Desejo Morte
Pois é na arte
Nas curvas das palavras
Fome obsessão requintada
Que a minha morte se veste de veludo
A ampulheta do esquecimento:
Assim que a morte o alcançar,
A ampulheta do esquecimento passa a despertar,
E sua imagem a se disispar.
Portanto, por que da carência alheia vos se alimentar?
Assim como um condenado marchando para sua execução,
tudo que lhe cerca já está morto e fadado ao sopro da vindoura destruição.
Em vista disso, viva pelo regozijo eterno de seu criador,
Pois, o luto dos seus, não há de ser mais longo que a final caminhada do réu pelo corredor.
A morte faz parte da vida. É a parte mais triste, mas também é muito importante, pois nos dá a chance de lembrar o quanto nossos entes queridos significam pra nós. Por isso, mesmo sendo triste, ainda pode ser bela.
sinto uma falta não sentida
por uma morte já vivida
e que a cada despedida
meu eu desaparecia
é o que eu lembro
é o que sinto
um vazio ao recordar
daquele lindo mar
eu amava olhar para ele, sempre
até me afogar.
Algumas das pessoas que hoje estão no corredor da morte poderiam não estar lá se os tribunais não tivessem sido lenientes com elas enquanto eram rés primárias.
A CARA DA MORTE
Eu vi a cara da morte
Numa certa encruzilhada,
Cangaceira bem armada,
Com faca e foice de corte.
Pude contar com a sorte
Assim que me golpeou,
A bruxa quase acertou
O meu bucho avantajado.
Eu me vi sendo estripado
Quando a dita me ajudou!
Foi encima de um lajedo
Que o pantim aconteceu...
Um calango amigo meu
Tremeu na base do medo,
Mas confiou-me um segredo
Que não conto pra ninguém.
Quando me tornei refém
Da sovina, usei a dica
Do calango, o que explica
Porque me safei tão bem!
Dei-lhe um soco no cachaço,
Que a canguinha escorregou
Do lajedo e mergulhou
Na lama de um riacho,
Não fui conferir, mas acho
Que sumiu dentro do chão
E não volta no Sertão
Enquanto lembrar de mim.
O calango diz que sim
Balançando o cabeção!
O lagarto é um coringa
Colorido da Savana
Nordestina, que esgana
Contorcendo-se com ginga,
Na quentura da Caatinga
É um sábio professor
Pré-histórico, driblador
De instinto muito forte,
Que sabe enganar a morte
Camuflado, sem odor!
Peguei-me calangueando
Quando ainda era menino,
Na pedreira do destino
Fui um brincante, laçando
Lagartixas e levando
Pra brincar no meu quintal,
E depois, sem fazer mal,
Eu as deixava ir embora.
Esse bom tempo de outrora
Para mim não foi banal!
Que cá não monte trincheiras,
A morte. E não me visite
Tão cedo, e nem apite
Nunca mais pelas ribeiras
De Sapé a Cabaceiras,
Do Anel do Brejo ao Sertão,
Fique lá pelo Japão...
Deixe, eu dormir no terreiro
Na sombra do juazeiro
Em minha esteira, no Chão!
Morri, de "morte matada".
Fui pra bem longe disso tudo. Bloqueando minha mente para não pensar muito. Melhor era fingir demência, como se nada tivesse acontecido.
"Estou bem, não foi nada."
Foi só uma brincadeira de mal gosto.
Pra mim não foi real.
É o desconhecido que receamos quando olhamos para a morte e a escuridão, nada mais.
De vez em quando
É um efeito colateral
A morte salivando como se eu fosse seu prato principal
As sombras chamam meu nome
Meu outro lado está com fome.
Mentiu quem disse que ele havia morrido
Meu lado poético só estava adormecido
Às vezes deixo ele passear
Um minuto longe do cárcere para respirar.
Logo ele dormirá
Mas antes, no papel, ele rabiscará
Irá descrever todas as confusões dentro do meu ser
Vai ser assim até o dia que cada célula do meu corpo apodrecer.