! Quer entrar beber alguma coisa, ou provar do bolo que estou fazendo.
- Se não for incomodar?
- Imagina, não será incomodo nenhum.
- Então ta.
E assim ficava a tarde toda, só saia quando o prato estava vazio, e a velha desculpa que nunca acerta a mão como minha mãe na hora de fazer a massa. Eu sei que isso seria desculpa para visitar sempre que sentir o cheiro de bolo no ar, ou qualquer outra comida saborosa que minha mãe fizesse.
Percebi também que a cozinha se tratava de um lado intimo de cada um. Por exemplo, uns tinha medo de entrar na cozinha e não conseguir resistir e dar aquelas beliscadas na geladeira, para saciar sua gula, o famoso olho gordo e depois bater o arrependimento, com aquela pergunta que não sai da cabeça, não devia comer aquilo. Mas com um prazer indiscutível de matar sua vontade.
Outros entram e saem tão depressa que não dá tempo de comer nada, a não ser tomar um copo de água gelada, às vezes é da torneira mesmo. E tem aquele que todos morrem de inveja, o famoso come tudo e não engorda nada. Esse sempre recebe apelidos invejosos que existe uma anaconda em sua barriga que faz a sua digestão.
Ainda não citei aquelas velhas reuniões de família, que sempre acaba na cozinha, e apertos de mão e principalmente de bochechas e sarro de outro parente que não esta fazendo parte da reunião daquele momento.
E como esquecer as festas de final de ano, que antes mesmo de esperar dar a hora da ceia, sempre tem um primo gordinho que ataca a mesa primeira, como o papo que tem que acordar cedo para ir embora então tem que ser o primeiro a comer. E assim puxa a fila daqueles que estão de olho desde o começo da perna de peru, que por sinal fica sempre com o tio espertalhão e comilão.
Na verdade a cozinha é à parte mais vivida em uma casa, e acaba resumindo uma parte de nossas vidas, a sala fica sendo a segunda parte, que costumo chamar sala de repouso dos comilões exaustos. Que termina assistindo um vídeo caseiro e a gargalhada da velha guarda e suas bocas de sino, e cabelos Black
Power. Justamente nessas horas você fica sendo o alvo principal, com senas pitorescas e de perguntas sem pé e sem cabeça. Mas a vida segue seu curso e a cozinha mesmo nos tempos de hoje, ainda é o cômodo mais importante de uma casa. Mesmo crescido e agora casado, lembro-me de varias cenas que jamais serão esquecidas com minha mulher. Principalmente nos finais de semana onde fazíamos comidas juntos e acabávamos lambuzados com sorriso de felicidade e ali mesmo fazíamos amor. Ou aquelas noites um sem se falar com outro, entre um abrir de gaveta e outra; cotovelos se encostam um olhar meio de lado, dava aquele beijo gostoso inesperado pegava ela no colo e derrubávamos tudo e íamos para o quarto, quando dava tempo ou então pelos cantos da casa mesmo.
Sempre foi assim, a cozinha faz presente a todo instante de nossas vidas. Hoje com filhos presente, faço a famosa oração em volta da mesa, e todos ali contam como foi o seu dia, o que o Junior aprendeu de novo na escola, o que minha linda mulher fez de especial, como foi meu serviço e se pelo meio do caminho encontrei alguém, e assim se vai nossa vida, que por meio de dificuldades muito bem vividas, na maravilha da cozinha, do nosso humilde e aconchegante lar, doce lar.