Ferro
A ARTE DO SABER
Só sei que nada sei
Sabendo que de tudo sei
Um pouco
Ou o bastante
Para saber que sei,
Algo que não sei
Ou sou,
Ou jamais serei.
Como sábio sou
Na arte do saber;
Da sabedoria
Que em pura maestria
Encontrou-me o saber
Quando não mais
Queria viver
Naquele belo dia
Em que a sabedoria ria
E a ignorância
Gritava, e se
Desesperava
Com o desaparecimento
Da arte do saber.
Certifique-se de que estarei sendo piamente inescrupuloso em dizer-lhe que não a amo ou que um ano e sete meses nada representa ante ao escárnio que se faz quando diz-se que esse amor que vivemos nos veio como remédio restringido.
o purgatório da mente humana está não na sua morte, mas em sua própria vida; simplesmente no ato de ignorância em que comete de forma grosseira. Isto é: enquanto houver, no mundo, pessoas sem conhecimento, ocorrerão todas essas grosserias que, diariamente (diurnalmente e noturnamente) acompanhamos nos noticiários.
Instauraste uma interrogação acoplada numa reticência; perduro impermeável, ouço o som duma toada estrépita; um estoiro concupiscente, voluptuoso. Ah! Encontro-me envolto por xis/ene indagações. Qual há de ser a elucidação pertinente?
És amor, amada,
Meu amo em gênero feminino...
És meu arvoredo frutífero
Composto por frutas doces e agradáveis ao paladar.
És a caverna onde escondo-me da luz e do som estrépito de falsos profetas
- Que nos prometem o mundo em melhorias,
Mas só avistamos insistentemente a ineficácia e incapacidade dos mesmos
Que perduram em extrema e eufórica desordem;
Resultando num mundo-máquina-mortífera.
Até quando permaneceremos habitantes? -
Apesar disso, em plano principal:
És arquiteta de meu ser,
Verdadeiro grande amor; resultado de sentimento
Que está voltado a você.
Amo-te como ama o Senhor: inerte tal qual sepultura,
Longânimo feito Planeta Terra...
Você é uma dádiva em minha vida. Meu amor por você é magnânimo tal qual o poder de Deus. Minha vida se encontrava em profunda desarmonia. Entretanto, quando recebi-te pelo Criador, descobri o segredo da felicidade; a força de um amor verdadeiro. Esse é o nosso amor!
Tatuei o seu nome nas paredes
do meu coração e escrevi um
pequeno texto em descrição;
na verdade uma oração:
"Obrigado, Jesus, por esta prova de amor!".
Mesmo que pareça difícil de se provar
ou fácil de se perceber,
afirmo que a nossa paixão nos une,
fazendo-te para mim, e eu para você.
Com todo decoro e seriedade, prostro-me aqui, diante de ti, meu luar, para que ouças o meu desabafo e contemples a minha angústia; pois só tu me ouves e entendes o que se passa nas ruelas do meu interior...
Falando sinceramente, do fundo do meu coração: eu a acho incrível; além de ser uma ótima amiga, é uma mulher verdadeiramente magnífica. Há no mundo, aquelas pessoas que esboçam a planta de suas próprias personalidades, mas indiferente destas, lhe considero a melhor arquiteta do universo. Ela é excepcional! Extraordinária!
Totalmente incomparável e inigualável!
Enquanto eu venho sendo incompreensivo e, às vezes, até injusto para com ela. Contudo, eu não mudei o que sinto por ela nos meus pensamentos, menos ainda no meu coração.
O amor de verdade é aquele que começa ontem, muda – mas não acaba nem diminui – hoje e amanhã, reflete como num caleidoscópio no qual dois corações descrevem uma só história.
Às vezes penso igualmente a ela: “Como pode me amar?”, “O que viu em mim?”, “Por mais que eu me esforce, será que um dia serei capaz de demonstrar-lhe o meu amor?”, [...]; Será que ela entende isso?
Entende, sim! Mas a questão é que isso traz insegurança. Porém, encontro nela uma ancora que a torna o meu porto seguro.
Às vezes pergunto-me se algum dia hei de portar o dom de ser capaz de dar-lhe o devido valor, se serei para ela o melhor que se pode ter, se serei capaz de satisfazer todas as suas vontades e suprir todas as suas necessidades, se algum dia serei para ela o que ela representa para mim.
Mas o que me vem são lágrimas duvidosas.
O rio que corre em mim chama-se Amor, a sua queda d’água chama-se Paixão e ambos nascem bem ali; lá no fundo do coração. Nasce lá no fundo e corre por todo o meu corpo, saciando a sede da minh’alma.
Pergunto-me se faço algo de errado todos os dias, pois por mais que eu me dedique nada nunca dá certo. E eu sou sempre o culpado. Por quê? Porque assim eu escolhi e decidi que fosse! Eu prometi algo árduo e tenho me empenhado para cumprir.
