Acordei sem voz. Eu gritava, e não... Alice Andrade
Acordei sem voz. Eu gritava, e não conseguia colocar nada para fora. Algo apertava-me a garganta impedindo que o ar entrasse e as dores saíssem. Ainda estão aqui, junto com a minha rouquidão e a falta de ar. Por dentro despedacei, como aquele papel que caiu na poça de água em quanto puxava o celular da bolsa. Me desfiz completamente, mas só por dentro. Me olhando de outro ângulo, ver somente uma menina rígida, sem pena, sem compaixão. Mas sangrando e estremecendo com as calafrios que a chuva causou e o sol não conseguiu mandar embora. Que sol? Ainda espero por ele, nem sei mais se existe… Acho que ceguei-me para uma vida movida pelo calor. As minhas mãos estão frias, os pés também. Mas é um frio vindo de dentro para fora, que congela e me faz nevar. Pois, permito que neve, não faço esforço para instalar aquecedores. Assim, com essa temperatura tão baixa, ordeno-me construir um iglu e fecho-me lá dentro. Congelo-me por inteiro.