Depois

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Filho é Bom, Mas Dura Muito

— Aproveita agora, porque, depois que o seu filho nascer você nunca mais vai ter sossego na vida. Você nunca mais vai dormir.

— Aproveita agora, que ele ainda não tem cólicas noturnas e ainda mama nas horas certas, porque depois a sua vida se transformará num verdadeiro inferno noturno.

— Aproveita agora, que os dentinhos dele não começaram a nascer e, quando isso acontecer não vai ter Nenedent que acalme nem ele nem você.

— Aproveita agora, enquanto ele não engatinha, porque, quando começar a arrasar a casa e a derrubar cadeiras e bibelôs e lustres e a comer jornal, só vai dar dor de cabeça.

— Aproveita agora, antes que ele comece a andar. Aí acaba o sossego. É o perigo de ele bater a cabeça nas quinas das mesas, cair e meter a boca no chão, puxar panela no fogão. É um transtorno, filho andando. Ele correndo pela casa e você atrás.

— Aproveita agora, enquanto ele ainda não está na fase do "Por quê?", porque depois você não vai conseguir ler nem jornal nem livro e nem ver televisão. E vai ter que explicar sempre o inexplicável.

— Aproveita agora, que ele ainda não sabe ler e pedir o que quiser no restaurante. A única vantagem é você não precisar ficar traduzindo os filmes para ele.

— Aproveita agora, enquanto você programa as férias dele e ele ainda não ouviu falar no Disneyworld, porque você vai ter que pegar filas de duas horas e enfrentar montanhas-russas no escuro.

— Aproveita agora, que ele ainda não é tarado por música, porque, quando ele resolver ouvir "música" na sua casa — com ou sem os amigos —, até os vizinhos mais simpáticos irão reclamar. E não pense que ele vai tocar aquelas músicas do seu tempo, não.

— Aproveita agora, que ele ainda não entrou na adolescência. Pois, quando entrar, você nunca mais vai ter sossego, nunca mais vai dormir Não se esqueça da íntima relação entre a palavra adolescência e adoecer. Não ele, mas, sim, você.

— Aproveita agora, que ele ainda não está nem fumando maconha e nem acabando com o seu uísque e aquela cervejinha que você tinha certeza que estava na geladeira te esperando do trabalho.

— Aproveita agora, que ele ainda não está andando em más companhias, porque você vai ter que aturar figuras saídas sabe-se lá de onde, com cabelos, brincos e tatuagens que você jamais poderia imaginar um dia conviver.

— Aproveita agora, que ele ainda não tomou nenhuma bomba e você ainda acha que ele é tudo que você sonhou, porque, quando ele repetir de ano, você fará — para você mesmo — a eterna pergunta: "Meu Deus, onde foi que eu errei?".

— Aproveita agora, que ele ainda não decidiu que faculdade cursar porque a escolha dele não vai nunca coincidir com os planos que você fazia para ele, quando ele ainda engatinhava.

— Aproveita agora, que ele ainda não entrou na faculdade, porque, quando entrar, vai pedir um carro para ele ou usar o seu.

— Aproveita agora, que ele ainda avisa quando vai dormir fora de casa, e você pode dormir sossegado e não pensar em ligações desagradáveis para a polícia, o hospital e, o pior de tudo, para o IML.

— Aproveita agora, que ele ainda não se casou, porque, depois, ele nunca mais vai te visitar a não ser para pedir dinheiro emprestado.

— Aproveita agora, enquanto ele ainda não tem filhos, porque, quando tiver, é você quem vai tomar conta deles nos fins de semana. Seu sossego chegará ao fim, logo agora que você se aposentou.

— Aproveita agora, que ele ainda não se separou da primeira esposa, pois, quando isso acontecer, ele virá morar novamente na sua casa.

— Aproveita agora, que ele ainda te ajuda com um dinheirinho, porque a sua aposentadoria não dá para nada, pois a segunda mulher dele vai ser contra a ajuda.

