Estação
Primeira Estação do Amor
Deixa-me voltar ao início,
ao momento em que teus olhos
eram o sol que despertava o meu dia.
Quero reaprender o mapa do teu sorriso,
desenhar cada linha da tua alma
como se fosse a primeira vez.
Sei que errei,
e os ecos das minhas palavras malditas
ainda ressoam entre nós.
Sei que causei feridas
que o tempo hesita em curar.
Mas te peço: deixa-me ser o bálsamo,
não para apagar, mas para reconstruir.
Lembra quando nossos passos
se entrelaçaram na mesma direção?
Quando o mundo, mesmo em silêncio,
era poesia por estarmos juntos?
Ainda guardo esse sonho,
intacto, em meu coração.
Não venho prometer perfeição,
mas verdade.
Não trago juras,
mas mãos estendidas.
Quero que o teu hoje me aceite,
não pelo que fui,
mas pelo que posso ser ao teu lado.
Te ofereço o meu tempo,
meus dias e noites,
não para consertar o passado,
mas para criar um presente digno de nós.
Diz-me que ainda há espaço
para uma nova história,
uma onde o amor que plantamos
possa florescer outra vez.
Porque, mesmo em meio à dor,
és e sempre serás minha primeira estação.
Perdoa-me.
Dá-me uma chance de recomeçar,
como se fosse a primeira vez.
Viagem
Partindo nessa noite nebulosa
Próxima parada? pensamentos.
Passo pela estação de memórias,
Onde embarcam antigos momentos.
Pela janela vejo a incerteza,
Acompanhada da angústia e do desprezo,
Prestes a ingressarem nessa rota,
Conduzidos pelo maquinista, o medo.
Aproximando-se da estação vivência,
Dor e tristeza tomam o vagão,
De longe se vê a infelicidade,
Obstruindo a passagem da comoção.
Chegando ao fim dessa jornada,
Afeto e ternura tornam-se presentes.
Esperançoso concluo o meu caminho,
Diante dessa longa viagem recorrente.
A natureza é sábia, transforma-se e transmuta-se a cada estação. Ao calor da aurora, cede lugar a noite mais longa. Ao florescer das plantas todas, pode-se prever que muito breve suas folhas cairão. As águas sobem, as águas descem, num contínuo e perfeito sincronismo. Tudo é mutante e mutável, porque nós seríamos extáticos? Vamos nos integrar a esse transformar e permitir que também nossas vidas sigam esse fluxo de energia infinita.
Estação Ferroviária
As paixões violentas por coisa nenhuma
Do cansaço de se estar em mãos insanas,
Mãos que jamais terão satisfeitos seus desejos
A sutileza das sensações inúteis
O que há em mim é sobretudo o cansaço
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural
Não tenho medo dos maus
Mas do cansaço dos bons
As paixões violentas por coisa nenhuma
A vida me obriga à desatar tantos laços,
E causando infinitos desembaraços
Provocando em meu corpo e alma
Um profundo e prazeroso cansaço
E na imensidão do meu inconsciente,
No vazio da minha mente agora quieta,
Encurto o passo, me lançando na exaustão
Dos meus braços.
Há sem dúvida quem ame o infinito
Há sem dúvida quem deseja o infinito
Há sem dúvida quem não queira nada
Estacionamento Resolvido
Estação
No
Tempo certo
De ser
Ser
No
Tempo certo
De estação
Temporões
De necessárias
Tolices
Lembranças
Que ficam
Tempo certo
De viver
Descarrilhado
Natureza
Pra ser
Natureza
Precisa
De quatro
Estação
Trem de ferro
Esse trem
Só de uma
Só uma
E tá bão
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Muita força
Muita força
Muita força
Vou depressa
Vou correndo
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
O inverno é a estação da morte. É quando os caçadores entre nós procuram os fracos, até mesmo os tolos. Só as mais fortes criaturas da natureza sobrevivem a ele. O inverno é a época do lobo, a época do leão. É quando todos os fracassos da natureza se tornam a refeição. Depois, a primavera traz vida nova e Deus tenta de novo.
Incertezas no cerrado
Primavera, verão, outono, inverno
Qual estação no cerrado é decisão
Ficar ou partir neste desejo interno
Em ebulição no meu mesmo coração
Saudade? Tristeza? Encanto? Dorido?
