Estante
Há livros escritos para evitar espaços vazios na estante.
"Vou guardar tuas cores... Vou te guardar comigo... Teu sorriso eu vou deixar na estante pra eu ter um dia melhor..."
Eu vivia na minha estúpida decepção.
A poesia era um leigo monólogo que amarelecia na estante.
As nuvens passavam e levavam consigo o brilho dos meus olhos.
Toda canção de amor fazia de mim um estraçalhar de sonhos...
Meu inquebrantável subterfúgio era a tristeza.
Até que um dia viestes ver-me.
Ao longe percebi teu reflexo no vidro – “Altivo!”.
E então, com um só toque, mudaste todo o crepúsculo!
Com estas tuas mãos macias,
Com teu olhar de quem se perde no canto dos pássaros,
Com este teu perfume de madrugada
E teus cabelos que dançavam ao vento...
Fizeste acordar meu coração latente!
E agora sou toda as pétalas das flores,
Respiro o inócuo aroma da vida que rejuvenesce...
Sou eu novamente...
Eu, com esta visão além e aquém do horizonte,
Que aspira quase às mesmas quimeras irreais
– só que agora teu nome está em todas elas!
Agora sou eu... e sou você.
Quando chorares pelo término do livro, anime-se, seque suas lágrimas e lembre-se de que a estante é composta por muitos outros!
Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei...'
Os objetos que eu costumava manter com orgulho em destaque na estante hoje estão empoeirados dentro das caixas de que vivo desviando. Os CDs do AC/DC, Janis Joplin, Iron Maden cederam seus lugares a Gonzaguinha, Maria Bethania e Milton Nascimento. Minha coleção de Paulo Coelho foi devorada por cupins e eu nem notei. Meus DVDs de Alien, Predador, Duro de Matar, onde foram parar? E as canções que escrevia querendo transmitir certa inconseqüência adolescente hoje são retratos meus, do que fui ou desejei ser, das pessoas importantes que cruzaram o meu caminho e se fundiram a mim me tornando um pouco uma mistura homogenia com suas manias irrelevantes ou encantadoras. Sei que me engano imaginando que essas canções não serão esquecidas, por que as pessoas mudam todos os dias, a beleza passa, a personalidade é uma mutação constante, e as paixões deslizam por entre os dedos como algo que não podemos controlar. “Hoje sou mais que ontem e um pouco menos que amanhã”. Na casa que me encontro agora há reformas todos os dias com as paixões que chegam e se vão, com os amores que ficam, com o sorriso que aprendi a admirar, com a minha alternância de padrões e razões. Também há uma garota que pinta as unhas de verde, que não bem conheço porque entrou de repente, sem pedir licença, que esta trocando tudo de lugar, derrubando paredes e fazendo uma bagunça assustadora.
Sabe quando a gente tem um objeto na estante que já não transmite mais a mesma beleza? Aquele objeto empoeirado, que fica ali na estante, contaminando os outros objetos, mas que não tiramos porque ele nos trás algumas lembranças de quando ainda não tinha poeira. Pois bem, quando a gente tira esse objeto empoeirado, a estante fica bem mais bonita. E a lembrança? - A lembrança? A lembrança não é objeto. A lembrança não é palpável.
☾.•°*”˜˜”*°•.✫
Desocupei minha estante de prioridades pra caber infinitamente eu,
sem me diminuir por falta de espaço.✫ . ¸ ¸ . • ´ ¯ ` » Paulo Ursaia
Lá está ele, em uma casa solitária, com luzes acesas. Na estante, fotografias antigas, pessoas importantes, momentos que o fazem lembrar do que passou e se perguntando onde estão aquelas pessoas. Não há ninguém ao seu lado, com exceção de seu fiel animal que o olhava, deitado naquele chão, ele sempre ficava naquele canto da sala quando chegavam, ficava lá até o cair da noite, o qual acontecia minutos depois da chegada deles. Não vejo ninguém ir lá há tempos. Não consigo ver com nitidez o que ele está fazendo por conta da janela embaçada, devido aos pingos de chuva, a tarde estava escura, diferente de seus cabelos. Mas parece que estava sentado, na velha poltrona, de olhos fechados, com seu amigo, o qual recebia carinho. Com a outra mão segurava aquele retrato, como sempre fizera. Depois de alguns instantes, um barulho, seguido de um latido, semelhante a um uivo. -Finalmente as luzes foram apagadas. -
Em cada estante um livro
Em cada livro um porquê
Em cada por quê uma resposta
Em cada resposta VOCÊ
Em cada noite um sonho
Em cada sonho um desejo
Em cada desejo uma saudade
Em cada saudade VOCÊ
Em cada mês uma semana
Em cada semana um dia
Em cada dia uma lembrança
Em cada lembrança VOCÊ
Em cada pessoa um amigo
Em cada amigo uma conversa
Em cada conversa um assunto
Em cada assunto VOCÊ
Em duas bocas um beijo
Em cada beijo um sentimento
Em cada sentimento um amor
Em cada amor VOCÊ
Em cada boca uma palavra
Em cada palavra uma certeza
Certeza que amo... VOCÊ!
Sobre a minha pele eu sinto o calor de suas mãos frias
Sobre meus olhos eu sinto o peso ao anoitecer
Sobre minha sombra eu sinto o seu reflexo
Sobre o seu sorriso eu senti o peso de minhas lágrimas, sobre minhas lágrimas eu senti a felicidade em te ver sorrindo.
Sobre os meus tortos passos eu implorei para que os seus fossem acompanhados pelo meu anjo
Sobre o seu desprezo, eu questionei mas chorei em silêncio
Sobre as suas falsas palavras a meu respeito, eu desejei que sentisse toda a dor que eu estava sentindo, depois desejei que não sofresse.
Sobre tudo, eu desejei, mas virou passado uma rotina incontestável em te colocar na estante.
Nos encontraremos lá na frente... No altar, onde seremos jugados pelos nossos erros.
Onde seremos perdoados, onde ainda assim, seremos amados, e ao olhar para trás, algum dia se lembrará da minha imagem, e sem deboche. A mesma virá a sua mente. Quem sabe nesse plano existente, você ainda mostre os dentes?