Embora existam pedras no caminho, temos formas para vencer os obstáculos. Como os pássaros que usam suas asas para se esquivarem dos perigos existentes no solo, uso as asas da imaginação para sobrevoar o seu mundo e tentar explorá-lo por inteiro. Mas o que encontro não é um rascunho, um mapa ou uma terra seca e desprovida de habitação, e sim o Paraíso; ou a própria Perfeição!
As minhas lágrimas rolam como temporais de chuvas ácidas, que vêm para, aos poucos, destruir a firmeza de meus pés fazendo-me – fraco – hesitar. E são nessas horas que o seu amor me pega no colo e me sustém. Defende-me como a fidedigna e feroz leoa defende a sua prole.
Diante dela, sinto-me um pardal ante a colossal virtude de uma águia imperial; fazendo o máximo para ser digno de tal posto, mas obtendo somente resultados contrários.
A vida pode até estar sendo injusta comigo. Pode também estar enganada a ponto de me fazer sofrer derramando minhas lágrimas de mestiço. Ou quem sabe a vida juntou-se em parceria com o destino e compôs para mim uma mórbida Canção de Escárnio?
Há males – assim como o esterco aparenta para ser hediondo ao ser humano e é totalmente benéfico às plantas – que vem para o bem!
Por ela sou capaz de escalar todos os montes e ruminar todas as matas até que finde o infinito e o eternamente...
Por favor, meu luar, não tenhas dó de mim. Pense somente e tenha certeza de que enquanto não terminar tudo aquilo que é infindável, sim! Eu a amarei! E nada: nem anjos, nem demônios, nem a miséria de um sertão em seca e nem a grande prosperidade em terras férteis será capaz de mudar esse sentimento do meu interior.
Que mude as estações, as dimensões sazonais e as faces. Mas que permaneçam intactas as águas cristalinas do Rio do Amor e da Cachoeira da Paixão!
Guerreiros por razões de vida e morte, os seres humanos mostram-se capazes de amar mesmo diante da rejeição.
O pincel, o quadro-branco e a tinta;
A caligrafia e o compartilhamento.
As idéias, o debate, a conclusão:
Das histórias, o embate. Encantamento.
Estudante, papel, caneta;
Paixão, momento, inspiração.
Partituras, violão e palheta,
Roberval compõe “Marieta”,
Carinho. Fascínio. Canção.
Lisonja, Mara, alegria,
Roberval, Realismo, Machado.
Satisfação. Realização, trabalho.
Estrada, trânsito; moradia.
Chave, porta, chinelos.
Banheiro, alívio! Saiu.
Pijama, cama, reminiscências.
De Machado: Helena; condolências.
Cansada, virou, dormiu.
E, sem pensar,
tombado em espasmos da alma,
dolorosas palpitações por detrás de um dos lados da caixa de ossos,
onde dilacera-me esta dor contagiante;
a fúria atroz que me atinge submetendo-me ao delírio imortal - sim!
ele aqui permanecerá,
delirarei quando me convier,
e se achares desnecessário...
tente sentir o que sente a carne,
pensar como pensa um compositor desafiado pelo destino,
morrer como morrem os mártires,
viver o que vivem os miseráveis,
nascer como nasceram os ancestrais...
e se um dia entenderes o que me causa esta dor,
tão somente esqueça-a.
E EMBOSCADA DO MAL II
Como reagir diante de uma traição? Ou como desviar-se de pessoas traidoras? Esse era seu maior problema: ter um bom coração. Não que ele considerasse isso um defeito, mas porque essa característica que possuía sempre lhe trazia certo prejuízo.
Certa vez ele descobriu que seu melhor amigo planejava incessantemente lhe dar um golpe e, portanto, tomar posse de toda sua riqueza, citar por inúmeras vezes o seu nome em rituais satânicos e, inclusive ficar sua amável esposa.
Ela era um exemplo a ser seguido pelas mulheres. Era incrivelmente desejável e de personalidade bem estruturada. Era educada e sempre recebia com carinho os amigos de seu marido. Este, em especial, era o que ela preferia, assim como seu marido. Tratava-o com afeto e, por vezes, eles divertiam-se enquanto conversavam com certa intimidade. Percebia os ciúmes que o amigo sentia da esposa, mas notava também a confiança que pulsava dentro dele. Admirava seu amigo por conseguir conciliar o estresse dos negócios com a vida de casado de forma a trata-la como uma verdadeira rainha. Admirava-o também pela confiança que o amigo transmitia-lhe diante da esposa; sobretudo, sentia certa pena dele porque com cautela estruturava um engenhoso plano que futuramente o prejudicaria muito.
