Falta de Ar

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A tortura é uma invenção maravilhosa e absolutamente segura para causar a perda de um inocente.

Há homens para nada, muitos para pouco, alguns para muito, nenhum para tudo.

Há tantos vícios com origem naquilo que não estimamos o suficiente em nós, como no que estimamos mais.

Pode ferir-se o amor-próprio; matá-lo, nunca.

Uma boa recordação talvez seja cá na Terra mais autêntica do que a felicidade.

A verdade é tão simples que não deleita: são os erros e ficções que pela sua variedade nos encantam.

Face aos grandes perigos, só a grandeza nos pode salvar.

Para não corar diante da sua vítima, o homem, que começou por feri-la, mata-a.

Se não estás disposto a matar aquele a quem pretendes odiar, não digas que o odeias; estás a prostituir tal palavra.

O segredo da ordem social reside na paciência dos outros.

A própria virtude precisa de limites.

A força dos governos é inversamente proporcional ao peso dos impostos.

Fica provado que uma inovação não é necessária quando se torna demasiado difícil implementá-la.

A estirpe herda-se e a virtude conquista-se; e a virtude vale por si só o que a estirpe não vale.

Pensar só em si e no presente é uma fonte de erro em política.

O gosto de contentar um amigo é um demónio tentador.

Mors Amor

Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas,

Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?

Um cavaleiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido, no porte,
Vestido de armadura reluzente,

Cavalga a fera estranha sem temor:
E o corcel negro diz: "Eu sou a morte!"
Responde o cavaleiro: "Eu sou o Amor!"

A sabedoria é geralmente reputada como pobre, porque não se podem ver os seus tesouros.

Torna-se indispensável manter o vigor do corpo, para conservar o do espírito.

Contemplação

Sonho de olhos abertos, caminhando
Não entre as formas já e as aparências,
Mas vendo a face imóvel das essências,
Entre ideias e espíritos pairando...

Que é o Mundo ante mim? fumo ondeando,
Visões sem ser, fragmentos de existências...
Uma névoa de enganos e impotências
Sobre vácuo insondável rastejando...

E dentre a névoa e a sombra universais
Só me chega um murmúrio, feito de ais...
É a queixa, o profundíssimo gemido

Das coisas, que procuram cegamente
Na sua noite e dolorosamente
Outra luz, outro fim só pressentindo...