Estante
Estante
O poema “A Arte de Perder” de Elisabeth Bishop nunca fez sentido para mim, desde o primeiro dia em que o li. Sempre questionei. Talvez por puro egocentrismo ou falta de maturidade, eu não sei. Passei os últimos anos da minha vida acreditando que eu podia ter tudo, que nada podia fugir de mim, que o que eu tenho eu não deveria perder.
Busquei insistentemente não perder nada. Nenhum instante, nenhum minuto sequer, nenhuma chave de todas as portas que eu abri, nenhuma parte de todos os estilhaços que caíram ao meu lado. Se eu perdia, corria pra achar. Se quebrava, corria pra remontar. Quantas noites juntei cacos, pedacinho por pedacinho, colando, remendando. Olhava a estante de longe e pensava: pronto, já dá pra colocar no lugar de novo. Ninguém vai reparar que quebrou. E voltava pra minha vida.
A verdade é que chega uma hora que você olha para a estante com mais cuidado. Com outros olhos. E isso acontece tão raramente. As vezes dura segundos. Você olha, talvez com a intenção dócil de tirar o pó. Pra ver se ainda está ali aquele porta retrato que caiu e você arrumou, dar uma folheada naquele livro que uma vez você emprestou, ouvir o DVD daquela cantora que você amava, o molho de chaves daquela casa antiga que agora está alugada e todos os vasos que já caíram e você colou.
Uma vez – e não faz muito tempo – lembro que joguei tudo no chão. Tudo. Minha estante inteira no chão. Tudo quebrado. O que não quebrou, rasguei, cortei, amassei. E me senti péssima depois. Um dia, voltei na sala. Refiz a estante, arrumei o que tinha quebrado, costurei, colei, remendei. Coloquei tudo no lugar. E o tempo passou.
Mas olhando agora, para minha estante, comecei a ver que não preciso guardar nada disso. Que tem coisas que não servem mais. Que não fazem parte de que sou hoje. Os vasos não ficaram tão bonitos como eram antes. Sim, foram charmosos um dia, mas olhando pra eles agora, posso ver cada remendo. Ao me lembrar dos cortes que fiz para juntá-los, penso até que valeu a pena. Mas hoje, hoje são somente vasos remendados. O retrato não precisa ficar a mostra por que já amarelou com o tempo. O que foi bom, simplesmente foi. Não é mais. Como a canção que hoje já não faz sentido. Como a árvore no fundo daquela foto que hoje não existe mais.
Se eu entendi o poema? Não. Ou ainda não como deveria. Há uma caixa cheia de coisas novas na sala. Mas o medo do novo é destruidor, não é? O novo, por mais que seja cheio é vazio se pararmos pra pensar. O novo não tem passado. Não tem história. O novo acovarda até os mais corajosos. Somos, bem lá no fundo, guerreiros que relutam para aceitar uma nova espada. A gente sabe que a caixa está cheia de novidades, mas não tem força suficiente para ir até elas.
Mas hoje, exatamente hoje, dia dez de outubro de 2013, olhei para as caixas repletas de coisas novas na sala. E mesmo assustada, mesmo com minhas mãos se desviando, meu corpo contestando e meu coração aflito, comecei a abri-las. Sim. Passa pela minha cabeça começar a montar outra estante e deixar essa que já existe como está. Mas não posso, não é? Preciso aprender a perder. Entender “a arte de perder” talvez ou finalmente.
Então, sentadas, eu e Elisabeth Bishop, nessa minha sala, tomando um bom vinho, rimos juntas olhando para minha estante. Cheia de histórias, de lembranças, de vasos inteiros, outros remendados, de fotos amareladas, de cartas que nunca foram enviadas, de belas canções, de sapatos com solas bem gastas, de chaves de casas por onde não entro mais, de relógios com marcador parado.
Me pergunto, em silêncio: por que eu acho que não entendi o poema ainda? Por que eu acho que não faz sentido desfazer de tudo isso? Mas afinal, é meu? Ou tudo é passageiro o suficiente para não precisar de estante?
De Traças e Lembranças
guardei teus versos
dentro do livro
que se amarelou na estante
anos depois...
quando o procurei
somente as traças sorriram para mim
tuas palavras?
- voaram como pássaros -
nada mais restou daquele imenso amor!
Verluci Almeida
221106
meus sentimentos estão mortos no teu terrível sacarifico,
eles te levaram no estante que mais te desejei,
sinto tudo que eles sentiram a escuridão no coração,
tenho um mostro dentro de mim e está faminto,
morremos no fato que estamos vivos,
minha vida esta dentro do teu coração,
perpétuo, sentimento, tudo pode ser destruído menos que sinto.
olho para o céu que vejo são meus sentimentos por você...
tudo está na beira de um precipício,
me calo em tuas pertubações,
tudo desaba em pequenos sonhos,
estamos realmente mortos.
por celso roberto nadilo
Decidi: eu quero uma casa grande, com filhos barulhentos, porta retratos na estante, uma parreira florida, com sua sombra merecida...
