Ela
Mas eu te ouvia dizer que sabias ser necessário optar entre mim e ela, e que optarias por ela, por comodidade, para não te mexeres daquele canto um pouco escuro e um pouco estreito, mas teu.
Quando mulher diz 'não houve nada', é pq houve alguma coisa;
Quando ela diz 'foi só uns beijinhos',
é pq foi mt mais que beijinhos
Quando ela diz 'foi só um caso', aí meu filho, é pq foi tudo
= e ela ainda não esqueceu
Seria mais fácil, se ele fosse um estranho, de quem ela pudesse se desligar. Eles são muito diferentes. Gênios opostos, eu diria. Mas tem algo em comum. A liberdade. O desapego. O medo da entrega. Quem sabe ficando juntos encontram uma solução. Bem que podia né? Ela sempre pensou assim: “Pra ficar do meu lado tem que ser melhor que minha própria companhia. Eu tenho que admirar.” E ele me parece um pedaço daquilo que a vida tem de mais charmoso. Ela estava ficando instigada. Que mais restava àqueles dois senão, pouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturarem? Pois foi o que aconteceu. Ela diria que ele salvou sua vida se não soasse tão dramático. Ele não faz planos ou promessas, só surpresas, te ensinou a gostar de surpresas. Ele é diferente. De repente ela percebeu que o amor era o instante em que o coração fica a ponto de explodir.
Sabe que o amor não é qualquer um que consegue ter. Ela é a sensibilidade de alguém que não entende o que veio fazer nessa vida, mas vive.
Nota: Trecho de um texto de Mika Pedrosa.
— Ela queria outra coisa. — Que coisa? — Nem ela sabia. Repetia isso o dia inteiro: “Quero outra coisa, eu quero encontrar outra coisa”.
Minha pureza era linda, Zé, mas ninguém entendia ela, ninguém acolhia ela. Todo mundo só abusava dela. Agora ninguém mais abusa da minha alma, nem do meu coração, pelo simples fato de que eu não tenho mais nada disso. Já era, Zé. É isso que chamam de ser esperto? Nossa, então eu sou uma ninja. Bate aqui no meu peito, Zé? Sentiu o barulho de granito? Quebrou o braço, Zé? Desculpa.
Nota: Trecho da crônica "Zelador".
Ele gostava quando ela dizia: “Sabe, nunca tive um papo com outro cara assim que nem tenho com você”.
Não quero mais procurar saber seus motivos. Só quero me curar dessa dor. Quando ela passar poderei olhar para trás sem mágoa.
Às vezes você só espera que aquela pessoa
faça por você o mesmo que você faz por ela,
e às vezes isto é esperar demais.
Ela mandou uma mensagem
dizendo que não poderia mais me encontrar.
Eu quis saber por quê,
e ela disse que seria melhor assim.
Eu perguntei se ela estava namorando,
então ela disse que sim, e que não queria cometer erros.
Confesso que fiquei um pouco triste,
mas disse que compreendia, respeitava, e torcia por ela,
afinal, ela era uma mulher em tudo especial
e merecia alguém que se dedicasse inteiramente a ela.
Eu pedi que ela não se afastasse de mim.
Ela disse que nunca ia deixar de ser a minha bebê...
Uma lágrima fugiu de meus olhos e molhou o meu rosto.
Desejei que ela pudesse ser muito feliz.
Ela não sabe,
ou talvez nunca vá acreditar,
mas eu amava,
eu lhe amava de verdade...
Ela se afasta fazendo uma trancinha nos cabelos escorridos. Nunca nunca nunca sim sim, canta baixinho. Aprendeu a trançar um dia desses.
Tudo o que mais valia exatamente ela não podia contar. Só falava tolices com as pessoas. Quando dizia a Rute, por exemplo, alguns segredos, ficava depois com raiva de Rute. O melhor era mesmo calar.
Fazia de conta que ela era uma mulher azul porque o crepúsculo mais tarde talvez fosse azul, faz de conta que fiava com fios de ouro as sensações, faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos, faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que dela não estava em silêncio alvíssimo escorrendo sangue escarlate, e que ela não estivesse pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade, precisava no meio do faz de conta falar a verdade de pedra opaca para que contrastasse com o faz de conta verde-cintilante, faz de conta que amava e era amada, faz de conta que não precisava morrer de saudade, (...) faz de conta que ela não ficava de braços caídos de perplexidade quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio, (...) faz de conta que tudo o que tinha não era faz de conta (...)
O grande castigo neutro da vida geral é que ela de repente pode solapar uma vida; se não lhe for dada a força dela mesma, então ela rebenta como um dique rebenta – e vem pura, sem mistura nenhuma: puramente neutra.
E “amor” ela não chamava de amor, chamava de não-sei-o-quê.
Se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente.
(Uma galinha - Laços de familia)
Tenho uma paz profunda, somente porque ela é profunda e não pode ser sequer atingida por mim mesmo. Se fosse alcançável por mim, eu não teria um minuto de paz.
Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de um não-sei-o-quê com ar de se desculpar por ocupar espaço.