Era
Ela sorria ao despertar,
O sol já estava a clarear,
Organizava seus pensamentos,
Era hora de recomeçar,
Aquele dia acabou,
Junto com a sua dor,
Mas as lembranças vinham em mente,
O dia tinha passado felizmente,
Mas a despedida ainda machuca,
Lembrava das lagrimas,
Caindo em meio a chuva,
Enquanto atravessava a rua,
Aquela noite tinha lua,
Mas no fundo sabia que a culpa não era sua.
A nau e o sonho...
Era tudo um imenso breu
Nada se via além da vante
Nada se ouvia, calmaria, fé e desejo
Eu, um Orfeu sem guerras
Em pequena nau adaptada para pesca
Buscava nas cordas arpejos esquecidos
Iscas alçadas em anzóis, adormeciam nas águas
À espera dos peixes, sempre bem vindos
Justaposta para o prazer da pesca
De nada carecia: vinho e amor havia
Para a aventura sonhada e de valia
Coragem habitava o peito: tudo se podia
Eu era muito ciumenta...
mas parei de ser quando
percebi que ninguém
ocupa/rouba o lugar de
ninguém da vida das
pessoas. E se por acaso
“ocuparem” seu lugar,
é porque aquele lugar
nunca foi seu.
O autoritarismo ates era considerado o impedimento do exercício do que é de direito, e a liberdade era o exercício desse direito. Mas hoje a liberdade tenta tirar o direito e o impedimento a isso é o autoritarismo.
era mais um dia comum e silencioso
cuja paisagem sonora se deslumbrava
com os roídos dos insetos que gritam.
os insetos mudos ainda pertenciam ali,
rotineiramente aprontados para mais um dia de labuta.
esta é a pequena história de uma cigarra,
da ordem dos insetos que gritam.
uma cigarra específica,
embora quase não se diferenciava das outras.
a história não é próspera, pois
não se fazem mais histórias prósperas sobre dias comuns e silenciosos.
sobretudo, a cigarra sim.
esta gritava mais que as outras.
gritava pela sua condição de esquecida.
era domingo
quando um cara chorou na minha frente.
dizia se arrepender de algo que fez.
não vinha ao caso o que era.
me dizia que sua mãe jogara praga na sua história
quando com 15 anos resolveu fugir de casa.
dizia a mim que gostava de elis regina.
estava tocando em algum lugar no momento dessa conversa.
me comunicava com ele pelo meu olhar.
não me faltavam palavras,
mas era tão somente o olhar
que ele buscava.
não esperava de mim uma saída pra sua situação,
o homem na minha frente só queria o meu olhar.
estremecido por dentro eu estava.
voltei pra casa sabendo que aquele homem se arrependera
do que havia feito.
era tarde demais, ou não.
mas aquele homem, magro, de cabelos pretos, olhos baixos
que chorou na minha frente
havia se arrependido.
continuei o meu caminho pensando nisso,
atravessado por uma estranha sensação de que poderia ser eu.
dos dias que não se quer ser
era mais uma madrugada
dessas tempestuosas.
noite estranha era aquela.
não sentia o cheiro da chuva.
diferente de outras,
não existia relação ali,
entre mim, a água que ruíra na minha janela e a madrugada.
noite atípica.
o frio se acomodava latentemente aos arrepios da estranheza.
quando dei-me por conta,
estava lá, fitando uma poesia,
que temerosamente me desaparecia.
quando nossos olhares se cruzaram,
lembro-me de querer vorazmente devorá-la.
era estranho,
a madrugada que não escolhi,
a poesia que parecia ser eu.
nem me lembro mais quando esqueci de lembrar que era uma madrugada atípica,
dessas que só se dorme.
num átimo, estava completamente seduzido pela poesia.
imerso,
já nem sabia o que era noite, o que era poesia,
o que era eu.
minha respiração ofegava,
lembro-me de apavorar por isso,
mas era certo,
quanto mais apavorava mais escrevia.