Aqui debruçado na vida, em suma
Como sabê-lo? Se o incerto está partido
E os trilhos da razão dão em parte alguma.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07/03/2016, 05'55" - Cerrado goiano
O inverno é apenas uma estação, logo chegará a primavera.
O deserto não é infinito, breve você chegará aos mananciais.
Toda provação tem um fim.
Ventos brotam de todos os lugares, flores crescem em cada estação. Sinto cheiros, vejo vozes, escuto silêncio e em meio a tudo isso teu rosto escupido em mim. Sem palavras, sem presença...mas te vejo: na saudade, na vontade, no desejo que incendeia minhas lembranças e nas memórias que te faz presente. É um rosto oculto, distante...mais consigo em pensamentos te transportar do passado para o presente.
Tua ausência me persegue, me segue em noites quentes ou frias, em tardes nubladas ou ensolaradas em madrugadas geladas.
Música trás teu nome, exala teu cheiro, adormece e me faz sonhar !
Me troco, me mudo, me transformo, me invento, recrio, renasço e vivo você.
Fecho os olhos e te encontro na estação do tempo. Foi lá que minha viagem parou, foi lá...que parei no tempo.
Na estação, em Bruxelas, uma voz em francês, depois seguida do neerlandês e inglês, orienta para o cuidado entre o vão do metrô que acaba de chegar.
À porta, provavelmente para sair, meus olhos se cruzaram com outros que não souberam muito o que fazer, e pareceu -me desistir do que faria.
Eu adentrei o metrô, acomodei-me um tanto quanto incomodada com a imagem que acabara de ver, e não consegui deixar de olhá-lo, agora pela vidraça, enquanto algumas coisas corriam à minha mente, à mesma velocidade e barulho de tudo o que se misturava ao reflexo dele.
De repente ele foi para a porta de saída à minha frente.
Todo meu corpo manteve-se inerte, exceto os olhos teimosos.
Ele correspondeu-me o olhar e quando abriu a porta para sair, eu sinceramente não sei qual o problema dos meus olhos, mas estes só se conformaram em não mais procurá-lo quando ele desapareceu à minha direita.
- Mon Dieu, me abana! - pensei e talvez tenha feito o gesto com as mãos. As duas.
Só sei que alguns segundos depois, tempo que fora suficiente para que ele voltasse ao mesmo metrô, minhas mãos também pararam na mesma posição (de abano), porque contrariando toda a inércia masculina europeia (e eu gosto disso, da inércia), sentou-se ao meu lado a imagem que me fizera fazer o que raramente faço: deixar alguém ir se dos meus olhos.
Mas aí pronto.
Face enrubescida, mãos à abanarem ainda mais, um calorão da porra, embora fosse início da noite, e ele a tentar entender aquela cena, mais desconsertado que quem só agora conseguiu vos falar.
É que emudeci-me.
E-mu-de-ci-me! Merda!
- Vous ne parlez pas français?
- Ãham?
- English?
- Ãham?
- Espagnol?
- Ãham?
Putz! E as mãos a abanarem, o rosto cada vez mais vermelho, a boca cada vez mais muda, ele cada vez mais desesperado, e eu também, ambos pelo mesmo motivo: por eu não conseguir falar!
- Desolé, Désolé, Désolé - levantou-se, abriu a porta na próxima estação, e saiu, ainda a falar: Désolé, Désolé, Désolé, como se tivesse cometido o maior e o mais espúrio dos pecados…
E lá fiquei eu, desolada, a lamentar não ter agarrado os braços daquele 1,80 cm, cabelos pretos, olhos da mesma cor e pequeninos, boca carnuda, sorriso lindo, barba muito bem feita, vestido numa camisa branca, uma calça jeans e um despretensioso tênis, pelo menos até eu conseguir reaver meu raciocínio!
Àquele momento eu ia a uma festa de aniversário de uma amiga, e como sempre, a festa seria regada muita bebida acóolica.
O problema é que agora já estou de volta à mesma estação de metrô, há bastante tempo, um tanto quanto cambaleante, e ele não reaparece! Já conversei em francês, inglês, espanhol, italiano, árabe, doguês com as pessoas, e nada…
Eu só queria, enfim, dizer a ele que "Oui, oui. Je parle français!"
Era só isso…
Putz.
Mas c'est la vie!
E eu sigo no que eu faço com maestria: assustar os homens, de um jeito ou de outro! Uma pessoa desse tamanho, e lá da Mara Rosa…
Não me conformo com isso, viu!