Fragmentos
Como pode alguém aspirar à plenitude, à integridade, e à presença plena, enquanto escolhe viver sua vida em fragmentos? Ser inteiro é uma escolha que desafia a conveniência de viver pela metade; é a coragem de enfrentar a totalidade da vida, com todas as suas luzes e sombras.
Chega um momento na vida em que é preciso decidir. Ser completo é uma escolha que demanda coragem e transcende a comodidade de viver em fragmentos. Viver por inteiro é muito melhor do que viver pela metade.
Rezo todas as noites por um poema que seja correspondido.
Suplico vontades solícitas de verso e prosa.
Rezo todas as noites por um poema que me revele por inteira.
Rezo, mas as palavras evaporam dentro de um céu de letras escuras!
Ainda posso vê-lo, com aquele sorriso debochado e um olhar de brilho triste.
Eu não pude desviar o olhar. Aquela tristeza cabia tão perfeitamente na minha.
Penso que cada um desses pequenos brilhos que vemos lá em cima é um ser como um de nós, inteiro e solitário, seguindo seu próprio caminho
Senti um arrepio subir pela minha espinha, o frio e o calor se misturar e encher o meu estômago de um choque térmico instantâneo pelo seu olhar: ela estava encarando a minha alma.
Sobre o amor
Embora eu seja uma serie de "emboras", só tenho pensamentos de amor, porque talvez seja o amor a unificar as peças, os pedaços, os fragmentos e a fundi-los em ouro. E o amor sempre arma sua emboscada ao cair da noite. Amor com letras maiúscula, como escreve Petrarca, como um deus incógnito que, de repente, aparece no seu quarto para rabiscar tudo, remexer as suas vísceras e não lhe deixar alternativa a não ser ficar deitado olhando para o teto.
“Quanto tempo levou,
para que houvesse tempo,
de o tempo ter nos trazido
o que somente o tempo traz?
Uma vida!
Um esperar impaciente!
Um desejo, de um repente…
Que de repente,aconteça!
Pouco tempo foi preciso,
para que o tempo trouxesse
o que não aconteceu,
o que nem chegou a ser…
O que faltou e nem soubemos
Como foi ou teria sido… (?)
Quem dera!
Mas que ingrato é esse tempo!
Que dita as ordens, cruel!
Que faz de nós, um refém.
Da espera…
Resta-me a liberdade de poder ser
Agora, apenas eu
Com meus anseios,
meus receios…
minha des-temperança,
Minhas calmarias
Em seus raros momentos
Minhas inquietudes
Meus pensamentos…
Meus - muitos - defeitos
E minhas - poucas - virtudes
Resta-me a liberdade
de poder dizer não, quando quiser dizer sim
Poder dizer sim se me aprouver, ou não
Não importando o quanto custe a reação
depois da ação…”
"Indagou a flor ao poeta
Por quem choras tresloucado amigo
Não há de ser por mim despetalada,
Aqui ao chão, jogada
A virar esterco e pó...
Por mim não há de ser...
Já nem existo, perdi meu viço
Quando me arrancaram...
Deixando-me à mercê
Dos muitos transeuntes
Que passaram!
Pisoteando minh'alma de flor...
Pois flor tem alma, sabias?
Alma perfumada eu diria...
Cheirosa!
Como a rosa em botão!
Então me digas por quem choras?
Seria pela lua, risonha lá no céu?
Brilhante, como o ouro,
Como a prata?
Assim me matas,
Digas-me por quem choras...?
Vem minhas pétalas juntar,
Faze-me inteira num repente,
Para novamente te encantar..."
Me desatino tentado entender as confusões interiores
Gesto tolo costurar os dedos e querer entrelaça-los
De olhos fechados se veem os circos invertidos
Lonas em preto e branco e palhaços chorando
Um suicídio do ser tentando deixar de acontecer
O ódio tentando sucumbir o existir dos alvos
E meio a revolução sináptica o equilíbrio terce os tecidos
E os recursos da mente humana fazem suas acrobacias
Na sincronia fragmentada das danças o vento canta
A vontade emocionante de dar sentido a imaginação
Se recria nos sentidos racionais e conscientes.
Voei, voei para me afastar... Andei,
fui à milhas daqui...
Eu me agarrei às asas dos meus pensamentos intrépidos,
aqueles que acompanham o vento na velocidade das rajadas,
ou da luz!
Busquei, busquei à milhas daqui,
o que somente aqui havia...
O que só daqui, queria!
É onde está a minha cruz,
Aquela, que carrego e com ela
peregrino pelos tempos, desde então!
Aquela, que me fere, às vezes, ombro e coração...
Mas é parte de mim, e, me importa carregá-la,
e entregá-la,
no lugar de onde a peguei;
Ao lugar para onde voltarei,
após, cumprida a missão...
Ao invés de humanizarmos os animais não humanos, poderíamos pensar em domesticar o ser humano. Talvez, assim, diminuísse a selvageria que nos faz algozes, às vezes de nós próprios...
O tempo - que poderia trazer a aquietação das coisas para enfim, poder repousar a alma no ir e vir vagaroso das horas - não passa...
Estamos sujeitos a recaídas constantes. Assim seguimos, redirecionamos nossos passos involuntariamente. Assim são nossas ações como em um jogo de trilhas. Avançando casas e retrocedendo, embora, nem sempre na mesma proporção. Ora um passo avante, ora muito lá atrás quase a zerar tudo. Somos feitos assim, de inconstância e fragilidade...
Precisamos observar e abaixar sempre o nosso facho. Nosso ego não deve jamais ser maior que o perímetro que ocupamos...