Doer
A Saudade é um ferro quente cravada no peito... que fere, queima e marca.
Um dia para de doer, já não arde mais, mas a cicatriz deixada nos faz lembrar que ainda está lá para ser sentida quando menos se espera.
FUGA II
Todas as crinas desta vida, todas as rimas, todos os sintomas, todo o doer.
Cada passo em falso, cada cadafalso, cada trem atrasado, cada nuvem que não veio chover sobre o sertão ardente em sede.
Cada bomba-atômica, cada praga rogada, cada estilingada que mata o passarinho.
Cada voz desafinada, cada rima que não casa, não se encontra; cada nota suspensa no ar.
Cada sonho irrealizado, cada suspiro incontido, cada prisão que não liberta o nosso mais íntimo desejo.
Todas as visões embaçadas, as analogias desconexas; as cegas imagens de peles nédias.
Cada estória sem autor, cada morte sem porquê.
As vaidades do mundo se resumem a espasmos de espaços vagos no subconsciente dos desesperados.
Cada vento que sopra sem destino, cada luz que procura o vazio de cada solidão; cada estação do ano.
Em tudo há um pouco de mim. Em tudo há algo do qual eu sempre quero fugir.
Muitas vezes não vai ser fácil. Vai doer tanto a ponto de não sentir, sim, a ponto de pegar no sono e acordar com um calor no peito e o travesseiro molhado com todos os sentimentos internos transformados em lágrimas. Mas assim como as lágrimas passam, a dor se vai e você supera. Apenas supera!
As vezes alguém te machuca tão forte
Que para de doer
Até que você começa a se sentir bem por algo
Daí então
Volta tudo de novo.
Um dia seu coração vai doer, sua consciência vai pesar, por me fazer ouvir e ser culpado de coisas que eu nunca te fiz.
Mas mesmo assim eu estarei pronto pra te perdoar, pois o meu amor passa por cima de tudo.
Diferentes de muitos, eu quero um amor para rir de doer a barriga! Rir sem vergonha da altura da risada, do local ou de alguém achar que a gente é idiota, até porque a gente é! Quando se ama e se consegue rir com o outro a vida fica fácil, vira pluma, flui, transborda…Ter ao lado alguém que nos faça rir é ter um remédio diário para nos curar da crise: no amor, no coração, na confusão que há dentro de nós. Ri de coisas bobas, e mesmo assim sentir que esta do lado a melhor companhia.
As vezes não tomamos uma decisão porque sabemos que vai doer e, quanto mais tardamos essa decisão, mais a ferida cresce. E, o que era pra ser uma pequena topada, se torna uma queda com fratura exposta, a qual você cai no chão e quebra a cara.
Doer o peito ao lembrar e relembrar o passado, pode significar que no presente não está plantando-se o necessário para o futuro. Há a possibilidade de colher os bons frutos que no passado foram plantados, largar os que estão podres e seguir em frente. Possível é, ainda, comendo-se os frutos colhidos, retirar as sementes para plantá-las agora, já. Sempre há alternativas. Sempre há opções. Contudo, sempre há exceções, nestes casos, é necessário esforçar-se para tornar o caminho a se seguir o quanto melhor.
Já se deu conta de quantas vezes você riu até doer a barriga? Ou quantas lágrimas você derramou por quem não merecia? A vida é feita de momentos felizes e tristes. Mas só cabe a você decidir qual desses momentos você vai querer viver.
Bonito de doer! Nossa senhora! Assim percebemos, eu e minha amiga, um jovem de altura [in]desejável (para elas que apreciavam os pequenos) pedindo “seiscentos gramas de queijo coalho fatiado, por favor”!
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Acostumas a ouvir seiscentas sempre...Seiscentos gramas foi demais! O suficiente para fazer voar a imaginação de nós duas sobre aquele rapaz na padaria, véspera de feriado e sozinho às 7 da noite.
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Minha amiga (Yah) é do mundo, mas nasceu em Caruaru, interior de pernambuco(logo alí), terra do famoso Mestre Vitalino, jovem(vinte e poucos anos), artista(atriz das boas), desinibida, linda, cult, inteligente, urgente, emotiva, estudou ballet, piano, leu mil livros, escreve e é quase realizada na vida.
Eu (Adriana)também do mundo, nasci em Serra Talhada, sertão do mesmo estado(lá na "baixa da égua", como dizia vovó quando o lugar era longe) terra de um cangaceiro chamado Lampião. Estudante, chata, pragmática, apressada, intolerante, às vezes engraçada, apaixonada por cinema, quadros, tintas, pincéis, artesanato, adereços, saias, havaianas, livros...
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- Acho que é de fora, tinha sotaque diferente.
- Será que é solteiro?
- É nada. Um gato daquele não ia ta sozinho nunca!
- Ele pode ser novo na cidade, tem cara de estudante.
- Será gay?
- Não, acho que não. Mas se for, não parece.
Sim porque, em Recife, fora noivo, casado, gay, padre e os mal educados que comem de boca cheia, falam seiscentas, arrotam e peidam sem cerimônia, não sobra nada que se aproveite.
- Acho que é estudante de mestrado vindo de algum lugar.
- Estudante, inteligente e pelo jeito mora só, pois pediu queijo fatiado, sinal de quem não tem empregada e não queria ter trabalho na hora de assar.
Para quem não sabe, queijo coalho só presta assado.
Assim a conversa rendeu por horas a fio.
O fato é que elas chegaram em casa e só então lembraram o feriadão e a falta que o pão que elas esqueceram de comprar faria nos dias seguintes em que tudo era fechado. Mas não pareciam se incomodar, pois o gato da padaria pedindo seiscentos gramas de queijo coalho-fatiado- compensava qualquer necessidade de comer.
Mentira!
Elas cozinharam como nunca, inventaram pratos ótimos e passaram muito bem, mesmo sem pão e sem romance.
Depois Yah comentou que ele poderia ser de fato solteiro e estava em companhia de amigos em um apartamento mal arrumado qualquer ali pertinho.
Eu achei por bem acreditar, considerando a quantidade generosa de pão e queijo comprados a suposição me pareceu apetitosa para uma viagem rápida ao mundo fantástico de bobby.
Eu e Yah tínhamos vasto histórico de romances fracassados parecidos e mesmo não apreciando os aproximados 1.80m de altura do rapaz, era bom imaginar que ele servia para qualquer coisa.
Uma amizade, um rolo e por que não, um namorado?
Que sonho!
Ele era fofo, gentil e doce no modo de falar, não parecia gay e àquela altura do campeonato solitário de nós duas, com a chuva daquele fim de semana tão longo...
O cansaço da busca pelo ideal -inexistente- [bonito, inteligente, pequeno, solteiro, independente e hétero] deu lugar ao essencial.
A importância de ter alguém na vida que (lógico, entre outras virtudes indispensáveis à nossa exigência) naquele momento soubesse apenas pedir por favor 'gentilmente' e falasse: seiscentos gramas.
Haveria de ter no mundo
Um coração completado
Feito o meu com seu.
Se lhe fiz doer algum ponto
Foi porque sou um tonto,
E não lhe soube entender!
Se não se fez explicar,
Venha se pôr em meu lugar
Pra me fazer compreender
Porque de tudo o que saia de tua boca, quando eu lhe ouvia
Era a aurora boreal que me aparecia
Feito mágia suas palavras eu não ouvia. Via cores e tudo em flores...
Fossem xingos, fossem dores
Só podia ver amores por todo o quarto do hotel e todo caminho que andávamos.