Primeiro Sentir. No início termina, no... Alexandre Morais.
Primeiro Sentir.
No início termina, no fim começa. O começo sela o final. Descobre-se no primeiro contato a luz irradiada do certo, se for o certo mesmo. O certo lírico, o certo que reflete a sua vontade emulsificada pelos olhos. Não que termine transbordado em lágrimas, nem sempre. Se faz o final no início pela atração e pelo fôlego que foge e, ao tentar alcançá-lo é ai que o perdemos mais ainda, é mais rápido e rebelde, não preocupa com o nosso bem-estar e nos leva a exaustão de tanto puxar o ar comprimido que se esconde do coração e não mostra sua cara, leva-o ao desespero e ao medo de não sobreviver, por isso aperta firme, com as mãos, a garganta, a fim de se segurar e não cair na mentira. Tecendo os panos dos dias, com cuidado de anjo. Se entregar é deixar a carcaça ir e a sua alma ficar, pois esta é perdida do controle próprio e passa a ser cuidada pelo surreal que é a confiança depositada na leveza do outro. Um outro que é apenas outro. Outro simples, nada complicado, normal. Com suor nas veias e sangue na pele. De boca que beija e braços que se apertam. De olhos que se fazem no horizonte esbelto e claro. Das mãos que no frio aquecem suas bochechas, pois põem-se a perder calor, esforçadas a estarem sempre largas para namorarem escondidas o seu sorriso. Outro igual, de defeitos bons. Defeitos que procuram sentar, escutar e aprender com nossas qualidades e vice-versa. Por isso da certo, é gostoso. É no meio que tem infância, descobrimento, que tem ousadia. No meio retrocede, se faz adulto por fora, perde a maldade por dentro criança. Conhece a paz apresentada pela sua voz baixinha, docinha e meiguinha. A saudade dos momentos em que se sentam e sentem o gosto da fruta de só estar perto. A angústia da distância que se conhece da vontade, não de correr, mas sim de chorar, para poder escorregar e chegar mais rápido ao outro, mesmo se no caminho rasgasse a pele. Junto na caminhada o desejo incendiário, de chamas ardentes de carne. A vontade de não querer, mas ao mesmo tempo permanecer. O desistir quer entendimento e sempre quer trazer sua aliada, a tristeza, mostram a ilusão que é desistir. Abaixam a cabeça, afogam os olhos e desabam os lábios, tudo com muita força, crueldade e cheiro de morte. Por isso desistir nunca deve caminhar e sim correr para bem longe. O encanto desperta a admiração, trás o respeito, acalma a paciência, apoia a verdade. Todos querem estar perfeitamente juntos com o encanto. O encanto ao ir embora, o riso dos demais segue-o, deixa a lembrança dos problemas de cada um. No final só começa porque não há mais nada para viver.