Talvez seja de um espaço na web ou de um espaço na estante que eu precise para guardar minhas falsas memórias. Talvez precise ser na virada do dia e esperar um brilho nas ideias para que tudo venha a surgir.
O que eu preciso mesmo é de um papel e uma caneta, eu preciso mesmo é da voz e do violão, eu preciso mesmo do gravador ligado, fingindo fazer registro do que eu sempre estou fingindo dizer.
Talvez eu precise de perguntas, mas não daquelas que todos estão cansados de ouvir, eu preciso daquelas que te fazem pensar, sem te ofender, daquelas que te fazem fugir do clichê, daquelas que te fazem por pra fora tudo aquilo que você tem vontade de dizer.
O que eu quero mesmo é de um pedaço de papel é de um lápis quase sem ponta pra escrever tudo aquilo que eu quero esquecer, só pra lembrar.
O que eu quero eu nem sei mais e se essa estreia já aconteceu e se tudo não passar dos padrões de qualidade e se autoria nem me pertencer, eu ainda posso voltar pro pedaço de papel.
Um incenso queima.
A gata de porcelana pisca o olho
lá na estante.
E a vida segue com meu estômago
me lembrando do almoço.
Ei menina, já tá na hora de retirar a poeira daquele sonho que você guardou na estante . . . O dia tá sorrindo pra você!!
C O R A G E M!!!!
O poeta Ostentação é aquele que tem a estante cheia de livros
mas só lê a Playboy por causa das fotos.
Pelos sentimentos ausentes...
meu coração parou,
no estante que falou,
que não me amava mais,
que meu mundo era pequeno de mais,
a vida acabou se no fundo do teu olhar...
tudo que era belo fico feio se graça...
Tudo está morto!
Em fim tudo se acaba,
caminho pela escuridão,
sem olhar para nada,
meu coração morreu,
apenas meu cadáver caminha,
mesmo que apareça outro amor,
minha vida terminou,
o amor que tinha acabou se,
no fato de sentir mais nada.
por celso roberto nadilo
Passando a mão de leve em minha estante de livros, comecei a caçar por algum livro que me tirasse do tédio. Achei um, com a capa toda branca, sem nenhum detalhe. Sentei-me na poltrona e comecei a ler. O mocinho se apaixonava pela mocinha e a mocinha se apaixonava pelo mocinho. Ambos escondiam e fingiam estar nem ai para os seus sentimentos. Mas um dia, o mocinho e a mocinha tomaram coragem e trocaram beijos, abraços e palavras doces, e então, estava feito o casal! Foram caricias, brincadeiras, e tudo de bom no que um casal recém formado poderia ter e aproveitar, mas então, vieram as brigas, as lágrimas, a despedida e a saudade. A última folha do livro estava em branco. Peguei papel e caneta e sentindo um aperto em minha alma, escrevi: “[…] E então, a mocinha e o mocinho nunca mais se encontraram nem trocaram mais um bom dia. A mocinha acorda todas as manhãs, olha para o outro lado da cama e percebe que o mocinho não está mais la. E a mocinha chora e sente falta, muita falta. Um certo dia, a mocinha caçava um livro que a tirasse do tédio. Foi então que ela achou a história dela e dele, e percebeu que o final não tinha sido escrito. Poi-se a escrever, entre lágrimas, aquilo o que ela nem ninguém esperava para o fim daquela linda história: Um adeus
Um fundo branco... Placas com setas, vá á frente, caminhe
Um estante no silêncio, a conversa sem palavras
A procura da linha reta com passos tortos, ajeitarei os pés
O reto está no concerto no ato de se curvar diante do Grande
Uma história a ser contada, enquanto vivida, ainda assistida
O Grande estar por vir, curvem os corpos, endireite os pés
Ninguém andara em linhas restas com pés tortos
A verdade tem de ser vivia antes de ser pronunciada
O efeito das palavras testificadas em um ato de escolha
Modifica o modo de viver, lhe trás o poder
O ser em Quem fez o seu "Eu" é a resposta da razão da existência própria
O Grande esta por aqui, por ali, por todos os lados
Então, viva da verdade, despreze todos os dias a mentira, do falso "grande" destruidor de vidas!
Na minha estante de menina tem cores brilhantes,
nobres amantes e esquina.
Depois de certas manhãs, certas manhas de menina.
Saia e alcinha.
A sua cabeça ficaria bem na minha estante!
Ahhhh...se eu fosse um urso,um alce,ou um veado ,descontaria tudo em você!
Amores aprisionados
como troféus na estante
são números...
dados.
Amor é pra ser con-vivido
repartido, doado
Não devemos ficar parados, feito um objeto na estante, esperando que alguém tire você do lugar, como uma opção de decoração. Devemos ser livres e eu mesmo devo decorar a minha própria vida, sem ficar esperando que alguém me tire do lugar.