Empréstimo
“JOÃO E SEUS PÉS DE FEIJÃO. Na pequena propriedade, e com certa dificuldade, vendia na cidade o fruto da produção. Ouviu de um alcoviteiro, que isso não ia vingar, porque não dava dinheiro e que num tempo venturo, no banco devia emprestar. Com a escritura na mão, pro banco seguiu o João e de lá saiu animado, deixando consignado o seu pedaço de chão. Porém, na safra seguinte, a chuva não foi parceira e deixou o pobre coitado, perdido e abandonado - sem dinheiro na gibeira. Com o fim da parceria, mudou pra periferia, de favor na casa da tia. Foi pro bico de boia fria, e de tanto pensar na desgraça, João se entregou à cachaça e migrou-se pro banco da praça. Hoje vive no submundo, maltrapilho e sujismundo e ainda lhe deram a pecha de preguiçoso e vagabundo. Seu sítio foi a leilão e quem comprou foi um “João” , que é dono de uma empreiteira e de uma família bacana e que da mesma desfruta em algum final de semana. De uma mesma terra brotou dois “João”: o que faliu trabalhando e o que lucrou descansando.”
PERIPÉCIAS Nº 5: TEMPO
nem sempre quem te toma tempo
te devolve
e nem sempre quem te empresta tempo
se comove
até que o contrário se prove
tempo que não planta
não se colhe
há quem goste de gastar tempo
e há quem só queira ganhar tempo
ás vezes é uma questão de economia
e ás vezes é só questão de mordomia
há quem queira dar um tempo
e há quem só queira dar tempo ao tempo
em tempos de passatempos
só não há quem queira perder mais tempo
Quando uma empresa empresta o seu nome para outra pessoa usar saiba que ela nunca honrará tanto a sua história como você mesmo.
Toda essa minha liberdade de expressão, sentidos e fazeres, sinto muito enraizada nas limitações de conhecimento, matéria prima e inclusive este corpo que tenho por empréstimo. Por isso vejo como única opção para sair destas prisões a ficção, o imaginário mundo intangível, aguçado apenas ao contemplar as belezas, as artes e tudo que é mais do que aquilo que meus olhos e entendimento possam ver.
Não diga à ninguém quando receber o seu salário, pois, no dia em que o fizer, dois tipos de pessoas virão ter consigo: um para cobrar a dívida que o deve e o outro para pedir empréstimo.
Pedir emprestado de dinheiro para comprar comida não se difere de quem bebe para esquecer as suas mágoas, no dia seguinte a fome volta acompanhada por cobrador de dívida.
Dinheiro emprestado muitas vezes é como uma graça recebida. Enquanto se beneficia da graça se esquece de Deus. Servido com o empréstimo, se esquece do credor ou lamenta ter que pagar. Se paga!