Escritores Brasileiros
(...) sinto quando termino um livro: a pobreza da alma, e esgotamento das fontes de energia.
Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.
Quando tomei posse da vontade de escrever, vi-me de repente num vácuo. E nesse vácuo não havia quem pudesse me ajudar. Eu tinha que eu mesma me erguer de um nada, tinha eu mesma que me entender, eu mesma inventar por assim dizer a minha verdade.
– Clarice, a partir de qual momento você efetivamente decide assumir a carreira de escritora?
– Eu nunca assumi.
– Por quê?
– Eu não sou uma profissional, eu só escrevo quando eu quero. Eu sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever. Ou então com o outro, em relação ao outro. Agora eu faço questão de não ser uma profissional para manter minha liberdade.
– Se você não pudesse mais escrever você morreria?
– Eu acho que, quando não escrevo, estou morta. (...) É muito duro, esse período entre um trabalho e outro, e ao mesmo tempo é necessário para haver uma espécie de esvaziamento para poder nascer alguma outra coisa, se nascer. É tudo tão incerto…
– No seu entender, qual o papel do escritor brasileiro hoje?
– De falar o menos possível.
O que escrevo não pede favor a ninguém e não implora socorro: aguenta-se na sua chamada dor com uma dignidade de barão.
Escrever pensando em leitor é bobagem. Leitor não existe.
Estou tão burrinha hoje, quanto mais eu escrever mais bobagens digo.
Pensei que só não deixava de escrever porque trabalhar é a minha verdadeira moralidade.
Uma pergunta que me fez: o que mais me importava – se a maternidade ou a literatura. O modo imediato de saber a resposta foi eu me perguntar: se tivesse que escolher uma delas, que escolheria? A resposta era simples: eu desistiria da literatura. Nem tem dúvida que como mãe sou mais importante do que como escritora.
Nunca me senti realizada como escritora, e tenho a impressão de que será assim até eu morrer.
Estou desiludida. É que escrever não me trouxe o que eu queria, isto é, paz.
Se sou um escritor há muito tempo, só posso dizer quanto mais se escreve mais difícil é escrever.
Escrever, e falo de escrever de verdade, é completamente mágico.
Peço também que não leia tudo o que escrevo porque muitas vezes sou áspera e não quero que você receba minha aspereza.
Talvez porque não somos nós que escrevemos os melhores momentos da nossa vida. (Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei)