Desatino Quando a vi pela primeira vez,... Cristina Deutsch

Desatino

Quando a vi pela primeira vez, eu imediatamente percebi que ela tinha tudo para vir a ser a mulher da minha vida. Sua aparência fantástica, e seu jeito apaixonante e seu requebrado simplesmente encantador, sua maneira carinhosa de se expressar e sua ternura infinita para comigo eram tão convincentes que nunca teria me ocorrido à idéia de que tudo (exceto sua aparência) era uma mentira somente um jogo, e eu para ela era na verdade nada mais nada menos que a meta para realização de seus planos.
Eu estava 23 anos quando viajei com um amigo para o Rio de Janeiro, para passar férias de julho a estação do ano era o inverno, mas dele por sorte não tivemos um dia. Na praia conheci Marisa uma morena linda de cabelos bem volumosos e encaracolados e com a pele bronzeada um presente concedido por este sol maravilhoso que brilha e regi esta cidade divina. Ela foi desde o início, tão doce e tão decente e, reticente que cai de amor por ela e isso no primeiro encontro.
Como estava desempregada perguntou-me se poderia ficar comigo no apartamento que eu e meu amigo havíamos alugado, completamente envolvido e dominado por sua maneira deliciosa de se ver e sentir, aceitei sua companhia e nos tornamos inseparáveis, uma semana se passou e eu embriagado de amor,ela também confessou seu amor por mim e eu parecia com esta revelação estar em outro planeta em outra dimensão,aproveitou meu entusiasmo e insistiu para nos casarmos rapidamente, mas isso não era assim tão fácil pois meus pais já tinham conhecimento de meus sentimentos por Marisa e eram contra a união realizada sobe o impulso da volúpia e impensadamente.
As férias terminaram e eu viajaria de volta a Noruega, já nos primeiros dias para mim estavadecidido que a queria e desejava mais que uma criança um brinquedo que jamais terá. Entretanto, seis meses depois retornei ao Brasil com os papéis do casamento na bagagem e como não queria e não podia perder tempo fomos neste mesmo dia ao cartório da cidade para agendar o nosso casamento,trinta dias depois o grande dia, o que se realizou com a presença de seus familiares e conhecidos de minha parte somente um tradutor. Para evitar gastos desnecessários fiquei hospedado na casa modesta de seus pais, para dizer a verdade às condições da moradia eram lastimáveis e eu até então não havia vivido em terríveis circunstâncias.
Era verão e o calor do Rio de Janeiro é de lascar, mesmo não me sentindo bem com todo aquele desconforto, adorava as pessoas que ali viviam e as outras as quais fui convivendo enquanto aguardava o visto para minha agora esposa, para mim estava mais que certo, eu teria como obrigação ajudar pelo ao menos meus sogros, assim não seria possível continuar vivendo, como residiam no subúrbio a praia tronou-se para mim passeios de sábado ou domingo, mesmo com muita dificuldade para me adaptar a tanta pobreza, não reclamava e procurava acompanhá-los e viver o dia a dia daquelas pessoas.
Eu não contava do visto demorar tanto para sair estávamos três meses casados e o dinheiro que eu havia trago certamente acabou e recorri a meus genitores, que prontificou se a me – ajudar, sendo que deixaram bem claro. Quem casa quer ter casa,e eu teria que arranjar assim que retornasse a Noruega um trabalho e uma moradia mesmo que pequena para nós dois. Eu não esperava de meus pais agirem desta forma, mas errados eles também não estavam, afinal de contas eu não aceitei a opinião deles e entrei de cabeça numa situação para a qual eu acreditava estar preparado. Todas as despesas fazia eu sozinho, pois no mesmo terreno havia outras moradias nas mesmas condições e o que começou com cinco pessoas, no final de três meses somava um total de dezesseis pessoas,um perdeu o emprego o outro não recebia mais o auxilio desemprego e assim por diante,percebi que na verdade não queriam nada com a vida e minha esposa ficava zangada se eu algo de gênero falasse. Minha passagem venceria e eu achei melhor viajar, mesmo sem a companhia de Marisa para ir organizando nossas vidas e foi o que fiz. Viajei e falava com minha esposa umas duas vezes na semana, com o passar dos dias fui me acostumando e só telefonava de quinze em quinze dias, arrumei um emprego com ajuda de meu pai num banco e prontifiquei a melhorar a pobre casinha,etc..
