Eternidade
Encontre alguém que fale a
língua da sua alma para que
você não precise passar
uma eternidade
traduzindo...
Mande suas ações generosas para cima, onde seus investimentos duram por toda a eternidade, porque a maioria dos homens aplica nas coisas da terra e da terra tudo ao pó volta.
"Reflexos de Eternidade"
Num recanto esquecido pelo tempo e pela pressa do mundo eufórico, erguia-se um campo vasto, bordado de verde e salpicado pelas cores vibrantes das flores silvestres. O sol, um gigante incandescente, elevava-se preguiçosamente acima da linha dos montes distantes, despejando luz e calor sobre a terra, que exalava o aroma doce de terra molhada misturado ao perfume intenso do jasmim e da lavanda.
Naquele lugar, as manhãs começavam com o concerto dos pássaros, cujas canções teciam uma melodia que parecia celebrar a própria essência da vida. O vento, um visitante constante, soprava através das árvores, sussurrando segredos antigos para quem quisesse ouvir. Ele percorria o campo, agitando a grama alta, criando ondas num mar verde que se estendia até onde a vista alcançava. No centro desse paraíso esmeralda, uma figura solitária caminhava com a tranquilidade de quem não tem destino ou pressa. A cada passo, os pensamentos flutuavam tão livres quanto as borboletas que, vez ou outra, acompanhavam seu trajeto. Era um ritual diário, um momento de comunhão com a natureza, onde cada respiração parecia limpar as preocupações acumuladas e cada brisa trazia renovação. Nesse caminhar meditativo, a figura parava frequentemente para admirar pequenos milagres: o orvalho sobre a teia de aranha transformando-a em colar de diamantes, o voo rasante de um falcão que partia em busca de sua presa, o jogo de luz e sombra criado pelas nuvens que corriam livres no céu. Era como uma nuvem num céu de verão: leve, passageira e repleta de formas. Mas somente seu coração conseguia interpretar.
Certa manhã, enquanto percorria esse caminho de introspecção, um velho carvalho chamou sua atenção. Majestoso, resistia ao tempo com a dignidade dos que sabem suas raízes profundamente ancoradas no solo fértil da história e da experiência. Sob sua copa, a luz do sol filtrava-se, desenhando padrões dourados no chão. Sentando-se sob essa cúpula natural, a figura deixava-se envolver pela sensação de eternidade que o lugar evocava. Foi então que, entre a luz e as sombras, um pequeno ser alado chamou sua atenção. Uma libélula, com asas que pareciam feitas de vidro e reflexos metálicos, pousou suavemente ao seu lado. Havia algo de mágico naquela presença, um lembrete de que a vida, em todas as suas formas, é um mosaico de momentos, cada um contendo sua própria beleza e singularidade. Ao cair da tarde, quando o sol começava sua descida para além dos montes, pintando o céu de tons ardentes de laranja e vermelho, a figura levantava-se e retomava seu caminho de volta para a casa, onde o fogo já estaria crepitando na lareira e uma caneca de chá fumegante aguardava. No silêncio confortável da cozinha, enquanto a noite revelava sua exuberante pintura estrelada no céu, refletia sobre o dia e sobre as lições sussurradas pelo vento e pelo voo da libélula.
Naquele campo, longe do turbilhão da vida urbana, cada dia era uma nova oportunidade de entender que a existência, com todas as suas reviravoltas e revelações, não precisava ser mais do que isso: simples, pura e profundamente conectada com o mundo natural. E nessa simplicidade, encontrava uma paz que nenhum outro lugar no mundo poderia oferecer.
Transformar, transbordar e submergir…
Todo efêmero…
Cuidar, semear e lapidar…
A toda eternidade, amém!
Vivemos, guardamos e produzimos…
Em toda memória…
Arrastamos, acumulamos e martirizamos…
Até adoecermos nossa mente!
-
Talvez a poesia não passe de um gênero de crônica, apenas: uma espécie de crônica da eternidade.
Ela não rejeita a eternidade
E a coragem de pôr fim ao desespero
Agora eu vejo o sol novamente
Apenas por causa do amor dela
- The Essence of Your Heart
Castigo
A madrugada é uma eternidade
Vejo a hora de entregar-me à insanidade
As músicas no rádio são o meu abrigo
Noites insones é o meu castigo
Fico entre a música e o caderno
Escrevo em muitas linhas para tornar-se eterno
Já que o vento te levou para longe
E eu te chamo, e você não responde
Você virou uma angustiante saudade
Sinto ausência de paz e liberdade
Meus lábios se calam diante de um beijo
É somente os teus que eu desejo
Até quando durará esse castigo?
Ei de morrer e no coração levá-lo comigo?
Vivo uma infindável dor
Um adeus pôs fim ao nosso amor.
Lucélia Santos
Mordomo Querido
Uns meses que parece eternidade,
Como os meus versos de palavras frias,
O seu ceifar, entre murmúrios e saudades,
Nas vísceras da vida, a criar na dor suas sintonias.
À inevitável senda, em palavras dissonantes,
Testemunha e vítima das desventuras terrenas,
Percorrendo o espectro das existências distantes,
Num poema sem eufonia, rimas atrozes ou pequenas
Que no além, sejas agora o eterno guardião,
Das memórias vivas, dos feitos e desfeitos,
Entre a terra e o além, numa eterna transição,
Meu mordomo querido, meu amigo eleito.
Descansar? Paz é utopia, e no além não há sossego,
Paulo, mordomo querido, na eternidade de um enredo,
Guarda-nos de teu posto, nas sombras do teu eterno apego.
Sob constelações, teu serviço é divino fadário,
Além da vida, és guardião, nosso eterno secretário,
Na penumbra etérea, permanece o teu legado.
Viver e morrer. Viver é morrer!
Não importada a idade
Mesmo sem querer
Não haverá eternidade
E viver é morrer?
O tempo não tem piedade
É viver e morrer.