Escritor
Máscara de ferro
Pois de tanto esconder sua cara,
Já pensou ser nova personagem.
Ocultou-se sob rica plumagem
E sob nova armadura me encara.
Ao querer passar do seu limite,
Abusou do meu franco apoio,
Separado do trigo foi o joio,
A audácia tudo lhe permite .
Mas topei com a indiferença.
Ser trigo ou joio, agora pouco importa,
Se a única saída for a porta.
A ferida foi mais funda do que pensa.
Causadora de todo meu desgosto
Foi a máscara a lhe esconder o rosto!
Pergunte de vez em quando: para que serve o que estou fazendo agora? Devo continuar agindo assim? Reflita um pouco, melhore alguma coisa, e vem ai uma nova felicidade (Nelson Locatelli/escritor)
Engole a esperança e o otimismo a seco mesmo. Agora pode parecer ruim, mas já vem o efeito positivo em forma de um novo tempo feliz (Nelson Locatelli/escritor)
"O amado faz para o seu amigo dois amados, semelhantes em honra e valores a si mesmo e o amigo enamora todos os tres."
Sempre o progresso
Por razões misteriosas, o progresso não desiste.
Infiltrado para sempre no insosso cotidiano,
Recompensa os audazes, o passado não resiste,
Uma década, agora, se completa em um ano.
A miragem perigosa, sob o manto igualitário,
Equipara pouco a pouco num medíocre conjunto,
O pascácio e o sábio, o magnata e o proletário
Nivelados são por baixo, mais por falta de assunto.
E a fonte milagrosa da eterna juventude
Pode parecer piada ou remédio indolor.
Nem o cético lhe nega sua principal virtude,
Ser agente do futuro: micro e computador.
Submergidos pela onda, a terceira ou a quarta,
Alvin Tofler batizando é manchete garantida.
Abandona-se o escriba para redigir a carta,
O Excel e companhia alicerçam-nos a vida.
Houve caixas milagrosas no passado bem recente.
Quem se esqueceu do rádio, da TV, do gravador,
Para trás ficaram todas na mudança de ambiente,
Pois convergem, se agrupam rumo ao computador.
Um Spinoza, ou um Sartre, ou um Kant, ou quem quiser,
Órfãos de identidade rumam junto pro arquivo,
E de lá apenas saem ao comando de um qualquer
Que ao digitar o Google, dará prova de estar vivo.
O que se salva?
Confiava cegamente neles. Aí aprendi o Braille.
“De tanto ver triunfar as nulidades”, exclamou Ruy Barbosa por volta de 1914, “...o homem chega a desanimar da virtude”. Naquela época, como hoje, o desânimo se justificava, dizem. Será? Para quem a tarefa de endireitar o mundo parece excessivamente aborrecida, resta o consolo de entender que o que puder ser salvo, um dia, o será. Dito de outra maneira: Se estiver confuso, confunda os demais e ganhe tempo. Sobretudo, jamais interpele os impostores. Para quê? A credulidade substitui a contestação; o fraco andará a reboque de conceitos que não entende, sempre disposto a amaldiçoar uma verdade em conflito com a crença que acabaram de lhe instilar. O ingênuo contemplará boquiaberto o espetáculo que lhe é oferecido. Existe justificativa melhor para os chamados showmícios? Nada como a estridência de um espetáculo para determinar uma opção política. Um espetáculo de ópera-bufa protagonizado por um candidato comunicador e pronto, muda o destino de um país. A tal consciência política tira férias remuneradas, para em seguida se indignar com uma escolha desastrada.
Isso só acontece na Namíbia, aquele país tão limpinho que não parece África, já que por aqui, os showmícios foram eliminados.
Exigir algo de meros títeres subordinados aos próprios instintos, é um pensamento utópico e, sobretudo, indigesto, já que a injustiça jamais se limitou a gerar um filho único. Quanto à justiça, ela é cega por definição.
Importante é deixar sempre um espaço para um recuo, que permita contemplar o todo hostil com um sorriso, mesmo com o risco de saber que a qualquer momento, poderá virar um ricto. O segredo, se é que existe, é tocar sempre com a ponta dos dedos, roçar sem o compromisso de aprofundar-se, sem provocar a alergia à verdade daqueles que dela se proclamam donos. Ressaltar o mal, que se esconde atrás de argumentos traiçoeiros, é, seguramente, uma armadilha ao nosso comodismo, a ser cuidadosamente evitada.