Eu deixei por conta de minha esposa a tarefa de correr atrás do visto, e sempre a mesma conversa,ainda não veio mais estar em andamento. Neste meio tempo peguei novamente com ajuda de meus pais um empréstimo no valor de vinte cinco mil euros, dez tirei para alugar um quarto e sala próximo ao banco onde trabalhava e os quinze mil restante depositei em nome de minha esposa. Eu estava feliz mais nervoso com a demora do visto, cansado, pois já passaram se mais quatro meses,liguei para o consulado norueguês no Rio e tomei conhecimento de que o visto de minha esposa já havia sido liberado e isso há quase seis meses, foi um imenso choque, não podia ser
verdade,pois assim sendo,eu estava nesta época vivendo naquele barraco e isso sem necessidades,todavia fiz de boa vontade e o dinheiro que gastaria em noitadas em bares, discoteca,restaurantes e aluguel na zona sul mesmo que em sua companhia,investi em alimento para dezesseis pessoas,disso não me arrependo.
Fiquei desolado desesperado, liguei novamente pro consulado e quis saber como foi feita a comunicação sobre o visto e me foi respondido: através dos correios, isto é, por carta. Não queria e não podia aceitar que aquela mulher sensata e meiga estaria apenas brincando comigo e me neguei acreditar que ela havia recebido esta correspondência, não resistindo à curiosidade procurei localizá- la através do telefone de um vizinho e me foi dito que ela estava para Noruega, pedi para falar com seus pais o que não era uma tarefa muito fácil, pois não falam inglês e muito menos minha língua e eu muito pouco do português. Chamei novamente o consulado e foi confirmado que Marisa havia tomado posse do visto e isso há quase seis meses,larguei tudo não seria possível concentrar-me no trabalho depois destas cacetadas inesperadas. Procurei um tradutor para o português e liguei novamente para o Brasil, falei com sua mãe e ela me disse que não sabia do paradeiro da filha,tudo que sabia é que ela viajou a quase duas semanas para Noruega, mais surpreso fiquei com esta novidade.
Não sabia o que fazer e o pior é que deixei meus sogros com a noticia de não saber do paradeiro de sua filha completamente desesperados. Não dormi aquela noite e por ajuda celestial esta avalanche de discórdia despencou-se na sexta feira e com isso tinha o fim de semana para tentar com ajuda de meus familiares conhecidos e amigos uma resposta para o ocorrido. Como era de se esperar cada uma das pessoas envolvidas deram uma sugestão e esta foi a que seguir, fui ao departamento policial da minha cidade e registrei a queixa de desaparecimento da minha esposa passaram-se os dias e eu estava no trabalho quando fui detido por dois policias,rebelei-me contra aquela apreensão, não tinha feito ou agido ilegalmente então por que estavam me algemando como um bandido? Ao chegar a delegacia recebi a noticia que daria tudo, mais tudo mesmo para não ter ouvido. Marisa foi encontrada morta há 60 quilômetros de minha cidade, e por descrição de seus familiares as roupas que trajava quando encontrada era a mesma que saiu do Brasil no dia em que viajou, não encontraram nada,nadinha,mas como eu tinha deixado fotos de minha esposa em poder da policia,sabiam que era ela a mulher estrangulada. Não sei o que aconteceu e o porquê não ter me falado sobre o visto, como também não me avisou que estaria vindo ao meu encontro, tudo que sei é que fui condenado e cumprir oito anos por um crime que não cometi, durante todos esses anos me perguntei:o que você fizeste de errado Marvin para merecer este triste destino? Não sei também se errei, tudo o que sei é que amei demasiadamente e sofri o peso da minha imaturidade,culpado me senti varias vezes pela morte de minha esposa, pensando bem,ela nunca teria comprado uma passagem aérea se eu não tivesse lhe mandado tanto dinheiro,talvez ela quisesse mesmo me fazer uma surpresa, como tomei conhecimento bem depois do vulcão de desgraças ter explodido em minha vida. Talvez minha vida tivesse seguido outro rumo e Marisa continuaria vivendo sua vidinha de antes e eu não teria perdido oito anos da minha vida,limitado em todas as minhas necessidades enquanto quem nos causou tremendo dano permanece livre e por ter sorte curtindo a vida,pois este individuo tem que ter muita sorte,para cometer um crime bárbaro e não ter sentido na pele o peso de sua crueldade. Hoje deixo por detrás deste imenso portão oito anos da minha vida,tenho que começar de novo,mas como? Em meu currículo faltam oito anos e mesmo que eu não queira,sou um ex-presidiário, viúvo,carente,triste e o pior de tudo é não saber se tenho capacidade ou disposição de usar o que acabaram de me dar ”Minha liberdade” já que estou preso a meu passado.

Obs: Este conto foi selecionado no concurso Prêmio Literário Cidade de Porto Seguro – Contos Curtos/2009,para participar da coletânea (Presidiária)