Ele
O pensamento, apesar de tudo, é uma esterilização. Não há perigo de que ele venha, algum dia, a triunfar sobre a natureza, que é a vida.
Um amigo assemelha-se a um fato. É preciso largá-lo antes que esteja usado, senão é ele que nos larga.
As precauções de que ele se rodeou para que esse pressentimento se não realizasse fizeram precisamente que ele se houvesse concretizado.
O plágio é necessário. É o progresso que o implica. Ele analisa de perto a frase de um autor, serve-se das suas expressões, apaga uma ideia errada, substitui-a pela correcta.
O público dá-se perfeitamente conta de que o génio é excepcional; ele convence-se, por conseguinte, de que tudo quanto é excepcional é génio.
O tempo voa e leva-me contra a minha vontade; por mais que eu tente detê-lo, é ele que me arrasta; e esse pensamento dá-me muito medo: podeis imaginar porquê.
O mundo é uma caricatura perpétua de si mesmo; e a cada momento ele é a derrisão e a contradição do que pretende ser.
É então um mundo de fórmulas a que eu obedeço e tu obedeces? Sem ele não poderíamos existir. Se víssemos o que está por trás não podíamos existir. O nosso mundo não é real: vivemos num mundo como eu o compreendo e o explico. Não temos outro. É a voz dos mortos insistente que teima e se nos impõe. Mais fundo: não existem senão sons repercutidos. Decerto não passamos de ecos.