Despedida a um Professor Querido
O gato é feliz
O gato assim é feliz
O gato que é feliz
O gato se feiz
O gato mantém sempre feliz
O gato um dia será feliz
O gato desocupado não é feliz
O gato ocupado é feliz
O gato por enquanto é feliz
O gato dez é feliz
O gato segundos não é feliz
Entendeu?
não?
Então leia somente a terceira palavra de cada uma das frases
Acostumamo-nos de tal maneira às coisas corriqueiras da vida a ponto de nos esquecermos de seu Criador
Compactuar ideias, discutir, dialogar, ouvir, sempre é necessário para o aprimoramento da democracia.
Nunca deixe de olhar o simples, aquilo diante de você. Admirar o brotar de um flor, o beija flor, o cheiro da terra, a celebração de um encontro, depois de muito tempo.
Nunca deixe de ter paixão e compaixão do outro. Ame, sempre!
Terra do Nunca
Não preciso explicar aqui que lugar é esse e nem em qual estória ele se encontra, mas vale lembrar que a terra do nunca é uma terra de magia onde quase tudo é possível. Eu acredito que cada pessoa tenha a sua terra do nunca, e quem não tem que arrume uma para si o mais rápido possível, seja ela um lugar, um cômodo de sua casa e até mesmo uma pessoa. Mas qual o objetivo de ter tal lugar em nossas vidas? Começo contando qual era o meu lugar encantado durante a minha tenra idade. Quando eu era criança passava minhas férias na vila de Aturiaí, município de Augusto Corrêa, no mesmo dia que as aulas acabavam eu pegava o ônibus e encarava 30km de estrada esburacada, ônibus ruim e gente fumando dentro do ônibus (nesse tempo ainda se podia fumar nos transportes públicos). Após a aventura que era chegar até lá eu estava no paraíso, seria feliz por um mês inteiro, diversão de graça e por um bom tempo.
Além de reencontrar alguns parentes, você já deve ter ouvido falar que uma viagem não é feita só de lugares, mas sim de pessoas, eu tomaria banho de rio, jogaria bola o dia inteiro, a noite estórias de visagem seriam contadas, muito papo iria rolar. O que mais me impressiona quando as lembranças me veem à cabeça é o quanto demorava para um único dia terminar, acordava, tomava café, e pronto, só precisaria voltar na hora do almoço para casa, nada era programado mas tudo dava certo, nenhum plano era traçado, se tivesse com vontade de pescar, pescava, se tivesse com vontade de jogar bola, o faria, lá na roça a vida passa devagar, e ainda há quem diga que o povo do interior é bobo, com pouca sabedoria, sei não.
Quando voltava pra casa, voltava renovado, parece que aquele mês tinha demorado um ano para passar, mamãe olhava pra mim e dizia; menino, é só você ir pra Aturiaí que vem só pira, eu nem ligava, o pensamento estava longe, na minha terra do nunca.
Fragmento da Eternidade
Depois de ter marcado um encontro com a Márcia, por um desses aplicativo de namoro, fiquei pensando, como hoje em dia expomos nossa vida pra todo mundo, e de graça. Antigamente fazíamos de tudo para manter segredo do que acontecia em nossa vida, tudo era mantido no mais completo sigílo, mas os tempos são outros, fazer o que?
O encontro foi marcado na praia, morar numa cidade onde a praia está à margem tem suas vantagens, eu estava um pouco nervoso, quem não fica nervoso no primeiro encontro? E olha que esse nervosismo é normal quando você já conhece a pessoa, imagina quando só vimos essa pessoa por fotos na internet. Eu sempre me surpreendo quando conheço alguém ao vivo, que antes eu só via nas fotos. Na internet todo mundo é mais bonito, bem resolvido e alto, ao vivo as pessoas são bem menos brilhantes, mais tímidas e menos polêmicas. Fiquei esperando ela chegar sentado no banco da pracinha que faz frente com a praia, eu sempre me acho meio idiota esperando alguém de um encontro que conheci virtualmente, sempre me passa pela cabeça que a pessoa não vai aparecer. Passado uns 5min da hora marcada pude ver a Márcia se aproximando, ela adotara uma postura um pouco curvada, o que mostrava uma pequena timidez logo de início, no ouvido ela trazia uns fones, parece que nesses momentos de nervosismo a música sempre nos ajuda, música tem mesmo esse poder de mudar totalmente o nosso humor. Quanto mais ela se aproximava, mais o meu coração acelerava, por fora eu me mostrava indiferente, por qual motivo resistimos em mostrar nossos sentimentos? Talvez a entrega imediata à uma pessoa desconhecida assusta um pouco e faz a pessoa recuar. Ela finalmente ficou na minha frente, a maçã do seu rosto ficou ruborisada, achei aquilo de um charme que talvez nenhuma palavra conhecida nessa língua poderia explicar, ela se apresentou, eu fiz o mesmo, quando ela me me deu a mão, foi como se um choque percorresse todo meu corpo, decidimos tomar um sorvete, aquele pequeno instante se tornou eternidade e com certeza eu poderia ser feliz com aquele sentimento pelo resto da vida. O que aconteceu depois nem vale à pena contar, a Márcia me fez feliz por um breve fragmento de eternidade que nunca mais esquecerei.
