O tempo não me prende. Não sou ligada... Raquel Paixão

O tempo não me prende. Não sou ligada a datas, embora reconheça que tenham sua importância.
Sempre me senti um tanto deslocada quando, no meio de um papo, alguém diz: eu conheci você em fevereiro de 98.
Confesso que quando ouço algo assim, fico fazendo as contas mentalmente de quantos anos eu tinha. Eu nunca sei, exceto se a pessoa se referir ao ano que nasci ou ao atual.
Acho interessante e assumo que era algo que gostaria de possuir: uma memória arrumadinha com prateleiras cheias divididas por anos. Tudo bonitinho, pois é assim que vejo quem consegue se lembrar de datas. A pessoa vai lá, abre uma pastinha e pronto! Lá estava ela em outubro de mil novecentos e sei lá o que.
Era algo que queria gostar como mate, banana, beterraba, e não passo nem perto.
Isso acontece, porque meu tempo é tecido com fios de cada agora. O agora que tenho nas mãos e me é tão precioso.
O meu tempo é medido por sensações e emoções.
Pelo que fez meu sorriso se acender, o olho brilhar, pelo que me apertou o coração e me fez chorar.
Pelas vezes que morei num abraço, me vesti de amor, gratidão e reverência por Deus e a vida.
Tudo o que marcou minha historia está aqui, guardado e sempre acessível pela memória do coração.

Raquel Paixão