— Aproveita agora, porque ele está pensando em te colocar num asilo de velhinhos.

P.S. - A frase do título é do Marcelo von Zuben, dentista brasileiro que mora em Portugal, pai do Murilo e da Úrsula.

Texto extraído do livro "100 Crônicas", Cartaz Editorial Ltda. - São Paulo, 1997, pág. 15.

Mario Prata
PRATA, M. 100 Crônicas. Cartaz Editorial Ltda: São Paulo. 1997. p. 15

Depois de tanto tempo eu fui entender que nada é pra sempre, que a gente só dá valor quando perde realmente, que não existe destino, porque se você mudar uma peça do seu presente, ela pode mudar todo o seu futuro, e que não adianta a gente lamentar pelo que não fez, e se arrepender do que fez, de nada vale isso, você vai sofrer, se martirizar por um bom tempo, ou talvez pra sempre, mas com certeza isso não vai edificar nada na sua vida, só vai te fazer lembrar coisas que não te fazem bem, e que não vão fazer você evoluir... e a vida é uma escada sem fim, às vezes você desce, às vezes você sobe, e às vezes você fica parada atrapalhando quem quer passar por ela. Por isso, não olhe pra trás com medo da altura que você está, mas olhe com bons olhos de quem já subiu tudo isso, talvez você tenha tropeçado em vários degraus, porém, você está aí de pé, e é isso que importa, então, espere sempre de si mesmo, nunca espere dos outros, muitos vão passar na sua vida, uns vão te ferir, outros vão te perdoar, outros vão te fazer feliz como ninguém, mas de qualquer maneira temos que pensar que todos nós somos diferentes, erramos, agimos às vezes de uma forma muito precipitada, ou às vezes demoramos tanto a perceber as coisas que elas passam, e a gente só as nota depois, perdemos tantas coisas por medo, às vezes por indecisão, talvez você não dê valor, mas uma palavra faz você perder toda uma oportunidade, às vezes por causa de uma pedrinha na estrada, você perde toda a sua caminhada. Existem muitas pessoas que têm medo do que é novo, pois sempre estão acostumadas a viver na rotina, e isso não é bom. Você precisa viver seu presente, que já tá virando futuro, se você não tentar se libertar do seu passado, você nunca vai saber o que é novo. Precisamos mudar nosso jeito de ser. As pessoas dizem que um olhar às vezes diz tudo, realmente diz, mas de vez em quando é bom falar o que você sente, o que você pensa, talvez a pessoa compreenda um olhar de outra forma e seja pior, então diga o que sente, não esconda, e principalmente, diga as coisas de acordo com os seus atos, não dá pra viver uma brincadeira, a vida é realidade, não podemos deixar a vida ir acontecendo, porque quem faz a vida somos nós, tudo depende de uma escolha nossa. Podemos pensar que a consequência pode não ser boa, mas se não agirmos, como vamos saber? A vida é tão simples, se a gente não complicasse tanto, ela iria ser perfeita, mas não, todos sempre querem "bater de frente", não concordar com os outros. Será que você pensa que isso vai trazer boas coisas pra você? Não! Não vai, e um dia você irá lembrar disso tudo e vai se perguntar por que não agiu diferente, só que infelizmente o tempo passa, talvez ainda haja tempo, talvez seja tarde demais. Mas a vida é feita de momentos, cada momento, seja ele feliz, triste, de estresse, ou de muita calma, não importa, ele pode até se repetir, mas nunca será como aquele que já aconteceu e você passou um dia. Não trate o seu próximo com indiferença, eu duvido que você goste de ser tratado da mesma forma! Seja humilde o bastante pra assumir seus fracassos, e pedir perdão, mas também não se humilhe, não use o passado de exemplo para o seu presente, o passado tem motivos pra não fazer parte dele, não passe um corretivo na sua história, porque sempre sobram restos, apague ele de vez, perdoe todos, assim como você gosta quando te perdoam, não julgue, não aponte o erro do seu próximo, apenas diga a verdade, diga o que acha sobre a situação, e ajude ele a mudar, não faça fofoca, a verdade sempre aparece, e quem não vai ficar bem nessa história é você, não se intrometa nos segredos dos outros, se ele te contou é porque confia em você, e não quer que ninguém mais saiba, você vai espalhar para quê?

