[...]Tudo o que ela sentia era um vazio.... Juliane Coutinho
[...]Tudo o que ela sentia era um vazio. Na verdade, ela não sentia. Se sentisse, seria nada. Passava as manhãs e as noites observando o céu como se estivesse à procura de algo, qualquer coisa que lhe trouxesse à tona alguma emoção. Os dias não eram fáceis nem difíceis, mas também não eram vividos. Escurecia e, no céu, não se conseguia observar estrelas, apenas nuvens. Nuvens essas que quase tampavam-no por inteiro. Todavia eram elas que não o tornavam obscuro em sua totalidade. Ao amanhecer, via-se a aurora, o que ela observava também no pôr do sol. Uma pena. Uma pena que nem mesmo esse belo fenômeno causasse mudança em sua expressão facial. Era fria. Parecia estar morta, mas em vida. Ela não desejava mais voltar a ser como foi. Ela nada mais desejava. Anteriormente, acreditava que o sofrimento deveria fazer sempre parte da sua vida, sua antiga vida, pois era só isso que acontecia a ela: sofrimento. Ah, mas por quanto sofrimento essa pobre garota já havia passado! Porém ninguém sabia por qual razão ela, um dia, sofreu tanto. Como era triste! Fixou tanto essa ideia, que adquiriu todo o sofrimento como sendo uma parte de seu corpo. Já não podia mais abandoná-lo. Mas isso era antes. Agora, ela é o próprio vazio. Pobre menina.