Mesmice
Depois de um determinado tempo, acabamos por notar que os eventos se repetem, não estou falando apenas numa escala anual, mas mensal, semana e quem sabe até diária. Ficamos frente à frente com o marasmo, o comum, o cotidiano em si acaba nos tornando apáticos, é nesse momento que um antigo sonho humano acaba por não fazer muito sentido, o sonho de ser eterno, abandonar a possibilidade de abraçar a morte, a qual nos aguarda de braços abertos, não sabemos onde, não se sabe quando, não parece mais tão atraente. Será que o sentido da vida é escrito em cima do manto efêmero pelo qual a vida foi tecida? Deve ser por esse motivo que os Deuses da mitologia grega sempre são retratados como seres entediados, condenados à eternidade, que acabam encontrando na humanidade uma forma de passar o tempo, experimentando os prazeres humanos, mesmo aqueles os quais não são dignos de orgulho. Altos e baixos, alegrias e tristezas, vida e morte. Será a morte uma dádiva tão grande quanto a vida que nos foi dada? Não sei, deixo a resposta com vocês.
Bolha de sabão
Há quem construa um mundo à parte, cria barreiras, ignora o mundo fora do seu círculo protetor, confeciona um Deus a sua imagem e semelhança, o qual, faz todas as suas vontades, seus caprichos, distorce os fatos, tudo que dentro da bolha entrar se transfigura em fatos que lhe agradam. O medo do mundo lá fora é tão grande, acaba não tentando realizar coisa alguma com medo do fracasso, acaba não correndo com medo de cair, acaba não amando com medo do amor acabar, e de tanto medo de viver, acaba apenas existindo, uma hora a bolha estoura e nossos medos serão expostos, àquele que perde o medo de errar, tem muito mais chance de acabar acertando.
Infância
Um fato importante sobre nós é que todos já fomos criança um dia, pode ser que por algum acaso do destino alguém não se torne adulto, mas já nasce na melhor fase de todas, Deus sabe o que faz. Nascemos com uma dependência total dos outros, mas como tudo na vida, isso tem algum sentido. Somos alimentados, cuidados, banhados e acariciados, mesmo que após alguns anos nossa vida não seja feliz, lá no início, na gênese de cada um provamos do doce fruto do amor, a semente foi plantada, cabe às experiências vividas fazerem a semente florescer ou não. A medida que crescemos, vestimos a roupa de adulto, a criança cada vez mais ficará sufocada em meio a tantas obrigações, a criança fica encarcerada, triste, ela sente saudade do amor que lhe foi dado na infância, mas a criança ainda vive envolta nesse turbilhão de responsabilidades, cabe a cada um deixar a criança sair ou não.
Noite
Durante a noite mil coisas passam em minha cabeça, algumas talvez eu nunca faça, outras eu fiz, outras me arrependo de não ter feito, algumas morro de vontade de fazer, mas me falta coragem, algumas simplesmente deixei pra lá. Imaginar que alguma coisa que eu tivesse feito de forma diferente poderia ter mudado totalmente o que sou hoje, me mostra como a vida é uma trama de escolhas e fatos aleatórios que podem mudar totalmente o produto final, me deixa de certa forma encantado...
Sobre a beleza
Somos felizes por viver numa época onde temos a oportunidade de pausar os afazeres diários e apreciar a beleza da vida. A meu ver, a beleza é a manifestação do trabalho da criação divina, seja a beleza de uma música, da natureza, o cheirinho de terra molhada após uma chuva, a beleza de uma amizade sincera, e por que não?! A beleza de um linda mulher. Impedir alguém de apreciar a beleza da vida deveria ser crime espiritual.
Tempos de criança
Há quem faça pouco caso dos desejos das crianças, eu não, sempre analiso e procuro entender o porquê de alguns anseios infantis. Dizem os psicólogos e psiquiatras que os acontecimentos repercutem por toda a nossa vida e acaba formando nossa personalidade, um dos motivos de tentar entender o que se passa na cabeça dos pequenos é o fato de eu já ter sido criança (claro), e na minha infância tive inúmeros desejos que jamais foram atendidos. Lembro dos tempos de escola, início das aulas pra ser mais exato, ficávamos eufóricos, loucos pra saber qual seria a novidade no nosso material escolar, o que os adultos não sabiam é que a partir desse aparato escolar, faríamos sucesso ou não na nossa turma, um material legal era imprescindível para ser um aluno descolado, um material ruim acabaria com nossa vida social e consequentemente nossa auto-estima. Lá estava eu aguardando o material chegar, chegou, me dei por satisfeito com o material que me foi dado, mas o que pouco sabem é que o demônio mora na comparação. O primeiro dia de aula é especial, tão especial que eu acho que até tomava banho antes de ir para escola. Ao chegar, todos vindo de férias, tanto tempo sem fazer nada que nos fazia até sentir vontades estranhas, como vontade de estudar, por exemplo, vontade a qual não durava mais de uma semana. A tragédia aconteceu, um colega tira um estojo, estojo que me parece mágico na lembrança, cada botão apertado revelava um aparato; borracha, apontador, régua, tesoura, olhei para o meu, feito de tecido, simples, o fecho era apenas um zíper, senti uma tristeza, já era a vontade de estudar. Chegando em casa pedi para comparem um estojo daquele pra mim, que eu precisava dele, sem ele não poderia estudar, ele era peça essencial para o meu aprendizado. Assim que acharmos o estojo compraremos pra você, eles disseram. Em agosto faço 37 anos, até hoje espero o dia de ganhar meu estojinho...