SOLIDÃO À DOIS... No início éramos... Janna Teixeira
SOLIDÃO À DOIS...
No início éramos um
nossos corpos se completavam
nossas mentes andavam conectadas
nossas palavras se somavam
os beijos eram energéticos da alma
o amor irradiava por nossos olhos
os sonhos de eternidade nos sustentavam
...a inveja alheia nos seguia
Apressados nos casamos
uma ou outra noite não era o bastante para tanto desejo
escovas unidas, armários divididos,
uma cama para dois parecia um mundo
éramos um,
restava espaço!
Nossa felicidade incomodava
nossos sorrisos e olhares constrangiam os desafortunados
...àqueles que desconhecem a paixão
Inocentes nos expomos,
colocamos à mesa nossas emoções
queríamos dividir com todos o grande banquete do amor
mas a acidez desgraçada dos que desconheciam seu deleite,
lançou sobre nós um azedume que escorria intenso
e que gota a gota nos atingiu
Trabalho, responsabilidades, contas à pagar,
o cansaço no fim da noite,
um 'amigo' sussurrando insinuações
outro, apresentando um mundo de opções
e o amor, de sentimento melindroso,
decidiu ficar de lado para que o desapego nos atingisse
Nesse momento a cama diminuiu...
Nada de flores, surpresas e ligações inesperadas,
ou mesmo um Eu te amo, com o olhar pronunciado
...os lábios fecharam-se,
as mãos não mais se tocavam,
as palavras perderam a direção,
os sonhos esbarraram na realidade
o conto de fadas tornou ao imaginário
sorrisos saciados nos seguiram
...o desgosto alheio nos abateu
Programas destintos,
horários que não se cruzavam,
datas que foram esquecidas
e nós que éramos um, fomos rasgados em dois...
O silêncio à mesa, ali não se servia mais a paixão...
Pensamentos distintos, uma muralha que nos separava
a cama minúscula, cada um de um lado
Nosso quarto, antes um refúgio para o amor
ainda infestado pelo prazer que ali se fez cobiçado
hoje foi transformado em um mundo de contrição,
e nós dois que de um, viramos nada,
e de nada, insistimos em sermos dois
vivemos desde então nesse espaço exilados,
acomodados e possuídos
pela irremediável solidão!