Isso nunca vai te fazer crescer! Envelhecer não quer dizer experiência, às vezes a pessoa passa por várias coisas e nunca aprende, e outras que talvez tenha passado só por uma delas, aprende e muda! A vida passa rápido, e você não tem outra oportunidade pra fazer diferente, por isso existem momentos únicos e inesquecíveis, existem coisas em que você jamais vai se esquecer, e outras que vão passar e sumir da sua mente. Se pôr em primeiro lugar não é egoísmo, gostar de uma mesma coisa nem sempre é invejar. Fracassar é melhor que não tentar, escutar não é ouvir, falar não é dizer, olhar não é ver, tudo tem seus dois lados, como o bem e o mal, e a escolha é totalmente sua! Muitas coisas provêm do amor, mas o amor não é tudo! Há muitas outras coisas no caminho, tanto quanto importante! Enfim, sonhe, estabeleça metas, diga o que quer dizer independente da pessoa gostar ou não, seja sincero, e nunca deixe de fazer nada por medo, ou por indecisão, você só vai descobrir se tentar, aguente as consequências de cada escolha que fizer, e não tema a NADA e nem a NINGUÉM! Na bíblia está escrito "não temas" 365 vezes, uma pra cada dia. Quem acredita, confia, e apesar de todos os problemas da vida, você tem que VIVER e não apenas EXISTIR!

Para se fundar uma religião é preciso primeiro morrer e depois ressuscitar, a primeira eu não quero, a segunda eu não posso

Eu senti que era amor quando depois do "boa noite" havia uma vontade incontrolável de dizer "eu te amo".

Funcionários públicos nunca devem tomar café depois do almoço. Faz com que percam o sono à tarde.

"Goste de alguém que volte pra conversar com você depois das brigas, depois do desencontro.De alguém que caminhe junto a ti, que seja companheiro, que respeite tuas fantasias, tuas ilusões.Goste de alguém que te ame.Não goste apenas do amor.Goste de alguém que sinta o mesmo por você."

Mulheres

Como as mulheres são lindas!
Inútil pensar que é do vestido...
E depois não há só as bonitas:
Há também as simpáticas.
E as feias, certas feias em cujos olhos vejo isto:
Uma menininha que é batida e pisada e nunca sai da cozinha.

Como deve ser bom gostar de uma feia!
O meu amor porém não tem bondade alguma.
É fraco! Fraco!
Meu Deus, eu amo como as criancinhas...

És linda como uma história da carochinha...
E eu preciso de ti como precisava de mamãe e papai
(No tempo em que pensava que os ladrões moravam no morro atrás de casa e tinham cara de pau)

Manuel Bandeira
BANDEIRA, M., Libertinagem, 1930

Na escola, você recebe a lição e depois faz a prova. Na vida, você faz a prova e depois recebe a lição.

