Efemeridade
Torna-se nítido que a efemeridade e a limitação da nossa condição humana existem contraditoriamente paralelas à nossa ambição sem limites e à nossa capacidade de provocar a destruição de tudo que nos é fundamental à vida.
A efemeridade da vida é uma expressão muito usada para lembrar que a vida é passageira, e por isso, é imperioso que cada instante seja vivido intensamente.
Então: Eu acho que a vida é tão efêmera que eu não me dou mais tempo para sentir vergonha, mágoa ou raiva por qualquer coisa que eu tenha dito para alguém ou alguém tenha dito para mim. No final, são somente momentos e escolhemos a cada instante como vamos nos sentir com relação a eles. Sabe o que eu escolho? Ficar em paz comigo.
EFEMERIDADE
Minúsculo flagelado
Pequeno Relato
Célula Viva
Descida Escorregadia
4 membros, uma cabeça e um tronco
Ainda frágeis, totalmente prontos
Começando a usar os membros
Falando e aprendendo
Brincando e sendo feliz
Sem pensar que a vida está por um triz
Logo vêm os conflitos, mudanças
Reconhecimento de Identidade
A vida passa
Já tenho muita maturidade
A inocência jaz
Resta experiência
A vida passa, já aparecem rugas faciais
E a vida num passo de um segundo
Já estou entre os especiais
Essa efemeridade, essa liquidez, essa palidez de dias rasos me faz querer ir além, mergulhar fundo, construir solidez nos afetos-reflexos.
Ode à eterna efemeridade do tempo
I
Quando do tempo tornei à realidade, meus olhos já haviam perdido o brilho.
Perdi o brilho porque tu, desgraçada vida,
Tu, desgraçadamente, me ausentaras o sangue,
e as inglórias imagens da morte vêm me visitando à noite
e me tomando o sono, desde então.
Minha cama de doces lírios pálidos agora espeta-me o dorso,
e nada se há de fazer para conter as vastas mãos da tragédia.
Quando do tempo tornei à realidade, meu corpo já não me pertencia mais,
e pus-me a percorrer a vasta esfera para encontrar-me.
Só que a imensidão me é vil neste instante em que vago devasso por aí,
e esta terra abrasadora queima-me os pés calejados.
Tenho-me apenas na lembrança de um dia calmo,
Mas a lembrança me é insuficiente para sorrir.
[...]
LONGEVIDADE
REFLITO SOBRE A EFEMERIDADE DA VIDA
E A LONGEVIDADE DA ARTE,
E COM O PENSAMENTO QUE EM MIM SUSCITA
EMERGE JUNTO A CRIATIVIDADE.
FAÇO DA COMPOSIÇÃO POÉTICA
A MINHA FORMA DE EXPRESSÃO;
VERSANDO DE FORMA LIVRE
E CONTRA AS FORMAS DE OPRESSÃO.
COM CRIATIVIDADE INSURGENTE
ESCREVO PALAVRAS E TRAÇOS FORMAS,
AS QUAIS UMA VEZ DENTRO DA MENTE
PODEM CULMINAR EM REFORMAS.
PROPAGO PENSAMENTOS QUE FORAM ADQUIRIDOS
E QUE POR MEIO DE REFLEXÕES FORAM ALCANÇADOS
NA FORMA DE VERSOS SUBVERSIVOS
NUMA FOLHA DE PAPEL A4.
PODEM MATAR O NOSSO CORPO,
MAS NÃO NOSSA ARTE, NEM PENSAMENTOS,
POIS ELES PODERÃO SER SEMPRE LEMBRADOS
INDEPENDENTE DO ESPAÇO E DO TEMPO.
A efemeridade do julgar
Manhã fria que aos poucos se aquece. Como de rotina metrô cheio. Pessoas com histórias, idades, gostos, estilos... enfim, a diversidade que há numa metrópole. Os que conseguem viajar sentados: livros nas mãos, jogos, trabalhos, pastas e um estilo próprio que toca aos seus ouvidos, hora suave, hora gritante, assim é a manhã de um paulistano.
De repente as portas se abrem, uma senhora entra...olhos amedrontados, corpo encurvado e as pernas ansiosas por um assento... ninguém levanta e nem a percebem; os sentados fecham os olhos e a ela menosprezam...ela procura o banco azul em tom claro. Logo avista uma moça, sentada no banco em que ela se enquadraria. Moça elegante e sorridente, traços de pouco sofrimento e um meigo olhar para a senhora que ali permanecia.
Um senhor já grisalho, ao ver tamanha frieza logo exclama: "já que os jovens não se levantam...assenta neste banco minha senhora...". A moça ergue a cabeça e avista os olhares de reprovação. Sorriu e novamente a seu livro se fixou. E na longa trajetória a ela todos olhavam...
Na penúltima estação um jovem rapaz se aproxima, com duas muletas e pernas saudáveis. O Rapaz elegante da moça se aproxima, e a entrega seu apoio e as muletas que nas mãos trazia. Todos pasmos. Quem diria? Aquela meiga moça uma de suas perna já não possuía...
No ciclo dos passos não se vê efemeridade.
Os pontos permanecem, refletem um estado;
A paisagem se converte, simula a novidade;
Mas o ciclo ainda é ciclo, e não há efemeridade.
A consciência da nossa efemeridade
é o que dá a importância a cada despertar
mesmo que nem sempre
tenhamos manhãs de sol
e céus azuis...
Cika Parolin
A efemeridade da vida é cada vez mais corroborada pela sensação de insegurança que assombra os dias em que vivemos. O que nos leva à conclusão de que devemos viver da melhor forma possível os nossos dias e noites, pois tudo pode acabar numa freiada, num passeio ou até mesmo durante o sono.
Sobre as mudanças, nada melhor do que vivê-las intensamente, pois sua efemeridade acompanha a vida, mas nem em toda vida, acompanha- se a fluidez das mudanças.
O encantamento que vida tem quando se amar é único mesmo tendo ciência da efemeridade dos relacionamentos, o que prevalece é o sentimento que é perpétuo em seu momento.
EFEMERIDADE DOS AMANTES
A efemeridade não combina
entre dois sujeitos amantes,
é passear sobre uma mina
no caminho de dois errantes.
Ela despreza qualquer bom sentir,
faz de tudo para omitir
de quem supõe nada querer
o verdadeiro sabor de viver.
Ser efêmero é como o vácuo:
tê-lo do lado de dentro
sem, no entanto, adimití-lo;
com ele não há sentimento mútuo,
só há o inexplicável nada-ser,
um imperceptível morrer...
A Vida como a flor,
tão bela e efêmera, segue seus ciclos.
Compreender e aceitar essa efemeridade
exige de nós desapego daquilo que desde sempre
habita o nosso âmago: O utópico desejo de perpetuarmos
a existência e de não fenecermos a exemplo de tudo que vive.
Cika Parolin