Eu Deixo a Vida como Deixo o Tedio
A vida é como a música. Deve ser composta de ouvido, com sensibilidade e intuição, nunca por normas rígidas.
Toda a arte e toda a filosofia podem ser consideradas como remédios da vida, ajudantes do seu crescimento ou bálsamo dos combates: postulam sempre sofrimento e sofredores.
No meio das trevas, sorrio à vida, como se conhecesse a fórmula mágica que transforma o mal e a tristeza em claridade e em felicidade. Então, procuro uma razão para esta alegria, não a acho e não posso deixar de rir de mim mesma. Creio que a própria vida é o único segredo.
Em suma, todo o problema da vida é este: como romper a própria solidão, como comunicar-se com os outros.
A alma que não se abate, que recebe indiferentemente tanto a tristeza como a alegria, vive na vida imortal.
Os filhos são educados como se fossem ficar toda a vida filhos, sem nunca se pensar que eles se tornarão em pais.
Do modo como a concebemos, a vida em família não é mais natural para nós do que uma gaiola é para um papagaio.
O beijo fulmina-nos como o relâmpago, o amor passa como um temporal, depois a vida, novamente, acalma-se como o céu, e tudo volta a ser como dantes. Quem se lembra de uma nuvem?
Tenha como regra na vida nunca se arrepender e nunca olhar para trás. O arrependimento é um terrível desperdício de energia; você não pode construir sobre ele, e ele é bom apenas para se ficar revolvendo.
A vida de um homem culto deveria simplesmente alternar-se entre música e não música, como entre o sono e o despertar.
Ironia da vida: a mulher dá-se como prêmio ao fraco e apoio ao forte, e nunca ninguém tem o que precisa.
A esperança, enganadora como é, serve contudo para nos levar ao fim da vida pelos caminhos mais agradáveis.
Quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal como sobreviveu na memória humana.