Então, onde está este Amor que se quer... Clara Furtado

Então, onde está este Amor que se quer tanto? Por onde anda?

De uma forma bem racional que tenho em doses altas não procuro neuroticamente em cada rosto, não fico insistentemente falando da outra metade me lamentando por estar só, não estou ansioso e nem tampouco preocupado, vivo tranquilamente, embora e é estranho, tanta saudade sinta de quem nem sei ao certo quem é, onde mora, quais feições exatamente tem seu rosto e modos o seu jeito de ser. Então, às vezes, inevitavelmente me pergunto cadê e por onde anda e me pego, sem querer, sendo pego e sem escapar daquele jeito tão humanamente passional e emocional, não resistindo e imaginando se aquele alguém qualquer para quem fixo o olhar num exato instante, não seria o tal que tanto penso e não sei quem é, aquele do qual tem a inédita capacidade de me fazer real e plenamente feliz, sem enrolações ou frustrações; consigo usar incrivelmente meu imaginário e enxergar um trilhão de faces e jeitos de ser ao fechar meus olhos, como um computador super potente, quando somente um, no meu íntimo, consegue me parar e chamar de verdade a minha atenção e intenção, aquele do qual sinto uma enorme falta e só eu sei.

E embora não me apegue a esta ideia sufocante de solidão e busca pelo Amor, consigo sentir uma nítida falta, assim, nas entrelinhas da vida, disfarçadamente e sem desassossego algum, de alguém que nunca esteve e não está fisicamente do lado, mas está comigo só porque sei que o Amor pelo qual desejo, em algum lugar existe, só pra me fazer feliz de um jeito mais completo como ainda não fui e mesmo não procurando e nem dependendo deste Amor, o aguardo com todo o meu sentimento guardado, assim como também sei que o que ele sente por mim é exatamente a mesma coisa, assim, desse jeito tão intenso e verdadeiro, sem nem ao menos me conhecer, mas sabendo e sentindo que eu estou aqui e existo para ele.