Fado
Ruminar
O início terá meio e fim
O ontem, foi hoje e passou
E assim,
O fado traçado caminha, caminhou
Em suas alternativas
Nada ou muito nos deixou
Antes de tudo são apenas: planos, sonhos e expectativas...
Luciano Spagnol
Dualidade
Oh fado, oh cerrado!
Chorei nostalgias calado
Tortuosa em ti a emoção
Trouxeste comitiva e solidão
Terei lembrança toda vez
Ao ver secura, ver nudez
Dos campos e sua rudez
Ah! Como conter o desejo
E o displicente lampejo
Do ávido adeus, sem pejo
Apenas sonhado despejo!
Oh fado, oh cerrado!
Encantado e desencantado
Magia de mato encurvado
Em ti sou dualidade, atado
Quando eu me for, enfim
Num novo início ou no fim
Terei e não terei saudades, sim...
Oh fado, oh cerrado!
Luciano Spagnol
Não te rendas, não cedas
ainda que o sonho te queime.
Aprendas a apagar as labaredas,
do fado. Insista, queira, teime...
A vida tem curvas e alamedas.
Veja a cor do por do sol, diversidades.
Adoce as frutas azedas.
Viver tem sempre possibilidades.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto de 2018
Cerrado goiano
TUDO LONGE (fado)
Tudo longe, tudo vazio, tudo sem encanto
do teu canto, teu olhar, no peito no entanto
que se põe a suspirar... as tuas lembranças!
Que são lágrimas em rodopios e em danças
na minha saudade. Você está ausente!
Só o cheiro dos teus beijos nos lábios presente
Insistente: - num poema, num verso, num canto
uivando o acalanto, tanto, me jogando num canto
Nem o teu calor, o teu amor, aqui posso tocar
Você está longe... como nostálgico não ficar?
Ai está dor, este pranto, este manto, ai...ai... ai...
não me deixes tão distante, solidão... vai... vai...
A dor do amor sozinho, é tristura grande
que invade a alma, de quem é amante
Tudo tão longe, tão grande, tão emudecido
aqui neste gemido em sofrido alarido...
Me ponho ao vento por ti clamar:
- como é bom poder te amar!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
23 de agosto de 2019
cerrado goiano
''Fado da espera''
Passam-se as horas lentamente
Como uma tortuosa procissão
Que arrasta toda a gente
Seguindo pela rua sem direção,
E eu aqui estou a esperar.
Espero por um sorriso,
Que me toma a cabeça à todo minuto
Uma cabeça sem juízo
Que foi-se embora com outro astuto,
Deixando-me ver o tempo a passar.
Oiço o relógio com seu tiquetaquear,
Fazendo um tremendo concerto musical
Onde estão cem mil músicos a tocar
Fados, tangos, boleros para o meu mal
Espero por uma imagem,
Que não me foge dos olhos por um segundo
É um tristonho personagem
Que talvez esteja com os pés no mundo.
Esperar, esperar, eis o meu fado
Que por castigo Deus me deu,
Talvez um dia eu a tivesse encontrado,
Mas a minha espera já nos perdeu.
O HOMEM FINGIDOR
Na síndrome da ausência de um coração
corre o pranto fado e imperfeito,
que não se ria nessa vida e tanto mais agora
deu todo o amor, que não deveria tê-lo feito.
Pois o homem quando ama tem de se tornar um fingidor
esconder o sentimento pura e aguar o seu coração
Na dúvida insana dos homens, que não podem parecer
eles mesmos, mas devem ser uma enganação.
Enganação para si mesmo, mentir para si é a pior de todas
antes não tivéssemos vindo a ter esnobe sentimento
Que nos transforma a vida, deixa mais leve e sonhadora
entorpece e transforma, nos faz ser divinos por um momento.
A ilusão do sentimento é um descontentamento que vale a pena
É melhor tê-lo vivido do que nunca ter sonhado, um sonho perdido
que passou em sua vida como um vendaval, arrastando tudo e
desafiando a sanidade, não compreendido por todos, mas por você sentido
Minha poesia
Minha poesia não é de fado
nem de medo, nem de tédio
minha poesia não é de hoje
aos que dela se alimenta
não trás culpa nem remédio
Minha poesia é riso ao que chora
minha poesia nunca foi despedida
minha poesia, inoportunamente fica
quando lhe pedem pra ir embora.
Minha poesia não é de angústia
nem de saudade dolorida
minha poesia vislumbrar o futuro
se agarra ao presente e dele suga vida.
FADO DA SAUDADE
Fado vadio, fado da saudade
Nesta noite fria bebemos um vinho
Um tinto maduro, amargo como a vida
Com o travo a alecrim, a rosmaninho
Ou talvez um bom vinho do porto
Na sala toca-se, canta-se o martírio maior
O fado de dor, da saudade meu amor
Choram as nossas dores ao som dos passos
Da vida feita em pedaços, melodia orvalhada
Refeita de felicidade, do passado, presente
Na sala o silêncio é total, nesta noite fria, já quente
O coração fala mais alto, segredos sem voz
Com o silêncio a tristeza cala-se, inibe-se de amor
Na rua escura ausente de pranto, não passa ninguém
Voz magoada, flor do deserto, de uma canção tão bela
Que nem às paredes caiadas, nem a Deus me confesso
Dos teus fixos olhos castanhos, já presos nos meus
Fado de lágrimas cansadas de quem já muito ama e amou.