As coisas mudam...
Depois de um tempo você começa a perceber que nada nessa vida é pra sempre e que tudo pode de alguma forma ser mudado, percebe também que as pessoas mudam, que os pensamentos mudam, e que se você não mudar, a vida muda você, porque tudo o que fazemos, sentimos ou queremos nem sempre são do jeito que havíamos planejado. Basta olhar ao redor pra notar que nada é do jeito que você quis, não foi feito igual ao imaginado, vai ser sempre diferente, sempre de outra forma, vai ver que é modificado, vai querer fazer de novo, e vai mais uma vez se surpreender.
Percebi hoje que eu tenho planos, mais que não dependem eles somente de mim, mais sim de um destino... destino este que nem eu nem você e nem ninguém tem idéia de como vai ser, pois a cada segundo que passa, tudo esta diferente do que já foi e nunca mais vai ser de novo igual como a esse momento. Quero então deixar acontecer, claro que se necessário vou dar uma força pras coisas ficarem parecidas do jeito que imaginei, do jeitinho que eu esperava que fosse, me assusto comigo o tempo todo, pois tenho sonhos, desejos, vontades, e principalmente atitudes que não estavam marcados, planejadas, ou esperadas.
Já me peguei pensando em você quando disse que nunca mais isso ia acontecer,
ja jurei de mentira, já briguei pra valer e segundos depois me arrependi e chorei de soluçar, já disse nunca mais ... e nunca mais vou dizer isso de novo, porque eu me conheço, “não”, não posso dizer que me conheço que estaria mentindo pra mim mesma, eu não sei quem sou, não sei como vou estar daqui 5 minutos , não sei como vou acordar amanhã, nem sei se vou ter paciência de escrever isso, ta bem vou tentar... Sofro de ansiedade, odeio esperar, detesto ter que ficar sentada esperando alguém.
Mas como as coisas são engraçadas, da mesma forma que eu odeio esperar, também adoro ser esperada, saber que tem alguém la fora me aguardando ansioso, na expectativa de me ver, de quando eu sair me olhar e me achar linda, esse é você , esse é o homem que eu desejei conhecer, nem sei se ainda existem os tais cavalheiros, ou se já existiram em alguma época da história mas quando você segura meu braço, abre a porta do carro, depois fecha pra mim, me protege com teu abraço quando eu digo estar sentindo frio é maravilhoso a maneira como me protege em teu colo e me aquece, esse teu jeito, tuas ,maneiras, esse é você , esse é o cara que eu perdi, mais que pode voltar, o cara que não me atende, mas que ainda pensa em mim, ainda me deseja, e mesmo que tenha outras mulheres, vez ou outra vai se lembrar dessa maluca que sou, dessa mulher com jeito de menina, dessa louca com sorriso de anjo, nunca vai esquecer que um dia me conheceu, porque quando eu estiver apagada da tua memória, vai encontrar comigo por aí, em algum canto da cidade, em uma rua qualquer, no meio de uma festa, dentre a multidão talvez, vai nessa hora perceber que estou diferente, mais que o meu olhar e o meu sorriso continua igual, talvez vai desejar me ter em teus braços outra vez, vai querer nesse dia ouvir minha voz, sentir meu perfume, ou mesmo somente minha companhia pra bebermos aquele vinho que nós dois tanto gostamos, e lwmbrar das coisas que eu te dizia e você ria muito do meu jeito de contar piadinhas sem graça, gostava do meu medo quando eu pedia pra você não furar o sinal, quando eu com jeito bobo te mandei flores o dia todo, e você desde a primeira já sabia que era eu... e que por mais que me esqueça vai lembrar que eu era apaixonada por você, e quando acontecer de me encontrar por aí vai ver que eu já não fico trêmula por te encontrar, e dessa vez vou sorrir naturalmente e te dar aquele "oi" sem mágoas, e vai sentir que de mim nada conheceu , vai sentir vontade de falar comigo, mas dessa vez estarei sem tempo pra ti, vai sentir medo, o mesmo medo que eu senti quando eu te perdi...vou continuar a ser eu mesma, mas diferente daquela que já chorou por você, porque já me livrei desse sentimento que tanto me fez sofrer. E vou ser feliz enquanto você procura um jeito de me reconquistar, infelismente vai ser em vão, eu já estou curada dessa dor, e por amor não sofro mais, porque as coisas mudam, a vida muda e eu mudei...agora mude você também.

O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim, esquenta e esfria, aperta e depois afrouxa e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre e amar, no meio da tristeza. Todo caminho da gente é resvaloso, mas cair não prejudica demais. A gente levanta, a gente sabe, a gente volta.

Tortura

Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
– E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento! ...

Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
– E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento ...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

Amor foi feito para amar
Perdão foi feito pra se dar
Não semeie pra colher depois, o tal ressentimento.

É preciso primeiro encontrar, depois cortar, para chegar à carne nua da emoção.