e foi assim que eu danei-me a escrever.
escrevi, escrevi, escrevi
escrevi, escrevi, escrevi,
escrevi, escrevi, escrevi
escrevi, escrevi.
lembro-me de escrever tanto, mas tanto, que a poesia já não tinha mais nada,
nem uma palavra sequer.
em exaustão me apaguei
sem ver a cor das três madrugadas seguidas.
depois dessa, vieram muitas outras madrugadas,
outras poesias.
mas nada como aquelas.
o choro
era domingo.
passava pela rua Janice
com sua filha de mãos atreladas.
olhos bem abertos e verdes.
era domingo de ventos
num desses
um cisco
num outro Janice
a moça de olhos bem abertos e verdes
cisco que pousa em olhos bem abertos e verdes.
dessa vez era o de Janice.
lágrimas desciam
a polícia passava
e Janice a moça de olhos verdes e grandes não parava de lacrimejar
Janice era branca, mulher fina
e muda.
sabe-se lá porque que na tentativa de acalmar as lágrimas dos olhos
seu dedo flechava Muriel
Muriel. quinze anos.
fazia compra para sua mãe Katia na feira.
provava das uvas das senhoras que lhe oferecia uvas.
uvas, sorriso não.
sabe-se lá o que fizera na vida Muriel.
se nascer não bastasse.
volta-se ao fato não previsto por Janice,
nem mesmo pelas senhoras da uva.
Muriel terminaria estirado numa das tabas com as uvas,
uvas acopladas de sangue.
num desses domingos de vento
Muriel sentia pela última vez o cheiro de uvas
e na calçada do morro
punha-se a chorar Katia
o choro.
o choro da viúva, mãe de dois filhos
empregada doméstica
e moradora da periferia.
invisível que era
só se via lágrimas a descer.
lá do alto.
entorpecida
lá estava ela, titubeando
alma pleno regozijo
seguindo em direção da morte.
era um péssimo dia para morrer.
mas morreu.
O tempo passa, as coisas mudam, e até o que outrora era imposição por castigo, um dia passa a ser opção de vida, literalmente.
Eu demorei pra aceitar que a estadia das pessoas em minha vida era momentânea. Eu queria sempre que durasse um pouco mais, talvez pra sempre. Tinha um problema enorme com essa transitoriedade. Com coisas passageiras. Sofria. Doía. Às vezes o lugar que nos aconchegamos é tão confortável que queremos simplesmente ficar ali… imersos… submersos… apenas sentindo.
Até que me dei conta que isso que é a vida: momentos efêmeros. Muitas das pessoas que chegam é para ensinar… agregar… mover… ou nos sacudir… mas elas precisam ir. Como tudo que vai. E nesse balanço que é viver… o universo foi me ensinando a viver o desapego… deixar ser nutrida com todo o aprendizado e liberar… por mais lindas que algumas pessoas sejam, elas só podem ser eternizadas em nosso coração… um dia elas vão… e temos que aprender a enviar todo o amor de longe e ser grato por um dia nossos caminhos terem se cruzado.
Yara Alves
Quando percebi....
era tarde demais.
Você já havia se tornado a minha pessoa favorita no mundo.
Yara Alves
Se causamos sofrimento a alguém, quando nos era facultado evitar, minimizar os efeitos danosos torna-se uma obrigação.
Alexandre
Quando te conheci eu era apenas uma criança. De um jeito inesperado, inexplicável passei a te amar. E te amo desde sempre. A melhor sensação do mundo é estar ao lado de quem se ama. É uma vida suave, simples, meu maior luxo é passar todos os dias ao seu lado.
Quando tudo era saudade, alguém decidiu amenizar; até que deparou-se com o motivo do silêncio, existia mais alguém.
Assumo que desisti, foram tantas tentativas que me faltou forças.
O amor não acabou, mas era notável que as tentativas eram só minhas.