Engolir
- Se eu fosse menos eu, não só almejaria, como alcançaria, engoliria a inconveniência, misturar-la-ia a prudência, vomitaria só doçura;
- se fosse menos eu, teria mais amor, menos rancor, uma pitada mais de humildade;
- se fosse menos eu, estaria cercado de amigos, acompanhado de falsidade e ludibriado pela inveja;
- se fosse menos eu, não seria tão particular, estranho aos convencionais;
- se fosse menos eu, seria muito previsível, beiraria a monotonia, distribuiria sorrisos e esmaeceria meu caráter;
- se fosse menos eu, não restaria este vazio, cujo único objetivo é incomodar-me por completo, gerando essa inquietação, fazendo com que busque sempre algo novo para preenchê-lo, e receba em contrapartida a angústia, que se materializa num outro, ainda maior.
Caso me destrinchasse por completo, e desse conjunto subtraísse uma pequena parte de mim, não sobraria mais nada senão outrem.
Eu só existo assim, de forma inteira, íntegra, uno, não sendo ninguém, exceto eu mesmo.
Romeu e Julieta engoliram veneno porque não podiam viver um sem o outro.
Muitos não têm coragem de engolir orgulho para juntos para sempre viverem.
Mãos macias, boca envolvente, me engolindo todo entre os seus lábios quentes.
Perdido, desnorteado me senti por ela domado.
Vai com calma, minha vez!
Agora só quero parar depois de três...
Engoli o choro, enxugar as lágrimas para seguir enfrente, começar de novo não é fácil, é difícil e muito muito doloroso mas é necessário.
Não me subestime. Tem muita coisa que ando engolindo, pois no final de tudo tenho uma estratégia perfeita. E muitas das vezes no calor da emoção posso botar tudo perder. A volta por cima está bem próxima a acontecer, e nesse jogo eu não jogo pra perder!
Engoli as minhas maiores dores e enquanto elas me cortavam por dentro, eu sorria, porque sabia que mesmo se eu gritasse e chorasse, ninguém nunca seria capaz de me ouvir e me ajudar.
Eu já morri por dentro...
sofri em silêncio...
perdoei erros imperdoáveis...
engoli meu orgulho...
lutei contra sentimentos intensos...
desisti de pessoas tidas como importantes...
quebrei minhas próprias regras por outros....
enfrentei batalhas que ninguém soube....
por decorrência da vida visitei a morte...
E eu sobrevivi...
o sol vai ao longe se apagando
o mar vai engolindo o sol
e os navios na praia chegando
as luzes vão ascedendo
e o meu amor morrendo
na trilha sonora dos desesperados
a lua lacrimeja a noite
serenando em terno açoite
os corações apaixonados.
Imprescindível diagnosticar todas as linhas tortas e aquelas palavras engolidas a seco. Tem dias que o paradigma é ser ruim, e duram além do próximo amanhecer. Tem vezes que perco a glória dessa existência ínfima. Tanta subjetividade para nenhuma certeza. Respostas que não existem são esperas cheias de ilusão.
Escrevo pra destrinchar o que eu penso, e em algum verso pode até ser que te entenda.
As palavras doem pra sair. Parece justificativa para a pouca frequência, mas é que a felicidade não permite intervalos. Todas as vezes que escrevo sou triste. Extensão de tudo que não sei falar e que tu nunca quis ouvir por medo de saber.
Só o que tento querer é mais de você, mas tropeço no silêncio que criou pra me afastar, ao mesmo tempo me prender, sujeito a ignomínima da ingenuidade em não saber o que fazer. Em tanta instabilidade enevoa-se os sentimentos. Se eu devo esperar, vai doer saber. Quis fazer parte da redenção, mas quase todos os dias acabam em desilusão.
Me sinto preso em parágrafos sem fim, e tudo que não foi dito corrói a dor até perder a sensibilidade. Talvez meu futuro seja relembrar. Buscar sentidos sempre tirou minha paz, mas não consigo ignorar. Se é mais do que consegue explicar, é só dizer, estou aqui pra você. Só não vamos falar em prioridades, meu amor… O orgulho já me abandonou também. Viver no por enquanto é muito menos do que preciso.
Essas palavras não eram pra você, mas já não há como evitar.
Quem tem inveja de mim não sabe quantos sapos engoli, quantos abacaxis descasquei, quanto lutei e sofri para chegar onde cheguei.
O mesmo escuro engolindo o barquinho de papel, luminosidade de sonho resistindo ao tempo e à história, erramos todos nesses iguais mares gregos, mergulhados nas águas de todos os deuses, de todas as vertigens, de todas as profundezas, de todos os azuis e luminosidades, levando dentro de nós todas as vagas, todos os mares, todas as tempestades e todas as armadilhas, todos os cantos e desencantos, mas que posso fazer se não temos nem as amarras de Ulisses, menos ainda sua astúcia, se contraio nessa maresia de milênios todas as quedas e todos os limites do susto e do riso?" (O último verão em Paris, crônicas, 2000)
(...) mas distância é detalhe para o louco que enfrentou mar turbulento a nado. Que engoliu o medo dos olhos pra proteger certezas pequenas do coração - as únicas. Não lamenta, ela também não, pois sabem que só morre de saudade aquele que a sente sozinho.
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