Eu vou pegar um tijolo e nesse tijolo eu vou escrever 'saudade', depois vou pegar esse tijolo e vou jogar na sua cara, pra você ver o quanto a saudade dói...

Depois de uma sexta-feira da Paixão sempre vem um sábado de pé na bunda.

Aula de piano

Depois do almoço na sala vazia
A mãe subia pra se recostar
E no passado que a sala escondia
A menininha ficava a esperar
O professor de piano chegava
E começava uma nova lição
E a menininha, tão bonitinha
Enchia a casa feito um clarim
Abria o peito, mandava brasa
E solfejava assim:

Ai, ai, ai
Lá, sol, fá, mi, ré
Tira a não daí
Dó, dó, ré, dó, si
Aqui não dá pé
Mi, mi, fá, mi, ré
E agora o sol, fá
Pra lição acabar

Diz o refrão quem não chora não mama
Veio o sucesso e a consagração
Que finalmente deitaram na fama
Tendo atingido a total perfeição
Nunca se viu tanta variedade
A quatro mãos em concertos de amor
Mas na verdade tinham saudade
De quando ele era seu professor
E quando ela, menina e bela
Abria o berrador
Ai, ai, ai,
Lá, sol, fá, mi, ré

Vinicius de Moraes
Álbum "A arca de noé"

Nota: Música composta por Vinicius de Moraes e Toquinho

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O amor impossível é o verdadeiro amor

Outro dia escrevi um artigo sobre o amor. Depois, escrevi outro sobre sexo.

Os dois artigos mexeram com a cabeça de pessoas que encontro na rua e que me agarram, dizendo: "Mas... afinal, o que é o amor?" E esperam, de olho muito aberto, uma resposta "profunda". Sei apenas que há um amor mais comum, do dia-a-dia, que é nosso velho conhecido, um amor datado, um amor que muda com as décadas, o amor prático que rege o "eu te amo" ou "não te amo". Eu, branco, classe média, brasileiro, já vi esse amor mudar muito. Quando eu era jovem, nos anos 60/70, o amor era um desejo romântico, um sonho político, contra o sistema, amor da liberdade, a busca de um "desregramento dos sentidos". Depois, nos anos 80/90 foi ficando um amor de consumo, um amor de mercado, uma progressiva apropriação indébita do "outro". O ritmo do tempo acelerou o amor, o dinheiro contabilizou o amor, matando seu mistério impalpável. Hoje, temos controle, sabemos por que "amamos", temos medo de nos perder no amor e fracassar na produção. A cultura americana está criando um "desencantamento" insuportável na vida social. O amor é a recusa desse desencanto. O amor quer o encantamento que os bichos têm, naturalmente.
Por isso, permitam-me hoje ser um falso "profundo" (tratar só de política me mata...) e falar de outro amor, mais metafísico, mais seminal, que transcende as décadas, as modas. Esse amor é como uma demanda da natureza ou, melhor, do nosso exílio da natureza. É um amor quase como um órgão físico que foi perdido. Como escreveu o Ferreira Gullar outro dia, num genial poema publicado sobre a cor azul, que explica indiretamente o que tento falar: o amor é algo "feito um lampejo que surgiu no mundo/ essa cor/ essa mancha/ que a mim chegou/ de detrás de dezenas de milhares de manhãs/ e noites estreladas/ como um puído aceno humano/ mancha azul que carrego comigo como carrego meus cabelos ou uma lesão oculta onde ninguém sabe".

Pois, senhores, esse amor existe dentro de nós como uma fome quase que "celular". Não nasce nem morre das "condições históricas"; é um amor que está entranhado no DNA, no fundo da matéria. É uma pulsão inevitável, quase uma "lesão oculta" dos seres expulsos da natureza. Nós somos o único bicho "de fora", estrangeiro. Os bichos têm esse amor, mas nem sabem.

