Engolir
Demos muito azar, querida. A vida nos engoliu, depois cagou e todo mundo só quer que a gente supere e aja como se nada tivesse acontecido.
Quantas vezes colocaram padrões em seu prato com a intenção de que você os engolisse? Quantas vezes as "faltas" ou os "excessos" que falaram que você tem foram motivos de olhares tortos para o seu próprio reflexo? Quantas vezes te questionaram sobre o porquê de postar fotos de corpo inteiro? Quantas vezes você foi motivo de comparações?
Suponho que "muitas" seja a resposta para todas essas perguntas.
Agora, eu gostaria de perguntar: quantas vezes você já teve que ser mais forte que essas situações?
Suponho que todas. Diante disso, as conclusões são livres, assim como você, suas vontades e interpretações. Se inste a pensar sobre suas vitórias, pois elas são muito mais que as medalhas ou provações que você já recebeu.
Tem coisas que a gente ingere e digesta
Outras a gente ingere e regurgita
Nem tudo que engolimos faz bem
E isso, não é sobre comida.
Ando engolindo brasas ardentes que descem queimando, causando agonia. Queimaduras de 3° grau pelo meu ser corpo e alma. E cada vez que queima me faz lembrar o quanto sou quebrável, vulnerável e pequeno.
Mas tenho sido firme e me mantido de pé, quem sabe se mato ou morro.
Há situações na vida em que somos obrigados a aceitá-las e botar todas as mágoas e frustrações goela abaixo. A lenta digestão delas creio eu que são uma espécie de remédio para alma, e quando elas saírem, bom, aí serão só fezes mesmo!
Meus cílios são como barras de ferro aprisionando meus olhos
eu os sinto pesarem, ando olhando para o chão
a loucura é um espelho que liberta meus dragões
enfurecida, incendiosa
voo, subo alto e sou puxada de volta
não posso ultrapassar muros
as sombras nascem junto com o sol
antes que a realidade queime minhas retinas
vou arranhar paredes, roer as unhas
preciso ser mais leve
me desfazer de mim
comer a boca, me consumir inteira
serrar as grades
e todo dia engolir um sol,
pra fazer parar de chover aqui dentro.
A verdade é que EU acostumei as pessoas mal. Meu erro foi sempre aceitar mesmo o que eu não queria. Sempre deixando passar, sempre engolindo sem digerir, e hoje só o que esperam de mim é isso: passar uma borracha por cima e seguir como se nada tivesse acontecido.
Quando éramos bebês...
Costumo dizer que quando nascemos, estamos no "ponto"...
Mas, os adultos que cuidam de nós, se incubem de ir nos (des) "educando".
Para melhor entender isto, basta recordarmos algumas passagens da nossa infância que demonstram bem certas características que tínhamos e que hoje nos fazem faltam.
Éramos determinados... quando tínhamos uma meta, insistíamos até alcançá-la: aprendemos a andar, após várias tentativas e inúmeros fracassos.
Para atingir nossos objetivos, não nos importávamos com o ridículo: Ficávamos um tempão experimentando sons, fazendo os barulhos mais "esquisitos", até conseguirmos pronunciar palavras e depois frases.
Quando nos sentíamos incomodados, não engolíamos nosso incômodo. Literalmente "botávamos a boca no mundo".
Éramos assumidamente sinceros, curiosos e extremamente desejosos de aprender: Quando tínhamos alguma dúvida, insistíamos em perguntar até que conseguíssemos esclarecê-la.
Pois é... depois, à medida que fomos crescendo fomos (des) aprendendo muitas coisas e assim, perdendo muitas dessas características.
Passamos a ser inseguros e muitas vezes desanimar das nossas metas... abrir mão dos nossos sonhos... a temer fazer papel de ridículo, deixando assim, de alcançarmos muitos dos nossos objetivos... por nos inibirmos... a mentirmos em algumas situações... a ficarmos com dúvidas, temendo fazer o papel de pouco inteligente e ainda aprendemos a nos forçar engolir e remoer várias chateações, para passarmos a imagem de bonzinhos e "legais".
Imagine se o bebê nascesse com todas estas características que foram nos ensinadas?...
Pense nisso.
Vivemos em busca de sonhos. Queremos sempre ganhar sem se importar com as incertezas. Mas, a vida segue seu curso. Nada é para sempre. Nada é eterno. Precisamos saber lidar com as situações inesperadas. Nem que para isto tenhamos que engolir seco e sorrir.
Não importa se você veste terno, jaleco ou farda. Não importa se você é rico ou pobre. Isso não define caráter, não te faz melhor ou pior que ninguém. Você é um cidadão como qualquer outro. Você também é povo. E se você mora no Brasil é povo brasileiro. Então pare de se achar o fodão ou a fodona. Porque todo mundo trabalha com o mesmo objetivo: sobreviver para viver ou vice-versa.