Visto assim, tudo passa a ser mero objeto de escárnio. Não há mais o risco de tombar empunhando a bandeira de um ideal com seu prazo de validade vencido. Aos que imaginam ser esse um caminho para a superficialidade, para a alienação, termo abusivamente presente em debates acalorados, Pascal retrucaria ser importante ter um pouco de tudo e não tudo de alguma coisa. Não é uma receita de vida nem um convite ao alheamento e sim, uma forma menos tensa de examinar o palco da existência, no qual um detalhe irrelevante pode arruinar o mais ambicioso projeto, um toque inoportuno de celular consegue dissipar a aura de um momento mágico, onde, finalmente, ídolos adquirem essa condição, enquanto iluminados pelo jogo de luzes de um diretor experiente, para se desintegrar quando baixa a cortina. O “para sempre” dura no máximo até o fenecer da estéril paixão.
Indiferente a reflexões desse jaez, a sociedade se encarrega de ignorar a imagem tétrica do relógio sem ponteiros de “Morangos silvestres”, soterrada pelo advento de inexpressivos relógios digitais. O diálogo encontrou substituto digno no discurso vazio, sem contestação possível, a arenga insossa do “vender o peixe”. Tão compacta é a fala que rege a sociedade, que não há espaço para discussão. Aforismos sem valor, e não vale a pena enumerá-los, passam a governar as mentes. Contestar? Por acaso existe a certeza – e se existe, onde é que ela fixou residência? Deve estar perdida entre a teia de Penélope e o vão esforço de Sísifo, entre o ardil e a sentença.
Levar a sério a realidade? Melhor dirigir-lhe um olhar zombeteiro. Será essa a desforra. A pretexto de estarmos vivendo intensamente determinado momento, não faz sentido afirmar ser determinado instante mais importante do que outro. Não há mais nada de excepcional, inexistem encruzilhadas históricas, a não ser para nós mesmos. Se houver alguma perspectiva inebriante, bastará um olhar irônico para demolir qualquer arcabouço ou dogma, para transformar em bagatela ao invés de sofrer por conta de males, cuja cura teima em fugir à sabedoria. O caniço pensante precisa, com urgência, aprender a dar de ombros.
Nossa jornada é apenas o atalho para descobrir, algo tardiamente, a inutilidade de ser sério. Os mais nobres sentimentos abdicam da sua solidão majestática ao chocarem-se com o trivial. Entre sermos inconsoláveis cassandras, ou torcer pelo fracasso das nulidades, manter o sorriso é uma medida de sobrevivência. Saída poética, talvez, já que sem sermos poetas, saberemos ser fingidores. Ante a falta de pudor do político, o sorriso do sábio. Isso não irá mudar algo, mas se não é a solução, proporcionará pelo menos um agradável fim de semana, sabendo que o Febeapá do saudoso Ruy Porto possui ainda várias páginas em branco.
E as nulidades? Bem, quantos têm na ponta da língua o nome de quem derrotou Ruy Barbosa, nas urnas? Eis a resposta definitiva, ainda que disfarçada de pergunta.
Pessoalmente, se é que isso vale algo, acho Chico Buarque um compositor brilhante, um cantor medíocre e politicamente o considero imberbe. Na época da Banda ele ainda não tinha se exilado no desconforto da Île Saint Louis. Essa pequena paródia é apenas uma carona sem-vergonha na magistral A Banda e uma reflexão da pátria subtraída, na expressão do bardo. Menções a mensalões e outros “ões” ficam a critério da coloração política do leitor.
O bando
Estava bem indeciso
Duda Mendonça chamou
Para votar no PeTê
Lulinha paz e amor.
E tanta gente sofrida
Pensou livrar-se da dor
E foi votar no PeTê
Lulinha paz e amor.
O pobre diabo que não tinha dinheiro votou
O palanqueiro que contava vantagem contou
E quem sonhava com o Fome Zero
Votou para ver essa nova miragem
A marolinha que virou um tsunami cresceu
O Manteguinha os cordões da bolsa abriu
E a tigrada toda se assanhou
Votou na Dilminha
E então deu no que deu
O aposentado se esqueceu do cansaço e pensou
Que tinha vindo a bonança ... por isso dançou
A dona Dilma fechou as janelas
Pra não ouvir mais
O som das panelas
A coisa piorou mas o Guido insistiu
O rombo que estava escondido surgiu
A Economia toda enfeou
E foi a debacle que o governo causou
E pra total desencanto
O que era doce acabou
Agora vem o ajuste
Depois que o bando roubou.
Adeus as belas vitrines
Sem Minha casa melhor
Depois que o bando passou
Vejam o que sobrou.
Num mundo enjoado, que se distorce num caleidoscópio causando vertigens, é difícil alcançar o destino...
Pequenos gestos de amor, respeito e educação podem deixar o mundo bem melhor. Seja você também um agente do bem. Vamos juntos vivermos a paz com mais amor e esperança em Deus (Nelson Locatelli, escritor)
Não precisamos procurar Deus, e sim desenvolvê-lo, pois Ele vive em nós e cresce com a nossa fé (Nelson Locatelli, escritor)
Não espere muito dos outros. Você sempre tem que ser a parte mais interessada em fazer acontecer (Nelson Locatelli, escritor)