Dor de um Homem
Prazer e dor são representados com os traços gêmeos, formando como que uma unidade, pois um não vem nunca sem o outro; e se colocam um de costas para o outro porque se opõem um ao outro.
O prazer não é um mal em si; mas certos prazeres trazem mais dor do que felicidade.
Não há maior dor do que a de nos recordarmos dos dias felizes quando estamos na miséria.
É possível repousar sobre qualquer dor de qualquer desventura, menos sobre o arrependimento. No arrependimento não há descanso nem paz, e por isso é a maior ou a mais amarga de todas as desgraças.
Ah! Dentro de toda a alma existe a prova
De que a dor como um dartro se renova,
Quando o prazer barbaramente a ataca...
Tal é o prazer e a dor... saem de um tronco único porque têm uma só e mesma base, eis que cansaço e dor são a base do prazer e os prazeres vãos e lascivos estão na base da dor.
Cada adversidade, cada fracasso, cada dor de cabeça carrega consigo a semente de um benefício igual ou maior.
Na verdade, só existe prazer no uso e no sentimento das próprias forças, e a maior dor é a reconhecida falta de forças onde elas seriam necessárias.
Pouco dura a dor que termina em lágrimas, e muito longo é o período em que o sofrimento permanece no coração.
Suporta-se com muita paciência a dor no fígado alheio.
Nota: Versão de trecho do livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis.