E mesmo inquieta, eu havia decidido que... Karol Amorim

E mesmo inquieta, eu havia decidido que aquela seria a última vez. E talvez as coisas mudem, enquanto eu me encontro aqui parada, esperando que elas realmente tomem o rumo certo e que nada seja como aconteceu da ultima vez em que resolvi agir sem pensar por pelo menos umas trezentas vezes, como de costume penso antes de tomar alguma atitude. Será que é mesmo certo esperar alguma atitude de quem não parece voltar? eu fico imaginando que com você possa acontecer como vem sendo comigo. Mas se for diferente do que sinto? O que os outros vão pensar? Sabe de uma coisa? Já faz um tempo que eu não venho me importando com o que as pessoas começaram a falar de mim depois que você foi embora e eu sorrio de tudo isso. E elas me acham maluca. Mas eu sorrio porque eu sei que demorou um tempo, mas você também sorriria o quanto eu ao saber que eu não me importo mais. E ás vezes eu sorrio sem chorar depois mesmo que tudo o que as pessoas falem seja um fato. É fato de que você não vai voltar agora, mas eu não quero colocar a cabeça no lugar e dormir, porque meu sono não seria sossego e seria um enorme pesadelo acordar e lembrar que eu ainda tenho um dia inteiro a aguardar a sua volta. E nada me deixa mais agoniada do que esperar. Mas eu tô esperando, você não vê né? só você não vem vendo todos os dias em que eu esperei encontrar você numa fila de cinema ou numa festa qualquer. Um certo dia eu encontrei um cara bacana, com uma camisa igual a que você tinha e corri depressa até alcança-lo no caixa da fila do pão, mas quando o vi de perto, não era você. Mas ele me viu com um sorriso tão desapontado que me perguntou se eu queria um abraço. E eu queria um abraço! E eu tive um abraço apertado de um cara desconhecido que parecia você, mas que também me cuidou demais por um certo momento. Abraçou a minha alma cansada de te procurar em vão. Era como se eu tivesse te encontrado. A mulher do caixa sem entender nada, me disse pra ter calma, fé e confiar mais, mas nada do que ela me falava me importava porque a minha casa era cheia de imagens e tinha santo em todo lugar porque todo sábado eu rezava sem parar. Eu me apertei nos braços daquele homem, mas eu só queria te encontrar. Tudo bem, não era você e ninguém nunca seria como você. E nenhum abraço me lembraria o seu abraço, apesar de não conseguir pensar em outra coisa. Mas de vez em quando me dava uma dessas loucuras de querer sair pelo mundo correndo, gritando o seu nome até você ouvir. Só que o foda é que você nunca ouvia e eu voltava rouca e sozinha pra casa. Uma outra vez me aconteceu algo terrível. Eu estava entre amigos e dessa vez eu não queria fazer o que fazia sempre nas festas, então, eu só queria beber pra não ir te caçar entre as pessoas no bar. Eu também sabia que sóbria não dava mais pra ficar. Você não sabe, mas eu bebi tanto a ponto de não aguentar mais ficar em pé, então sentei e vomitei tudo o que tinha dentro de mim. Parecia que quanto mais eu vomitava, mas vinham lembranças de você sobre mim. E eu comecei a ver você em todo o lugar. Nos quadros, nas mesas, nas garrafas, nos vinhos, nos olhares de tristeza de todas as pessoas, nas vozes me dizendo pra me controlar e em tudo você estava. E tudo em minha volta parecia triste por mais que a festa fosse fantástica. E eu notei que estava tão lotada de você e que eu não aguentava mais mesmo te esperar. E do nada você vinha na minha imaginação, rindo também do meu desespero incontrolado por ainda não ter encontrado nenhuma pista de como me manter tranquila de novo. Porque eu era mesmo uma garota bonita e tinha uma vida normal, onde todas as noites eu fechava os olhos e rezava pra conhecer alguém legal e você não me parece nada legal agora. Você nunca mais me deixou almoçar sem querer afogar a cabeça naquele prato de macarrão e ficar ali pra sempre. Você nunca mais me fez passar horas estudando pra ser considerada a mais interessante da sala. Você nunca mais me deixou assistir um filme romântico sem querer morrer de chorar na metade. Você nunca mais me deixou olhar no espelho e me fez sentir inteira porque você me deixou aos pedaços e isso não é legal. Já faz um tempo que eu também não sou legal. E mesmo não me importando mais com as criticas em relação ao meu comportamento. Eu tento ser legal ás vezes, mas sempre tem alguma coisa travando o meu riso. Travando o meu interesse em achar as pessoas legais, em me divertir com pessoas que quero achar legais. E hoje de manhã eu tinha resolvido que não dava mais pra ser assim, mas eu escrevo e mudo de ideia a cada ideia nova. E a verdade é que as minhas ideias novas não fazem mesmo ideia do que as minhas ideia antigas sofreram passando sempre pelo mesmo processo de mudança que nunca muda. Até elas já cansaram de serem minhas ideias e ficam quietas agora. E eu canso disso todo dia. Eu canso de te procurar por ai, sem endereço, sem resposta, sem razão, sem saber se vou te encontrar, mas eu tô sempre fazendo a mesma coisa embora eu mesma já tenha dado um basta. Não adianta sabe? Não adianta você chegar e falar pra não se machucar porque o coração parece falar mais alto. O coração as vezes quer deixar de ser coração e quer mesmo é sair pela boca porque nem mesmo ele aguenta tanto pulsar ao me ver entrar nessas crises.