Engolir
A verdade é como fermento; azedo, difícil de ser engolido, mas se colocado na massa, faz crescer e tornar belo.
Quem tem inveja de mim não sabe quantos sapos engoli, quantos abacaxis descasquei, quanto lutei e sofri para chegar onde cheguei.
Imprescindível diagnosticar todas as linhas tortas e aquelas palavras engolidas a seco. Tem dias que o paradigma é ser ruim, e duram além do próximo amanhecer. Tem vezes que perco a glória dessa existência ínfima. Tanta subjetividade para nenhuma certeza. Respostas que não existem são esperas cheias de ilusão.
Escrevo pra destrinchar o que eu penso, e em algum verso pode até ser que te entenda.
As palavras doem pra sair. Parece justificativa para a pouca frequência, mas é que a felicidade não permite intervalos. Todas as vezes que escrevo sou triste. Extensão de tudo que não sei falar e que tu nunca quis ouvir por medo de saber.
Só o que tento querer é mais de você, mas tropeço no silêncio que criou pra me afastar, ao mesmo tempo me prender, sujeito a ignomínima da ingenuidade em não saber o que fazer. Em tanta instabilidade enevoa-se os sentimentos. Se eu devo esperar, vai doer saber. Quis fazer parte da redenção, mas quase todos os dias acabam em desilusão.
Me sinto preso em parágrafos sem fim, e tudo que não foi dito corrói a dor até perder a sensibilidade. Talvez meu futuro seja relembrar. Buscar sentidos sempre tirou minha paz, mas não consigo ignorar. Se é mais do que consegue explicar, é só dizer, estou aqui pra você. Só não vamos falar em prioridades, meu amor… O orgulho já me abandonou também. Viver no por enquanto é muito menos do que preciso.
Essas palavras não eram pra você, mas já não há como evitar.
(...) mas distância é detalhe para o louco que enfrentou mar turbulento a nado. Que engoliu o medo dos olhos pra proteger certezas pequenas do coração - as únicas. Não lamenta, ela também não, pois sabem que só morre de saudade aquele que a sente sozinho.
O mesmo escuro engolindo o barquinho de papel, luminosidade de sonho resistindo ao tempo e à história, erramos todos nesses iguais mares gregos, mergulhados nas águas de todos os deuses, de todas as vertigens, de todas as profundezas, de todos os azuis e luminosidades, levando dentro de nós todas as vagas, todos os mares, todas as tempestades e todas as armadilhas, todos os cantos e desencantos, mas que posso fazer se não temos nem as amarras de Ulisses, menos ainda sua astúcia, se contraio nessa maresia de milênios todas as quedas e todos os limites do susto e do riso?" (O último verão em Paris, crônicas, 2000)
Uma hora cansa, cansa de ser forte o tempo inteiro. Cansa mostrar um sorriso quando você está engolindo o choro.
Não debochou, não choramingou, não demonstrou fraqueza, não embirrou, não queixou-se. Apenas engoliu o choro, prendeu as lágrimas e se foi. A partir daquele momento ela jamais foi a mesma.
Não tenho culpa de te amar. É algo que sai do meu controle e vai engolindo-me sem a permissão devida. -Tenho o direito de escolher quem eu quero na minha vida e o que sentirei por ela- Era o que eu pensava até a lua aparecer e colocar-me para voar. Os meus pés não queriam voltar para o chão e tornei-me dependente do teu brilho extraordinário. Não sei bem o que anda acontecendo dentro de mim, é algo indecifrável, a muito tempo não pensava nela, mas tudo voltou a ser como era antes, intenso como o primeiro namorado de uma adolescente qualquer.
Naquele dia engoli o choro. E disse um tchau bem frio pra tentar esconder toda minha raiva por tudo que estava saindo do meu controle. Mas meus olhos ainda revelavam o quanto queria que ele ficasse o pouco mais. KC&Pensamentos
Mandarei uma mensagem de despedida com algumas letras engolidas pelo orgulho de prender o choro, mas torço que entendas o motivo de eu ir embora. A tua falta de carinho deixou o meu corpo ao relento, não me davas o calor devido e, nem venhas exclamar que isso não passa de mais uma frescura minha, pois não há ser vivo que sobreviva sem um dengo; logo eu que sempre dependi de ti e do dengo preso que tu soltavas uma vez ou outra, meio sem amor nenhum, mas é seu jeito e eu não estou me importando com ele. Mas é que não dá mais para dormi no frio todas as noites, vou embora procurar um cobertor, mesmo que ele nunca tenha um calor comparável ao seu. Talvez um dia entendas a carência de um corpo quando dentro dele bate um coração que ama.