(Estou sendo "filosófico", mas... tudo bem... não perguntaram?) Esse amor bate em nós como os frêmitos primordiais das células do corpo e como as fusões nucleares das galáxias; esse amor cria em nós a sensação do Ser, que só é perceptível nos breves instantes em que entramos em compasso com o universo. Nosso amor é uma reprodução ampliada da cópula entre o espermatozóide e óvulo se interpenetrando. Por obra do amor, saímos do ventre e queremos voltar, queremos uma "reintegração de posse" de nossa origem celular, indo até a dança primitiva das moléculas. Somos grandes células que querem se re-unir, separados pelo sexo, que as dividiu. ("Sexo" vem de "secare" em latim: separar, cortar.) O amor cria momentos em que temos a sensação de que a "máquina do mundo" ou a máquina da vida se explica, em que tudo parece parar num arrepio, como uma lembrança remota. Como disse Artaud, o louco, sobre a arte (ou o amor) : "A arte não é a imitação da vida. A vida é que é a imitação de algo transcendental com que a arte nos põe em contato." E a arte não é a linguagem do amor? E não falo aqui dos grandes momentos de paixão, dos grandes orgasmos, dos grande beijos - eles podem ser enganosos. Falo de brevíssimos instantes de felicidade sem motivo, de um mistério que subitamente parece revelado. Há, nesse amor, uma clara geometria entre o sentimento e a paisagem, como na poesia de Francis Ponge, quando o cabelo da amada se liga aos pinheiros da floresta ou quando o seu brilho ruivo se une com o sol entre os ramos das árvores ou entre as tranças da mulher amada e tudo parece decifrado. Mas, não se decifra nunca, como a poesia. Como disse alguém: a poesia é um desejo de retorno a uma língua primitiva. O amor também. Melhor dizendo: o amor é essa tentativa de atingir o impossível, se bem que o "impossível" é indesejado hoje em dia; só queremos o controlado, o lógico. O amor anda transgênico, geneticamente modificado, fast love.

Escrevi outro dia que "o amor vive da incompletude e esse vazio justifica a poesia da entrega. Ser impossível é sua grande beleza. Claro que o amor é também feito de egoísmos, de narcisismos mas, ainda assim, ele busca uma grandeza - mesmo no crime de amor há um terrível sonho de plenitude. Amar exige coragem e hoje somos todos covardes".

Mas, o fundo e inexplicável amor acontece quando você "cessa", por brevíssimos instantes. A possessividade cessa e, por segundos, ela fica compassiva. Deixamos o amado ser o que é e o outro é contemplado em sua total solidão. Vemos um gesto frágil, um cabelo molhado, um rosto dormindo, e isso desperta em nós uma espécie de "compaixão" pelo nosso desamparo.

Esperamos do amor essa sensação de eternidade. Queremos nos enganar e achar que haverá juventude para sempre, queremos que haja sentido para a vida, que o mistério da "falha" humana se revele, queremos esquecer, melhor, queremos "não-saber" que vamos morrer, como só os animais não sabem. O amor é uma ilusão sem a qual não podemos viver. Como os relâmpagos, o amor nos liga entre a Terra e o céu. Mas, como souberam os grandes poetas como Cabral e Donne, a plenitude do amor não nos faz virar "anjos", não. O amor não é da ordem do céu, do espírito. O amor é uma demanda da terra, é o profundo desejo de vivermos sem linguagem, sem fala, como os animais em sua paz absoluta. Queremos atingir esse "absoluto", que está na calma felicidade dos animais.

Arnaldo Jabor
"Amor é prosa, sexo é poesia"

Mas depois que sonhei com você, sonho esse que estou quase me convencendo que foi o meu subconsciente, me dizendo que eu não me curei porra nenhuma e que eu amo você de uma maneira incrível e contraditória.

