Eram 19. Duas horas a mais. 120 minutos... Barbara Melucci
Eram 19. Duas horas a mais. 120 minutos e ela não sabia ter raiva. Nem eram precisas aquelas duas, havia tido horas suficientes pra ter. Como se cada hora de espera tivesse um equivalente em raiva, mas nela não. Nela sim, mas com ele não, pra ele não. E se não sentia raiva, o que sentir? Sentir amor, naquele momento, seria inapropriado demais. Humilhante não podia ser a palavra, pra ela que não sentia-se humilhada por mais que as circunstâncias a forçassem. Era isso o amor? O impecilio da humilhação? A ferrugem no transformador de espera em raiva? Quão desejável podia ser um sentimento que fazia-na ser tão idiota sem o menor esforço? E se não exigia esforço, por que ter raiva? Ela sentia amor ainda sendo tão inapropriado. Na escada vazia, oca e ecoante ela sentia amor e não sabia como, não sabia por que, antes disso não sabia o que fazer dele. Se tivesse raiva quebrava alguma coisa, se sentisse humilhação descia os degraus e ia-se -pra nunca mais voltar-, mas amor? Não há nada a se fazer com amor numa escada oca e ecoante. Ante. Ante. Ante.