O gerente do banco sempre fora incrédulo quando o assunto era religião, mas após acordar de um pesadelo mudou sua opinião. No sonho a cigana que estava sempre na porta da agência bancária em que era gerente dizia-lhe que seu futuro era incerto, pois aquele a quem ele considerava seu melhor amigo arquitetava um plano para arruinar sua vida profissional e pessoal. Disse-lhe que este amigo o trairia e que ele deveria permanecer atento e informado quanto a religiosidade do mesmo. Após despertar, pegou seu laptop e deu início ao que seria uma longa sequência de pesquisas sobre o espiritismo.
Ele jamais tomava uma decisão sem o consentimento de sua mulher. Além de esposa, ela era também sua conselheira. Ela havia se preocupado com ele na noite em que acordou assustado e foi para o escritório, cerca de três dias depois ele decidiu conta-la sobre o acontecido. Como consequência disso ela havia feito uma tentativa de tranquilizar o marido, mas pela primeira vez não obteve sucesso. Ela lhe disse que ele deveria confiar no amigo, pois este não havia lhe prejudicado em nada e também era bastante prestativo quanto às suas necessidades. O resultado dessa conversa com a esposa foi uma grande desconfiança que surgiu.
Desde a revelação da cigana, ele vinha sofrendo com outros pesadelos nos quais líderes religiosos lhe diziam ter tido uma revelação na qual um amigo armava um golpe para prejudica-lo, noutros ele via-se diante de cartomantes que diziam ver nas cartas uma grande decepção em todas as áreas de sua vida e, inclusive uma interrupção da mesma com características trágicas. Ele vinha sofrendo inclusive com crises de pânico, além de ter algumas visões.
Outro dia enquanto voltava da academia ele viu o amigo saindo de um templo espírita. Imediatamente sentiu ser tomado por uma repulsa que lhe deixava o sangue fervilhando. Parou o carro, e anotou todas as informações acerca do local. Visitaria aquele templo no próximo sábado. Era o dia em que tinha uma viagem marcada junto ao seu amigo. Este havia lhe apresentado um atestado médico de sua mãe e justificou sua ausência à viagem dizendo que teria que acompanha-la ao hospital. O gerente estava desconfiado e, em uma atitude não pensada, parou em uma loja que comercializava produtos religiosos e comprou várias cruzes e uma imagem da santa padroeira de seu estado.
Sua esposa, apesar de jamais tê-lo decepcionado e sempre ter sido sincera para com ele, agora parecia esconder uma importante informação do marido. Seu diário, que antes ela considerava um objeto inútil em sua vida, tornara-se um companheiro inseparável. A chave do mesmo, que antes ficava junto ao cadeado, agora perdurava escondida. Aquele que antes era supérfluo, agora lhe fazia falta. Ele estava curioso quanto ao seu conteúdo, mas detestava a ideia de trair a confiança de sua esposa.
Novamente vinha à tona a maior repugnância que portava de si; o coração que era mole, ele almejava endurecer. E assim foi paralisado por uma visão. Eram dois casais, cada um com sua decepção e ambos de traição: com o primeiro casal, a esposa que desconfiava e ao indagar seu marido este havia lhe jurado ser inocente e completamente fiel – ele mentia; com o segundo casal, o marido havia sido noticiado que sua esposa fazia programa em sua casa enquanto ele trabalhava, ele também a perguntara se era verdade – esta também mentiu.
Após a visão ele resolveu descansar. Teve um sonho no qual um senhor que estava assentando em um banco de praça e conversava sozinho, olhou para ele e lhe disse que aqueles que mentiram na visão que ele tivera eram os falsos profetas. Disse também que ele convivia com um e deveria se alertar.
O caminho até a agência bancária que sempre fora tranquilo, agora era atormentado por várias pessoas que gritavam o seu nome e corriam até as laterais de seu carro e batiam nos vidros. Essas pessoas riam dele e algumas diziam barbaridades acerca de sua esposa. Ele ouvia o telefone tocar enquanto o aparelho permanecia desligado. Sentia freadas bruscas enquanto seu carro estava parado em um semáforo. Parava em faixas de pedestres, pois via pessoas para atravessar, enquanto na realidade não existia ninguém.
Nesta noite ele teve um pesadelo na qual sua esposa estava grávida e em trabalho de parto. Ao dar a luz, nascia uma enorme cobra, que em poucos segundos o devorava por inteiro. Em seguida ele via a cobra e sua esposa sendo devoradas por um grupo de canibais que gargalhavam enquanto comiam.
No dia seguinte sua esposa se despiu no corredor e insistiu para que eles fizessem amor. Após aquele momento, ele teve oura visão na qual era açoitado por vários homens possuídos pelo demônio; já a beira da morte, ele via sua mulher segurando uma foice pontiaguda dizendo que o amava e, após a declaração, ela o decapitou.