Tati Bernardi

Nota: Trecho de Link

Juízes 4

Débora

1 Depois da morte de Eúde, mais uma vez os israelitas fizeram o que o Senhor reprova.
2 Assim o Senhor os entregou nas mãos de Jabim, rei de Canaã, que reinava em Hazor. O comandante do seu exército era Sísera, que habitava em Harosete-Hagoim.
3 Os israelitas clamaram ao Senhor, porque Jabim, que tinha novecentos carros de ferro, os havia oprimido cruelmente durante vinte anos.
4 Débora, uma profetisa, mulher de Lapidote, liderava Israel naquela época.
5 Ela se sentava debaixo da tamareira de Débora, entre Ramá e Betel, nos montes de Efraim, e os israelitas a procuravam, para que ela decidisse as suas questões.
6 Débora mandou chamar Baraque, filho de Abinoão, de Quedes, em Naftali, e lhe disse: "O Senhor, o Deus de Israel, ordena a você que reúna dez mil homens de Naftali e Zebulom e vá ao monte Tabor.
7 Ele fará que Sísera, o comandante do exército de Jabim, vá atacá-lo, com seus carros de guerra e tropas, junto ao rio Quisom, e os entregará em suas mãos".
8 Baraque disse a ela: "Se você for comigo, irei; mas, se não for, não irei".
9 Respondeu Débora: "Está bem, irei com você. Mas saiba que, por causa do seu modo de agir, a honra não será sua; porque o Senhor entregará Sísera nas mãos de uma mulher". Então Débora foi a Quedes com Baraque,
10 onde ele convocou Zebulom e Naftali. Dez mil homens o seguiram, e Débora também foi com ele.
11 Ora, o queneu Héber se havia separado dos outros queneus, descendentes de Hobabe, sogro de Moisés, e tinha armado sua tenda junto ao carvalho de Zaanim, perto de Quedes.
12 Quando disseram a Sísera que Baraque, filho de Abinoão, tinha subido o monte Tabor,
13 Sísera reuniu seus novecentos carros de ferro e todos os seus soldados, de Harosete-Hagoim ao rio Quisom.
14 E Débora disse também a Baraque: "Vá! Este é o dia em que o Senhor entregou Sísera em suas mãos. O Senhor está indo à sua frente!" Então Baraque desceu o monte Tabor, seguido por dez mil homens.
15 Diante do avanço de Baraque, o Senhor derrotou Sísera e todos os seus carros de guerra e o seu exército ao fio da espada, e Sísera desceu do seu carro e fugiu a pé.
16 Baraque perseguiu os carros de guerra e o exército até Harosete-Hagoim. Todo o exército de Sísera caiu ao fio da espada; não sobrou um só homem.
17 Sísera, porém, fugiu a pé para a tenda de Jael, mulher do queneu Héber, pois havia paz entre Jabim, rei de Hazor, e o clã do queneu Héber.
18 Jael saiu ao encontro de Sísera e o convidou: "Venha, entre na minha tenda, meu senhor. Não tenha medo!" Ele entrou, e ela o cobriu com um pano.
19 "Estou com sede", disse ele. "Por favor, dê-me um pouco de água." Ela abriu uma vasilha de leite feita de couro, deu-lhe de beber, e tornou a cobri-lo.
20 E Sísera disse à mulher: "Fique à entrada da tenda. Se alguém passar e perguntar se há alguém aqui, responda que não".
21 Entretanto, Jael, mulher de Héber, apanhou uma estaca da tenda e um martelo e aproximou-se silenciosamente enquanto ele, exausto, dormia um sono profundo. E cravou-lhe a estaca na têmpora até penetrar o chão, e ele morreu.
22 Baraque passou à procura de Sísera, e Jael saiu ao seu encontro. "Venha", disse ela, "eu mostrarei a você o homem que você está procurando." E entrando ele na tenda, viu ali caído Sísera, morto, com a estaca atravessada nas têmporas.
23 Naquele dia, Deus subjugou Jabim, o rei cananeu, perante os israelitas.
24 E os israelitas atacaram cada vez mais a Jabim, o rei cananeu, até que eles o destruíram.

Libertar uma pedra nada significa se não existir gravidade. Porque a pedra, depois de liberta, não iria a parte nenhuma.