FADO DA AQUARELA
Dos subúrbios, avisto
O arranha céu, um cata-vento
Inspiro e assovio, transcende cor
De norte ao sul,
A forjar, o quão escuro, descende
O espelho de narciso
Os tufões de já não haver,
Anistia, de cada engenho
Cobrir-se a névoa, deprede o espelho
O absinto, sobre a mesa, que reluz
Do inspiro,
Um arco-íris!
De outrora jaz.
Livro: 1.205 Folha: 251
"SÚPLICAS"
Fado das palavras....
Que dizíamos e já não dizemos
Palavras ditas, rimadas....
Amadas, odiadas tantas vezes
Onde floresce um jardim
De camélias que eu tanto amo
Jardim que está na nossa vida
Tão rica e perfumada
Cheia de encantos e desencantos
Por culpa nossa ou de outros
Alheios aos nossos sonhos
Á nossa vida, a tudo que é nosso
Fado que o vento varreu
As nossas horas que mudam de lugar
Poesia fingida dos olhos da alma
Onde morremos mesmo sem morrer
Chegamos a partir, mesmos sem partirmos
Mão noturna que escava o silêncio
Entre a singela chuva, que aldraba na lama
As brumas de um cavaleiro sem amada
Fornalha de pão quente no forno
Da imensa fome do impenitente mendigo
Entre segredos de amor já refletido
Surge o suplico e desprotegido
Da imperfeição que os nossos olhos
Nunca viram línguas no espelho
Queimados do impenitente tempo
Tantas vezes perdido por nós esquecido
Toupeira que escavava entre o silêncio
Dos nossos sentimentos impuros
Rasgados nas brumas
Do nosso inconsciente feito em súplicas
Fado das palavras de uma penumbra
Sombra chocalhada, abafada
Do nosso sangue que amadurece
Como as uvas morangueiro que bebemos
Já fermentado o liquido doce dos deuses
Branco, rosa, roxo néctar da perdição das almas!
CANÇÃO PRIMEIRA
Desse amor que agora vivo
No peito, que pulsa elevado
Que de perfeito em fado
Fez-se canto, amor, contigo...
E do distante que’u esperava
Fez-se flor nascido em rosa
Ao jardim que te rogava
Nos versos de paixão e prosa...
Um esplendor de sol tão cheio
Na noite casta, uma explosão
No sentir profundo coração
Nesse amor que te vivo e leio...
De perene um notar tão forte
De cânticos a canção primeira
Vejo em mim razão e sorte
Vejo em ti, de crescer roseiras...
Pétalas podem sem notar cair
Melodias podem ser em dor
Mas destino que provou de vir
É de eterno nesse meu amor...
A vida ETERNA:
TÃO CERTA como A MORTE certa, que para tod@s é fado, A VIDA ETERNA estará, para quem; A AMAR, seu EU; SEMPRE TIVER DEDICADO!
PINTALGADO
No dia solto de fado
a voz, ecoa pelo ar
ritmo produz o corpo
a ginga entorta o olhar.
A musica eleva a alma
nos braços intimo do ser
bailar irradia a calma...
O sentimento e renascer.
Dia de fado... Asas!
Paixão e amor... Voar!
A felicidade transborda
e vê alegria extravasar.
Sonhos vão para o além
deitar-se no berço futuro
nesse dia, obrigado, amem
pelo passos tão seguros.
Antonio Montes
REINAÇÃO
Enquanto o fole folheava a folia
o fado era sapateado pelos pés
a dança, demarcava n'aquele dia
o pulsar do coração em aranzel.
Musica, voava como asas no salão
flutuando, elevando o sentimento
era sola solada, pulsando coração
Era corpo trepidando o momento.
Enquanto o fole folheava o fado
a noite tremia e se fazia criança
para vontade, tudo era agrado
a imaginação, bolia a esperança.
O ritmo requebrava os lados
o peito seco arfava uma canção
o fole folheava folia com o fado
o fado a folia, vagava imensidão.
Antonio Montes
Vou-me embora para Alentejo,
Buscarei as minhas raízes,
A luz do fado em Portugal,
Ouvir Amália Rodrigues
À beira da fonte de Évora,
Depois viajar
Pelo parque natural
De Bragança
E logo uma andança pela
Capital,
Centro histórico
Do verdadeiro Paço Imperial
Lá está a minha história,
Onde guardo o meu brasão,
Depois vou para o Vale do
Rio Nabão
Volto a Lisboa,
Setúbal,
Em Chaves hei de lembrar
Da ponte de Trajano
Sobre a via Bracara
Talvez, longe de tudo,
Esqueço do amor
Que era um ideal,
E assim, com os pés gastos
De tanto caminhar,
Repouso em Tavira,
Amanheço em povoados
De Elvas, com a alma
Toda Celta,
E abro os olhos para
Recomeçar!
AGONIA METALITERÁRIA
Consola-me, Euterpe
Deste nefasto fado
Da epifania súbita que fulmina
Minha razão - de meu ser, o estado
Sussurra, como se musa fosses realmente
E a certeza do poeta, ilumina
E mesmo contrafeito, mau grado,
Assentará sua disforme mente
Com a pena, se jus lhe fizer, ou à palavra
Como quem páginas com olhos lavra
Aguardando aquela, que tudo inspira,
Conceder-lhe o dom breve e sagrado
Canta, ó musa, pois o verso quase finda
E não há, em flauta nem lira,
Quem são concebê-lo possa
E o poeta, agora exausto
Tornou a pensar em prosa
Sendo música jamais queria a dramaticidade de um tango e tampouco a tristeza de um fado. Mas muitas vezes não basta não querer...sou fado, sou tango!