Falecimento de Mãe

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Descubro cada vez mais que o paraíso são os outros. Vi num livro para adultos. Li só isso: o paraíso são os outros. A nossa felicidade depende de alguém. Eu compreendo bem.

Valter Hugo Mãe
O paraíso são os outros

Todos nascemos filhos de mil pais e de mais mil mães, e a solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo. Como se os nossos mil pais e mais as nossas mil mães coincidissem em parte, como se fôssemos por aí irmãos, irmãos uns dos outros. Somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós.

Amar é uma proibição de estar só.

Valter Hugo Mãe
Homens imprudentemente poéticos. São Paulo: Biblioteca Azul, 2016.

Pensava que quando se sonha tão grande a realidade aprende.

O toque de alguém, dizia ele, é o verdadeiro lado de cá da pele. Quem não é tocado não se cobre nunca, anda como nu. De ossos à mostra.

O amor era uma atitude. Uma predisposição natural para se ser a favor de outrem. É isso o amor. Uma predisposição natural para se favorecer alguém. Ser, sem sequer se pensar, por outra pessoa.

O sofrimento nunca impediria alguém de ser feliz.

A companhia de verdade, achava ele, era aquela que não tinha por que ir embora e, se fosse, ir embora significaria ficar ali, junto.

Pensou que o rapaz tinha ido embora diferente dela. Não podia ser que o amor tornasse as pessoas diferentes assim, a menos que não fosse amor nenhum.

Amar era feito para ser uma demasia e uma maravilha.

(…) o que me faz correr é sempre o mesmo, uma vontade de saber mais e o de deixar contado às pessoas, nos livros, sabe. Deixar nos livros aquilo que se descobre, porque um livro, com o que contém, pode ser uma fortuna eterna (…)

Queria que ela fosse tão propensa ao sorriso quanto o pudesse ser.

Provavelmente, se o livro for bom,
ele manterá mistérios para todo o sempre.

Os livros eram ladrões. Roubavam-nos do que nos acontecia. Mas também eram generosos. Ofereciam-nos o que não nos acontecia.

Valter Hugo Mãe
A desumanização. São Paulo: Biblioteca Azul, 2017.

(...) Não ler, pensei, era como fechar os olhos, fechar os ouvidos, perder sentidos. As pessoas que não liam não tinham sentidos. Andavam como sem ver, sem ouvir, sem falar. Não sabiam sequer o sabor das batatas. Só os livros explicavam tudo. As pessoas que não leem apagam-se do mapa de Deus.

Minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, pois atentou para a humildade da sua serva.

Maria, mãe de Jesus

Nota: Trecho de versículo da Bíblia, do evangelho de Lucas 1:46-55. Link

Eram, tanto quanto possível, os felizes. Porque a felicidade não se substituía ao resto, a felicidade acumulava-se. Era do acumulado do que se fez que se podia alcançá-la.

Valter Hugo Mãe
O filho de mil homens

(…) deixar um livro cheio de poemas que fiquem para sempre a comunicar com quem lhes pegue é como deixar uma voz amiga de toda a gente, pense no que é hoje ler o Camões e como aquilo ainda nos diz respeito, pense como será deixar por sua mão algo que também chegue ao povo, para que o povo conheça e se enterneça consigo e com o nosso tempo (…)

Devia ser a poesia do meu pai que me mimava. Os livros. Eram os livros. Diziam-me coisas bonitas e eu sentia que a beleza passava a ser um direito.

De agora em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, pois o Poderoso fez grandes coisas em meu favor; santo é o seu nome.

Maria, mãe de Jesus

Nota: Trecho de versículo da Bíblia, do evangelho de Lucas 1:46-55. Link