A vida para ele perdia o sentido a cada instante. As tormentas e perseguições que o atingiam fizeram-no lembrar de que já era sábado. Sua esposa havia saído para malhar. Seu amigo estava com a mãe no hospital. Então ele levantou-se da cama, vestiu uma roupa leve, porém elegante e seguiu para o templo espírita.
Ele havia se preparado para mais uma sessão do filme de terror que vivenciava cada vez que assumia o volante. Contudo, não foi perturbado por nenhuma pessoa ou risada. Não ouviu as buzinas impacientes quando parava nas faixas de pedestres. Não sentiu nenhuma freada brusca.
Dando-se conta da normalidade que vinha sendo aquela manhã, estacionou seu carro a um quarteirão do templo. Caminhou até a fachada do prédio. Suas mãos e pés começaram a suar, sua camisa estava colando em seu tórax molhado. Seu coração disparava de uma maneira que nunca havia sentido. Suas pernas bambearam. Por trás da porta de vidro do templo, uma jovem se aproximava dele. Ela abriu a porta e o sensor de movimentos do local disparou. Ela o tocou.
Não sei qual a real condição, tristeza ou alegria; sei somente que, por mais que eu tente, jamais esquecerei.
MORTE POR AMOR
Quando Otávio me bateu à porta, às dez horas da noite, eu tinha um livro aberto diante de mim. Não lia. À cólera, que me agitara durante toda à tarde, sucedera uma grande prostração. Parecia-me sem remédio a minha desgraça, depois daquela certeza, daquela terrível certeza, eu finalmente aceitei a realidade.
Minha vida jamais havia sido invejável, mas apesar de toda dificuldade que enfrentei e de todo o sofrimento que passei, minha vida não podia ser considerada uma vida triste.
A indigência que nos cercava não permitia que gozássemos das mais singelas mordomias que existem. Meus pais, apesar de analfabetos, nunca nos deixava faltar a uma aula sequer. Meu pai sempre dizia que o futuro que podemos escolher, nós o encontramos na escola.
Algum tempo depois minha mãe adoeceu. Não suportando as complicações de uma desconhecida doença, faleceu. Eu estava com a idade de dezoito anos e acabara de me formar no ensino médio. Minha mãe sempre havia sonhado em ser professora; daquelas que estudam a língua e escrevem contos e poesias, desejava possuir um diploma de mestre ou doutora. Entretanto, a terra que perdurava sob suas unhas representavam anos e anos de estudo de quem nunca estudou, os calos de suas mãos representavam as marcas do esforço de uma escritora que não sabia ler e escrever, as rachaduras de seus pés representavam a longa caminhada de uma professora que não sabia ensinar, mas que não deixava faltar comida para seus dependentes, tampouco educação. Esse era seu maior certificado!
Daquele dia em diante a vida não era a mesma. Todos nós, apesar de ter superado a dor da perda, não conseguíamos cobrir o buraco que se abriu em nosso coração. Meus irmãos não estudavam mais como antes e meu pai já não trabalhava com tanto vigor.
Havíamos prestado concurso, no qual somente eu fui aprovado e ingressei na faculdade. Independente de sua ausência, para alegrá-la, estudei Letras. Tornei-me doutor em língua. Embora tenha um amplo conhecimento sobre a escrita, prossigo com a mesma simplicidade com a qual sempre falei e escrevi. Não escrevo contos ou poesias, mas aplico-os em minha vida com a mesma devoção de um fiel em um culto; culto este que frequento diariamente.
Antes de as reminiscências interromperem a minha leitura, eu lia o poema que havia recitado para meus pais em um aniversário de bodas. Essas recordações que citei acima foram as mesmas que emergiram em mim correntezas bravias de uma cólera irremediável, mas efêmera. Otávio, meu irmão, trazia sempre boas notícias e, ao abrir a porta e cumprimenta-lo, minha cólera deu lugar a uma imensa alegria. A ansiedade de saber a notícia que estava por vir desapareceu quanto tive de aceitar aquela tão terrível certeza, aquela tão terrível realidade.
Lembrei-me do poema que havia lido para meus pais naquele dia e recitei-o para meu irmão:
Velejando sem barco ou vela
Viajando na Vida
Por uma simples tela
As ilusões me espreitam,
Horizontes desordenados
Com placas de várias setas
Mas que não inibem minhas frestas
De sonhos que se deleitam
De imagens ilimitadas
Multicores
Refletem por sobre os mares
Por sobre os ares
Por sobre as flores
E nas variações do destino
Enraigados por desafios
Não me induzem a desistir
Pois nesta fascinante tela
Que faço da vida
A imagem mais bela
Do porto onde
Quero seguir.
Tínhamos pranto e lamentações no coração. De nossos olhos, cascatas de dores. E essa era a tão terrível certeza, a tão terrível realidade: enquanto lembrava-se de minha mãe, meu pai havia morrido.