Ferida

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Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões
CAMÕES, L. Rimas. Coimbra: Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1953.

Esquece-se muito mais cedo uma ferida do que um insulto.

Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva.

Caio Fernando Abreu
Morangos Mofados, 1982.

Amor é fogo que arde sem se ver. É ferida que dói e não se sente.

Luís de Camões

Nota: Trecho de soneto de Luís de Camões.

Fera Ferida

Eu sei!
Quanta tristeza eu tive
Mas mesmo assim se vive
Morrendo aos poucos por amor

Eu sei!
O coração perdoa
Mas não esquece à toa
E eu não me esqueci...

Eu sei!
Que flores existiram
Mas que não resistiram
A vendavais constantes

Eu sei!
Que as cicatrizes falam
Mas as palavras calam
O que eu não me esqueci...

E qualquer coisa que eu recorde agora, vai doer. A memória é uma vasta ferida.

É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d’água, bebida. A vida é líquida.

Hilda Hilst
Alcoólicas

Coisas e palavras sangram pela mesma ferida

Há um momento na vida
de terror definitivo,
de fracasso tremendo,
de sangrar a ferida.
Nada rende,
não há remendo,
nem consolo,
nem saída,
luta perdida,
a lágrima não significa,
o amor cruza os braços,
a saudade diz que vai
e fica.

Já fui ferida
Já fui magoada
Já fui iludida
E já fui enganada porque deixei que tudo isso acontecesse comigo...

Hoje sei que enquanto não sabemos nos amar
com verdadeira intensidade
nós não sabemos o que queremos,

Por isso estou sozinha há um bom tempo
E assim permanecerei
Porque o amor pelo outro está em mim
E só será direcionado à alguém inteiro
e na condição de ‘amável’, como eu...
E enquanto ele não vem,
sorrio para a vida.

Por detrás de uma pessoa que fere há sempre uma pessoa ferida. Ninguém agride os outros sem primeiro se auto-agredir. Ninguém faz os outros infelizes, se primeiro não for infeliz.

Meu coração tombou na vida, tal qual uma estrela ferida pela flecha de um caçador.

Cecília Meireles

Nota: Autoria não confirmada.

Amor é bicho instruído.

Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.

Carlos Drummond de Andrade
Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Nota: Trecho do poema O amor bate na aorta.

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Dói tanto a injúria publicada como a ferida exposta ao ar.

A honra nunca se ofende impunemente: nunca existe por metade; inteira é forte, ferida está morta.

O coração é uma ferida aberta.

ASAS E AZARES

Voar com asa ferida?
Abram alas quando eu falo.
Que mais foi que fiz na vida?
Fiz, pequeno, quando o tempo
estava todo do meu lado
e o que se chama passado,
passatempo, pesadelo,
só me existia nos livros.
Fiz, depois, dono de mim,
quando tive que escolher
entre um abismo, o começo,
e essa história sem fim.
Asa ferida, asa ferida,
meu espaço, meu herói.
A asa arde. Voar, isso não dói.

Essa ferida, meu bem, às vezes não sara nunca. Às vezes sara amanhã.

Carlos Drummond de Andrade
Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Nota: Trecho do poema O amor bate na aorta.

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Eu ponhei cada coisa em seu lugar. É isso mesmo: ponhei. Porque “pus” parece de ferida feia e marrom na perna de mendigo e a gente se sente tão culpada por causa da ferida com pus do mendigo e o mendigo somos nós, os degredados.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

A ferida
O rabinomoshe de sassoy reuniu os seus dicipulos para dizer que havia finalmente aprendido como devemos amar o próximo.eles pensaram que o rabino tivera uma revelação divina,mas moshe negou.
-Na verdade,aprendi sobre o amor quando escutei a conversa entre um casal.
-A mulher perguntou;você me ama? eo marido respondeu. -Claro;Então a mulher insistiu:
-Você sabe o que me faz sofrer? "NÂO SEI;disse o marido.
-Como pode me amar,senão sabe oque me faz sofrer?foi o comentario da mulher.
depois de narrar isto,moshe concluiu quem ama verdadeiramente pode evitar ferimentos desnecessarios: