Desespero
Numa profunda angústia
perco-me na imensidão
a tinta flui a minha ausência
e o sono a minha própria negação
mas nesse mundo sem sentido
quanto tempo levara para a celebração
Caminho profundo no abismo
As quatro cadeiras da sala estão prontas para oração
desbotadas as suas fissuras irão ecoar os números
sobre o seu proprietário de coração
numa dança eterna, onde me consolo com a solidão.
Uma luz então surge
e ingenuidade que fica
e o que se reflete no espelho?
Lembrança me traz
cores púrpuras e lilás amarelado brilham em tom fantasiado
parece conseguir cortar o crepúsculo
ressoa então a sentimentalidade
aguardando a verdade que no fundo você sabe.
Mata a fome que te mata
Come o pedaço de pão
Caído no chão e desfigurado
Come aquilo que te come
Às pressas, mas come
Come sem saborear
Apenas ao som do mastigar de pedaços
Com o estalar das mandíbulas desesperadas
E o ranger dos dentes amarelados pelo tempo.
A vida se passa para mim por onde não deveria, é o mal do ano ou mau dos meus dias é a mente que pensa demais e uma vida que cobra demais, mas como digo a vida cobra cobras eu já rastejei por onde deveria andar já piquei quem deveria amar, mas como amo se onde olho vejo verossimilhanças e vendo perdo as esperanças em um mar de mundo é o véu imundo que cobre meus sonhos e se a vida mentir para mim é melhor dar por fim um dia que não teve enfim apenas e somente espinhos e ao pisar entram tão profundamente em minha pele que me repele, é dias atuais tempos banais vidas cabais e poderes reais que não vingam jamais em lugares mortais.
Se você estiver passando por dificuldades, seja quais forem, aprenda com quem já passou pelas mesmas dificuldades. Faça o que é preciso. E mantenha-se confiante!
Melancolia
És linda triste,
Ainda que insiste
A me fazer deprimir,
Reter o meu sorrir!
A pensar me fazer
Que amar é morrer
De desgosto e decepção,
Sem gosto para a paixão
Que nos dilacera o peito
Como uma fera tem feito!
Amarga melancolia,
Larga de apatia,
Longa de temores,
Prolonga as dores
Que em meu seio tenho
E os anseios que venho
Tentando superar,
Procurando achar
Sozinho sem sorrir,
Caminho a se seguir!
Bela tua tristeza;
Singela natureza
De madrugadas insones,
Transformadas em ciclones
De sentimento e emoção
De dentro do meu coração
Pesaroso e sombrio ―
Amoroso, mas frio!
Destrói-me; faz-me chorar!
Corrói-me; traz-me um ar
Pesado sobre a minha mente,
De enfado, e a encobre totalmente,
Desejando tão somente a morte,
Deixando de ser quente e forte!
O riso se transforma em pranto!
Um sorriso se forma no canto
Do rosto, todo ele amarelado
De desgosto do modo levado
Que tenho vivido minha vida!
No cenho abatido, linhas doridas
Tão cedo trazidas de mordaz sentimento!
Coração ledo na lida, mas sem mais alento!
Melancolia que me toma, fazendo triste
Melodia que se forma sendo que inexiste
Agora em mim, esse terrível sentimento!
Hora do fim, desse sensível esgotamento.
Ao se sentir quebrado não se desespere lembre -se que és vaso na mão do oleiro, está sendo remoldado, para se tornar vaso de honra.
Colina
Ela me olhava
Com olhos marejados
Meu coração enganado
No mar se entregou
Vieram as marés
O rugido ufanado
Desse monstro se libertou
Enquanto os sonhos vagavam
A colina tomou para si
Toda perspectiva
Me afogando
Em suas alturas
A visão resoluta
Tomou conta
Sem escapatória
Voltei para dentro
Desespero
O que restou?
Eu e ela aqui
E algo acolá.
Hoje me tranco aqui sentado, sozinho, pensando...
Hoje estão por aí fazendo, cometendo, ouvindo, sorrindo...
Estão por aí correndo, mordendo, mentindo, sofrendo...
Hoje está aí dirigindo, sentindo...
Quero sair pois aqui não me sinto bem
Vendo aí na rua gente feliz, amém
Mas vejo muita gente morrendo também
Vivo cercado do pavor e desespero total
O cara matou mais de 10 dizia o jornal
O dono do bar jogou água no bêbado, vi no local
Esse hoje dorme amargurado, triste, molhado
Ele acordou na madrugada, numa parada
Homens com facas, sorrindo e gritando faziam o mal
Olhou para cima e em um segundo tinha apagado
Onde está o sentido me diz afinal
Vivo cercado
Ela estava desesperada atrás de um novo amor. Ele estava concentrado em destruir seus sentimentos ruins para alcançar o amor próprio.
Não sou de todo escritor mas, na dor, escrevi algo que gostava de partilhar.
Procurar-te-ei dia e noite
até conseguir satisfazer
a eterna agonia que é
não te ter por perto.
Questiono-me se te deveria dizer
que és a razão pela qual são 4 da manhã
e ainda não larguei a caneta. INJUSTO seria
Conversaríamos e, de certo, à conclusão
de que juntos deveríamos estar chegaríamos.
A verdade é que de nada serviria.
Estamos condenados à eterna efemeridade
que é amarmos apenas na solidão.
Quero voltar à minha "lucidez maluca" da infância, quero esconder meus medos de mim mesma, quero camuflar o pavor e o desespero da solidão.
CARAPAÇA
Proteção inócua à mente do guerreiro
Tantos pesos na carapaça da armadura
Para manter hígido o corpo e a matéria
Embora lastimado pelo desespero
Peleia ingrata que só lhe traz amargura
Melhor desertar essa causa deletéria
É um alerta quando tudo é exagero
A temperança há de ser a tua cura
Erradicando qualquer humana miséria.
FRATERNA INANIÇÃO
Ronca a vizinha do umbigo
Na espera dos temperos
Mas quando temos amigos
Jamais chega o desespero
É assim que eu consigo
Ser faminto e austero.
SUFOCO FRAGRANTE
Será possível imaginar
Nalguma situação desastrosa
Em ter um alguém a te admirar
Capaz de dar-te um dedo de prosa
Bem assim como quem rouba o ar
Deixa na alma um cheiro de rosa.
Há uma sombra no palco,
os olhos vazios, o corpo de pedra,
repete as palavras como quem mastiga silêncio,
e a multidão segue, sem ver o caminho.
Há música no ar,
não de flautas,
mas de cordas gastas que rangem,
e eles dançam,
dançam como folhas no vento,
sem perguntar para onde os leva a corrente.
O abismo espera.
As bocas sorriem, as mãos caem,
há corpos que já se foram,
mas ainda seguem os outros,
com o brilho de uma fé cega
ou de um desespero antigo.
Quem os ouve, quem os vê?
Só o vento, que leva tudo
antes da queda final.