Fantasia e carnaval
Contos de fadas as Vilã são encontradas,
Mais na vida real,são iguais a bailes de carnaval
Todos usam máscara.
O brasileiro, em geral, é obsediado por essa coisa chamada carnaval. É como desejar esgotar toda a ração de tristeza estocada em fevereiro.
Carnaval.
Não lembro, a não ser pelas fotos, como foram meus carnavais na infância em São Paulo na Rua Pamplona, nem no Clube Palmeiras onde me levaram e tinha também o corso pela Avenida Atlântica em Santos onde meu pai tirava as portas traseiras do Chevrolet 1.956 para que pudéssemos entrar e sair rapidamente quando o cordão andava.
Lembro pelas fotos, mas vejo que não adiantou ter sido fantasiado de Zorro, Arlequim ou de Superman porque meus heróis sempre foram e são mais reais, mais pé no chão, mais gente de verdade.
Na juventude, época dos dezoito aos vinte e poucos anos, ensaiei tímidos passos carnavalescos nos salões, do Tênis Clube de Vera Cruz e mais tarde no de Marília, Sempre empurrado pela molecada para ficar o mais perto possível das garotas de shorts e bustiê, pegar na mão de alguma ou colocar o braço nos seus ombros. Isso era o máximo da ousadia.
Tudo isso era feito meio entorpecido pelo rum com Coca-Cola ou pelo wisky Old Eight que o barman despejava sobre pedras de gelo sujas, arrancadas de barras depositadas no chão de qualquer maneira, como era usual na época. Não raro havia séria revolta estomacal na molecada, até mais de uma vez por noite.
Quando eu tinha meus trinta anos meu espírito carnavalesco esteve ainda mais recolhido na época da festa do povo e houve um tempo que eu justificava dizendo que a minha vida era um verdadeiro Carnaval o ano inteiro.
Nesses dias de Carnaval eu montava na minha Honda Setegalo e depois na Honda Gold Wing 1.000cc e fosse no Itararé em São Vicente ou no Castelinho em Ipanema, meu Carnaval e de muitos motoqueiros era paquerar, colocar uma garota na garupa da moto e “arrastar” para o apê...
Não me lembro de ter ido uma única noite num salão mas há uma lembrança generalizada de grandes noitadas.
Em toda e qualquer época para mim os desfiles das escolas de samba poderiam ser mudos e eu surdo, porque a maioria das letras não passam de um amontoado de palavras que algum inculto recolhe nuns livros e tentam, num arremedo nem sempre harmonioso, contar com suor e purpurina a história feita de com sangue, suor e lágrimas.
Mais ainda, no Carnaval pobres de todo o gênero, gastam boa parte do orçamento numa fantasia tosca, para viver numas poucas horas de euforia e um ano inteiro, como diz a letra do Chico, desengano...
Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano
Carnaval, desengano
Essa morena me deixou sonhando
Mão na mão, pé no chão
E hoje nem lembra não
Quarta-feira sempre desce o pano
Esse ano meu Carnaval não vai ser muito diferente dos últimos. Ler um pouco, escrever um pouco e refletir muito porque logo chegará a quarta-feira... e qualquer hora, desce o pano!
Carnaval é a única época do ano que eu evito vestir camisa do Flamengo pois o manto sagrado não é fantasia.
É noite de carnaval, faz chuva, ouço trovões e pingos d' água que caem no forro de um telhado com goteiras. Não há energia e aqui dentro esta tão escuro.
Ao som dos carros passando em meio as possas que se formam pela rua, sinto levar um pedaço de mim para algum lugar que não sei ao certo onde irá chegar ou mesmo se haverá um final. Pela janela vejo seus faróis de luzes branca, um flash à cada passada, enxergo um fio de esperança e uma luz para me guiar nesta escuridão.
O tic-tac do relógio me avisa que posso explodir a qualquer momento, uma explosão de sentimentos que se colocado em fogo causará grande impacto em vida.
As batidas ficam mais forte, lá fora a chuva aperta, aqui dentro é incerteza.
É noite de carnaval, enquanto muitos transbordam em maresias, me junto aqueles que não tem tantos motivos assim para festejar.
HOJE É CARNAVAL
Vem escancarar meu dia
Hoje é festa
Hoje é Carnaval
Faz valer a pena...
Quem sabe né...
Quando o engarrafamento acabar
A cabeça esfriar
A pista fique livre
Ai né...
Você fica e...
Vem...
Escancarar meu mundo
Depois de um período de carnaval, a soma de tudo é: um grande vazio no coração que os dias de "alegria" nunca poderam preencher.
Aqui...O Nu, Pode!
Ela ainda acreditava
estar vivendo as loucuras do carnaval...
Passou despida na avenida,
tocando a sua bandinha!
CARNAVAL É CULTURA!
Você pode ir ao seu futebol e gastar o que quiser como quiser e com quem quiser.
Você pode ir a sua religião, pagar seu dízimo, dar suas oferendas, fazer suas vibrações com quem quiser.
Você pode comprar seu baseado, fumar na janela do condomínio, encher nossos quartos de marola, sempre como quiser
Terça feira gorda!
Pensando bem, nossa vida é um carnaval, a gente brinca escondendo os problemas e tentando desfilar nossos sonhos na passarela da vida.
E ao final se não somos campeões, começamos tudo novamente, mesmo que para isso exista mais um ano de preparo, de luta, de desejos.
O Carnaval realmente é magia.
Esquecemos fome, miséria, desgraça...
Mas sabe de uma coisa... O povo é sábio, afinal tudo que não presta começa em nossa própria família, em nosso próprio sangue. O que custa aproveitar quatro dias diante de 365 de lutas.
Meninos e meninas, aproveitem....
Sonho que um dia, o carnaval seja proibido para maiores de dez anos de idade e restrito apenas à segurança dos salões! Que as músicas ali tocadas sejam as marchinhas e os sambas, e terminantemente proibido qualquer tipo de modismo imposto pela mídia e pela capitalista industria do reinado de Momo...