Fado

Cerca de 230 frases e pensamentos: Fado

Meu fado é de não entender quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

Às más notícias o fado dá asas, e elas voam velozes.

A poesia! A poesia está guardada nas palavras, é tudo que eu sei.
Meu fado é não entender quase tudo; sobre o nada eu tenho profundidades. Eu não cultivo conexões com o real. Para mim poderoso não é aquele que descobre o ouro; poderoso pra mim é aquele que descobre as insignificâncias do mundo e as nossas. Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado e chorei. Sou fraco para elogios.

ouço calado
contigo em Alfama
cantar o fado

O FADO E A ALMA PORTUGUESA

Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflecte o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste.
O fado, porém, não é alegre nem triste. É um episódio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter força para o desejar.
As almas fortes atribuem tudo ao Destino; só os fracos confiam na vontade própria, porque ela não existe.
O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e também o abandonou.
No fado os Deuses regressam legítimos e longínquos. É esse o segredo sentido da figura de El-Rei D. Sebastião.
14-4-1929

No fado eu invento
Tento sonhos em rima
As trovas meu alento
O leitor minha estima
É desafio é energia
Motivação esgrima
Espelhado na poesia

Luciano Spagnol

O Bandolim

Cantas, soluças, bandolim do Fado
E de Saudade o peito meu transbordas;
Choras, e eu julgo que nas tuas cordas,
Choram todas as cordas do Passado!

Guardas a alma talvez d’um desgraçado,
Um dia morto da Ilusão às bordas,
Tanto que cantas, e ilusões acordas,
Tanto que gemes, bandolim do Fado.

Quando alta noite, a lua é fria e calma,
Teu canto, vindo de profundas fráguas,
É como as nênias do Coveiro d’alma!

Tudo eterizas num coral de endeixas…
E vais aos poucos soluçando mágoas,
E vais aos poucos soluçando queixas!

Augusto dos Anjos
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

BEM-VINDO JUNHO

O que vem, assim virá,
maio encerra seu voo, passou.
Novo fado, novo sol surgirá,
outro tempo, JUNHO chegou!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
cerrado goiano

Paixão

Abrase-me, paixão, no seu poente
que o meu fado seja tal que me flama
integralmente... de coração ardente
E o infinito amor há quem ama...
...e aos amantes, afeto, eternamente!

© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, março, 06'30"
Cerrado goiano

Lembras figurativamente falando que a vida é uma roda gigante podemos até não ter dinheiro para subir nela mas uma hora ela vai parar e auguem vai pedir para você sair estará no mesmo chão e lembrarão de sua guspida que você dava la do alto e farão justiça

Inserida por natanaelfado

Cada dia me traz com que esperar
O que dia nenhum poderá dar.
Cada dia me cansa da esperança...
Mas viver é esperar e se cansar.

O prometido nunca será dado
Porque no prometer cumpriu-se o fado.
O que se espera, se a esperança é gosto,
Gastou-se no esperá-lo, e está acabado.

"Bate coração. Afinal, és o único que está autorizado a bater em mim. Até quando eu não mais aguentar."

Ruminar

O início terá meio e fim
O ontem, foi hoje e passou
E assim,
O fado traçado caminha, caminhou
Em suas alternativas
Nada ou muito nos deixou
Antes de tudo são apenas: planos, sonhos e expectativas...

Luciano Spagnol

Dualidade

Oh fado, oh cerrado!
Chorei nostalgias calado

Tortuosa em ti a emoção
Trouxeste comitiva e solidão

Terei lembrança toda vez
Ao ver secura, ver nudez
Dos campos e sua rudez

Ah! Como conter o desejo
E o displicente lampejo
Do ávido adeus, sem pejo
Apenas sonhado despejo!

Oh fado, oh cerrado!
Encantado e desencantado
Magia de mato encurvado
Em ti sou dualidade, atado

Quando eu me for, enfim
Num novo início ou no fim
Terei e não terei saudades, sim...

Oh fado, oh cerrado!

Luciano Spagnol

A Cada Qual

A cada qual, como a estatura, é dada
A justiça: uns faz altos
O fado, outros felizes.
Nada é prémio: sucede o que acontece.
Nada, Lídia, devemos
Ao fado, senão tê-lo.

Não te rendas, não cedas
ainda que o sonho te queime.
Aprendas a apagar as labaredas,
do fado. Insista, queira, teime...
A vida tem curvas e alamedas.
Veja a cor do por do sol, diversidades.
Adoce as frutas azedas.
Viver tem sempre possibilidades.

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto de 2018
Cerrado goiano

A ultima melodia da andorinha.


A andorinha lamentou em sua gaiola o triste fado que o tempo lhe opusera, murmurava um canto tão belo e triste que parecia a água caindo sobre uma bandeja de prata. Pedia sonhadoramente pela liberdade, mas mal sabia ela que o tempo seu principal carrasco, velaria seu canto.
Pobre andorinha, presenteada por um jovem a sua venerada amada, que tão pouco se importava com ela.
Dia após dia seu canto desfalecia, e com ele sua própria vida. Queria subir aos céus, queria voltar ao Egito, para encontrar seu amor que agora estava perdido.
Por fim percebeu que morreria, pois o frio intenso havia trazido consigo a neve clara e brilhante, e por isso a pobre andorinha morria de frio.
Cantou sem demora uma ultima canção em homenagem a amada.
Aqueles que por ali passavam e puderam ouvir sua triste canção, comoveram-se e choraram sem saber os motivos que preenchia seus corações.
Por fim com um estranho estalido pendeu as assas para voar, mas caiu morta ao fundo da gaiola.
Deus naquele instante mandou que seus anjos a ressuscitassem bendizendo sua alma e o amor da querida andorinha, que agora poderia voar até o Egito cantando a sua maravilhosa melodia.

Ai tanto caminho andado


Ai tanto caminho andado
Tanto tempo
Tanto fado
Tanta pedra no meu prado
Tanta cinza
Nas minhas nuvens de Maio

Ai tanto caminho andado
Em silêncio
Em agonia
Antes de ter-te a meu lado
A partilhar o telhado
Na minha terra bravia

Ai tanto caminho andado
Na monda dos meus trigais
Sede de Agosto e papoilas
Água fresca
Céu aberto
Riso aceso
E a tua boca tão perto

⁠Serei eu um eterno perdido
Uma andorinha sem ninho
Fado ao destino
De sonhar, sonhar e sonhar
Mas nunca se realizar.

Porque temos que amar
Se amargar com inalcançável
Viver em busca do nada
Ter esperança
Naquilo que nos dá mais segurança.
De um Deus que nos devolve o amor, a paz e esperança
Será a esperança a maior mentira do mundo
Estamos vagando como moribundos
Sozinhos nesse mundo
Acreditando que no futuro
Tudo fará sentido e será seguro.

Mandalas & Tapetes Burgueses

Melancolia
De fado
Português

Regado à vinho
E
Dissolução do fermentado

Pagando os pecados
Com o suor do cansaço

Metabolizados
No calor do fígado


Tristeza
De nobreza
Sem causa

Escutar
De coisas
Não ditas

"Minha casa minha vida
Sua casa é meu problema"

De certeza

Somente
A presença
De sua
Ausência

Passeando
Meus
Anseios
Desajeitados


Nas ladeiras em ruas
De muita pedra

Nos vales profanos
Da dissonância

Esculpidos em vales
Da tradição

A ambição do pecado
Fermentado em vinho

E a solução
É dissolução

Sem solução
Em ruas
De Tradição